Márcio Simeone
Cadeira n.º 8
Ele
nunca quis dizer nada que demonstrasse seu total desprezo. Tanto que mostrava
em seu silêncio amargo, no seu nada a dizer indiferente, o quanto agora a
desprezava. Ninguém poderia entender,
nem ele mesmo, então melhor não gastar as palavras. Já estavam corroídos por
elas um tanto... Depois de tempos calados, a sós, também nada pediram a se
dizer. Se houvesse algo de importante a sobrepujar a desafeição, haveria de se
impor, assim ambos pensavam. Se assim achavam, é porque não eram indiferentes.
Esta seria a primeira conclusão a se impor, mas quando? Não se conhece o tempo
de cada um, nem Deus sabe exato o ritmo de cada qual. Dos milissegundos às
décadas, tudo pode ser. De presença eventual e sorrateira no meio de noites
inquietas à constância das visitações em noites vagas, nem se pode precisar
quanto tempo escorreu. A memória apagara
as palavras, todas elas, como se escritas com giz. Nada adiantava procurar por
elas. Num dia sem graça, em falta de motivos, deu-se o esperado, o encontro de
dois silêncios, já sem as amarguras. As palavras, inúteis, não compareceram.
Ele não quis dizer nada que demonstrasse seu amor. Tanto que demonstrava, em
seu silêncio doce, no seu nada a dizer tão presente, o quanto agora a amava.
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