17 de agosto de 2025

Os velhos ventos de agosto

Márcio Simeone
Cadeira n.º 8
 

Na minha terra, agosto é vento antigo que guarda os tempos e os segredos, mas que anuncia novo ciclo. São os ventos de agosto mais que brisas. Ainda atados ao frio do inverno, já ensaiam o clima cálido de primavera. Sopram lembranças, meio tristes, meio alegres, de tempo que passa e consome o ano novo que ainda ontem brindamos. Bailam contentes sobre as montanhas, deslizam frementes sobre os telhados, penetram licenciosos pelas frestas das janelas com leve assobio para dizer coisas só aos meus ouvidos, fingindo intimidade. Desde menino acredito que, quando sopram mais forte, é para levar pra longe o desgosto e uma rima infeliz. Elevado e nobre, mas com um dia furtado, meu agosto é augusto, ventoso e venturoso, ambíguo como esses ventos que me dizem oi e adeus, me importunam e acariciam. No meu agosto o ar é vida, passagem e saudade.

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Imagem: gerada por ferramenta de IA 

Um comentário:

  1. Ah, Márcio!! Que delícia de texto! Que a gente colha cada dia deste mês em que os ventos concedem ânima aos mensageiros pendurados nas varandas e despem os ipês para cobri-los do mais vivo amarelo.

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