domingo, 30 de junho de 2019

LEMBRANÇAS!

Aílton José Ferreira
Cadeira n.º  17


LEMBRANÇAS não é apenas o passado, mas aquilo que passou diante de nossos olhos e ficou marcado em nossas almas!

LEMBRANÇAS são coisas que fizemos e percebemos que marcou nossas vidas e nos fez crescer, e não nos esquecer!

LEMBRANÇAS é tudo o que não fizemos e poderíamos ter feito, se a infantilidade e a insegurança não fossem mais fortes que o desejo!

LEMBRANÇAS são marcas, cicatrizes de uma vida de lutas, sofrimentos, derrotas e vitórias, mas de crescimento espiritual!

LEMBRANÇAS são fases da vida que ficam para traz, mas que a cada fase a sabedoria adquirimos!

LEMBRANÇAS são sonhos de verão, que o Sol fez brilhar e a Lua nos fez sonhar!

LEMBRANÇAS são acasos e descasos, mas que engrandecem e nos enaltecem!

LEMBRANÇAS são o ontem que já passou, é o hoje que está passando, é o amanhã que já pensamos!

LEMBRANÇAS são o pensar para não errar, é o lembrar do que já está!

LEMBRANÇAS são histórias para contar, que nos dá prazer de escutar, e fazer o mundo se encantar!           

LEMBRANÇAS são o que não contamos, mas nos lembramos e por isso lutamos!

LEMBRANÇAS são o lembrar de amar e de estar, e não só de ficar, mas sim de se apaixonar!

LEMBRANÇAS são todos os dias de que Deus existe, e com Ele nos resiste sempre à vontade de vivermos!

LEMBRANÇAS são objetivos e ideais que lutamos, e quando alcançamos nossos sonhos realizamos! 

LEMBRANÇAS é vontade de sonhar sempre, de fantasiar frequente, de se extasiar permanentemente e de sentir prazer frequentemente com a pessoa que você tem em mente e que está ao seu lado eternamente!                          
 
                        QUE DEUS ABENÇOE A TODOS!

domingo, 16 de junho de 2019

Eu queria muito ser o cachorro da minha casa

Carmélia Cândida
Cadeira n.º 2



Eu queria muito ser o cachorro da minha casa. Primeiro, tenho que dizer que sou doida com ele. Todo o mundo, lá em casa, é. Ele é tão fofinho, tão lindo, carinhoso e alegre. Quando eu não tenho nada pra fazer, eu costumo ficar imaginando as coisas, é gostoso porque, no meu pensamento, elas acontecem do jeitinho que eu quero, e eu me sinto muito bem. Eu fico pensando, nessas horas, que eu poderia ser o Charles (Charles é o nome do nosso cachorro). Não o tempo todo, mas nos fins de semana, por exemplo, que é quando minha mãe fica mais em casa.

Eu iria divertir toda a família, fazer gracinhas, e “eu”, meu irmão, meu padrasto e minha mãe brincariam comigo. Fico vendo o carinho que minha mãe tem com Charles. Quando o assunto é ele, ela nem parece minha mãe. Tem a maior paciência. Ela até xinga ele se ele faz alguma coisa errada, como entrar com as patas sujas dentro de casa e sujar tudo, mas não é como xinga a mim e a meu irmão, é com jeito. Com a gente, ela grita tanto que dá até tristeza. Se a gente pisa na sala enquanto ela está limpando, Deus me livre, ela expulsa a gente, aos gritos.

Quando eu digo que queria ser o Charles, eu não estou brincando, falo muito sério. Para vocês terem uma ideia, minha mãe chama o Charles de “bebê da mamãe”, e ele nem é mais um bebê (e ela é lá mãe de cachorro?). Ela diz para ele coisas do tipo “você é lindo demais, a mamãe ama muito você”. Imaginem! Ela, que nunca diz coisas desse tipo para mim ou meu irmão, que somos seus filhos. Se eu preciso de ajuda para fazer os deveres da escola e estou com dificuldade, ela fica dizendo “A Alice (eu) é burra demais, ô menina burra, ela não entende as coisas”, e fica nervosa. Mas a pior coisa que ela diz para o Charles, na minha opinião, é “você é o amor da minha vida”. Repararam? “O” amor da vida dela. Como pode isso? Ela tem filhos, marido, pai, mãe, avós, amigos, e o cachorro é quem é o amor da vida dela. Não entendo.

A mim, minha mãe raramente faz um elogio. Um carinho ou um mimo? Não é bem o estilo dela. Antes, quando ela chegava do trabalho, a gente corria para ela, queria abraçar, ficar perto, sentar no colo. Mas ela nos afastava, irritada, dizendo “Ah, não! Eu estou morrendo de cansaço, pelo amor de Deus!”. Agora a gente nem faz muito isso, só quando a saudade dela aperta demais. Mas, quando ela vê o Charles, é diferente, se derrete toda, ri para ele, pega ele no colo, aconchega-o nela e por aí vai.

Eu entendo que minha mãe trabalha muito para dar o melhor para a gente, como ela diz. Ela reclama que está sempre ocupada e nunca tem tempo para nada. Mas, nos finais de semana, passa um tempo enorme cuidando do Charles, dá banho demorado, enxuga-o, seca seus pelos no secador, penteia-o e depois ainda fica com ele no colo um tempão, como se fosse um nenê mesmo. É até bonito vê-la quando ela está fazendo isso, pois ela parece tão leve e feliz, e parece gostar mesmo desses momentos com o Charles. Não achem que é puro ciúmes da minha parte, eu só queria ser um pouco tratada como ela trata o cachorro... e sonho com um dia em que ela possa brincar comigo, como a mãe da Cecília, minha amiga, brinca com ela. Nesse dia, eu vou lhe dar um beijo e lhe dizer, sorrindo (e sem medo de irritá-la): “você é a melhor mãe do mundo, eu te amo”!

Eu amo muito a minha mãe e vou amar ela para sempre. E gosto muito do Charles também. Fico feliz que ele esteja conosco e que ela seja carinhosa com ele. Ainda bem que ela gostou dele desde o início e o aceitou. Mas, por mais que eu goste do Charles, para mim, ele é um cachorro e não gente. Merece carinho, cuidados, atenção, mas cachorro deve ser tratado como cachorro, e gente deve ser tratada como gente.

Talvez eu esteja sendo injusta com minha mãe. Talvez eu esteja querendo mais do que ela pode dar. Talvez eu seja mesmo chata e cansativa. Mas pode ser também que eu seja só uma criança que não tem culpa de nada. Ou pode não ser nada disso. Pode ser apenas que o desejo da minha mãe era ter cachorro e não filhos. Será por isso que ela é assim?

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Desprezo

Márcio Simeone
Cadeira n.º 8

Ele nunca quis dizer nada que demonstrasse seu total desprezo. Tanto que mostrava em seu silêncio amargo, no seu nada a dizer indiferente, o quanto agora a desprezava.  Ninguém poderia entender, nem ele mesmo, então melhor não gastar as palavras. Já estavam corroídos por elas um tanto... Depois de tempos calados, a sós, também nada pediram a se dizer. Se houvesse algo de importante a sobrepujar a desafeição, haveria de se impor, assim ambos pensavam. Se assim achavam, é porque não eram indiferentes. Esta seria a primeira conclusão a se impor, mas quando? Não se conhece o tempo de cada um, nem Deus sabe exato o ritmo de cada qual. Dos milissegundos às décadas, tudo pode ser. De presença eventual e sorrateira no meio de noites inquietas à constância das visitações em noites vagas, nem se pode precisar quanto tempo escorreu.  A memória apagara as palavras, todas elas, como se escritas com giz. Nada adiantava procurar por elas. Num dia sem graça, em falta de motivos, deu-se o esperado, o encontro de dois silêncios, já sem as amarguras. As palavras, inúteis, não compareceram. Ele não quis dizer nada que demonstrasse seu amor. Tanto que demonstrava, em seu silêncio doce, no seu nada a dizer tão presente, o quanto agora a amava.