terça-feira, 30 de junho de 2020

A felicidade que buscamos está em nosso interior

Ailton José Ferreira
Cadeira n.º 7



Fomos criados por Deus para sermos sempre felizes. Para que o bem sempre predomine em nossas vidas. Mas por que então teimamos em lutar contra a felicidade, o bem que existe em abundância dentro de cada um de nós? Os animais irracionais, quando em harmonia com suas espécies e com o habitat natural em que vivem, demonstram felicidade. Porém, não sabem distinguir o que seja felicidade e tristeza. Se sentem bem e nada mais. E nós, seres humanos, que sabemos muito bem qual a diferença entre felicidade e tristeza, sofrimento e alegria, paz de espírito e atribulações etc., por que então ficamos perturbados e não conseguimos controlar nossas emoções? É absurdo! Mas parece até que não temos, às vezes, força para controlar e equilibrar nossa inteligência.
                     
  Meu avô Fernando (in memoriam) costumava sempre dizer para mim e meus irmãos, que a felicidade não se corre muito longe para encontrá-la, porque ela está dentro do nosso próprio espírito. E em qualquer lugar que estivermos, que seja no “fim do mundo”, se a deixarmos sair de dentro da gente para compartilhar com nossas vidas é certo que a harmonia e a paz nos acompanharão também em nossa jornada. Ele dizia também que o homem foi criado não somente à imagem e semelhança de Deus, mas também criado em harmonia com a natureza e todas as espécies vivas da nossa casa, o Planeta Terra.

Deus nos criou para sermos senhores da Terra, mas não para roubá-la, violentá-la e injustiçar e humilhar nossos irmãos e a própria natureza. Somos senhores, sim, para amar ao próximo, respeitando-o e também ao planeta e suas espécies. E quando achamos que podemos tudo, atropelando o que tiver em nossa frente sem olharmos para traz, aí surge a raiz do mal dentro da gente, querendo crescer e crescer, tentando matar a árvore do bem que já nasceu com a gente. O que traz a felicidade não são as coisas materiais e visuais que recebemos, e sim o que sentimos com amor em tudo que fazemos, exercitamos e buscamos nesta vida. Mesmo que a tempestade venha com força, no amor a tudo ela se tornará uma simples onda passageira.

Mesmo aqueles que se parecem para nós o mal em pessoa, também eles têm a semente do bem dentro de si. Simplesmente não brotou porque não regaram com a água necessária para o cultivo. Jamais poderemos justificar o mal que fazemos ao próximo e ao mundo. Você já parou para pensar que quando corremos muito atrás da felicidade, parece que nos distanciamos cada vez mais dela? Ficamos apreensivos, temos pressa em encontrá-la e esquecemos que ela está pertinho da gente, dentro do nosso interior.

Já vi escrito em algum lugar de algum sábio desconhecido que: “Quanto mais se corre atrás da felicidade, mais distante se está. Porque ela não está longe e sim faz parte do nosso próprio corpo. Basta apenas que usemos nossa sensibilidade e o amor que o Criador nos concedeu”. Então, porque não começamos agora a procurar a nossa felicidade em nós mesmos, começando por amar ao próximo?

QUE DEUS ABENÇOE A TODOS!

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Livro em versão digital: "O azul dos olhos dela"

O livro “O azul dos olhos dela”, de contos e crônicas, da acadêmica Carmélia Cândida,
agora está disponível na versão digital, gratuitamente. Para ser lido online ou para
download.



Trazendo a força da presença feminina na literatura, abordando temas como amor, perdas, sexo, encontros e desencontros, o livro mistura textos em tons eróticos, divertidos, poéticos, leves, impactantes e pesados que, sutilmente, levam a reflexões sobre o nosso tempo e sobre o viver. O leitor se verá diante  de personagens  “reais”, os quais ele pode facilmente  relacionar a si mesmo ou a alguém conhecido. O O azul dos olhos dela nos apresenta um estilo de narrativa elegante e audacioso sob um olhar sensível, que nada julga, apenas expõe, deixando para o leitor as conclusões. 

A primeira edição de “O azul dos olhos dela” foi lançada em 2012. Em 2019, foi feita uma segunda edição, sendo inseridos dois novos textos e excluídos outros. 

O livro também está disponível na Amazon, em e-book (leitura gratuita) e impresso.

sábado, 20 de junho de 2020

MEMÓRIAS DA ALPM: Confesso que Vivi



A Academia de Letras de Pará de Minas tem publicado uma coletânea em formato de jornal, chamada "Cadernos Literários" para difusão dos trabalhos de seus integrantes. A edição de outubro de 2018 teve como tema "Confesso que vivi", lançada no contexto nas comemorações dos 21 anos da ALPM. Baixe AQUI o fac-símile desta edição.


terça-feira, 16 de junho de 2020

Amanhecer

José Roberto Pereira

Cadeira n.º 12

Manhã

Manhã que amanhecerá ainda escura, nebulosa, enigmática

Sobre o muro, conspira o universo que o vírus fabrica

Vírus que penetra nas entranhas

Porta de entrada da vida e saída da morte. O corpo é louça prestes a se quebrar

Adoecem órgãos diante do inesperado. O germe não é visível

Carne humana se contamina quando exposta ao ar

Bandeira branca, hasteada sobre o símbolo da ciência, clama por trégua

Estes horizontes que se alargam sobre o concreto armado despertam piedade

Já não somos os mesmos. Nem as coisas. Aquelas ruas largas e movimentadas

Coalhadas de lixo, de ratos imundos, manchadas de sangue do homem e do animal

Impregnadas por odores, gases e por cusparadas atiradas pelas bocas

Caídas pelo asfalto onde tantos pés calçados carregavam imundícies

Por ora, as ruas, qualquer rua, se espreguiça, comprida, vazia, limpa, banhada de sol

O mato cresce entre paralelepípedos. Flores silvestres brotam entre rachaduras e rugas

Dentro das casas, pessoas, confinadas e unidas, resgatam ofícios

E afazeres à espera do amanhã. O tempo não voa como descrevem as poesias

Ninguém sonha viver sobre o arco-íris. Acuados, todos esperam

Almejam que o amanhã venha. Clamam pela Estrela d’alva, pela aurora

Fazem pedidos e orações, mas não imploram pelo milagre

Anarquistas, quase todos buscam reconciliação

Anseiam perdão de alguma divindade, de alguma árvore da rua

Das frutas nos mercados, da praça do bairro e das putas que os feriram 

Amém

Nos continentes, rios e mares, os povos, a sós, aos bandos e/ou aos pares

Assistem aos modos, aos sonhos, à ganância, ao medo enferrujando-se, esquecidos

Nas gavetas, na sala ampla, nas pastas nos escritórios

Tudo empoeirando sobre o olhar humano

Fitando os dias que se revezam. Cada ser fermenta processos de mudanças

Promessas

Com quantas coisas a vida nos presenteia! Quanto de espaço ocupa o ócio

A perda, o choro, o rancor, a mágoa, a felicidade e o amor

Quem mais se aventurou aos bordados, à culinária e às paixões  

As artes e as ciências transformaram mais o mundo do que as manchetes dos jornais

Anunciando o futuro

Turvo

Que inevitavelmente nascerá. E ri-se o destino irônico, alimentando esperanças

Quem se preparar melhor para o amanhã, poderá ter

Dias melhores. Amém.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Relógio

Conceição Cruz
Cadeira n.º 4
O relógio tem dois ponteiros que andam sempre

para marcar as horas e os minutos.
Tem ainda outro um ponteirinho,
quase invisível, para registrar os segundos!

Doze são as horas do dia!
Assim também são as horas da noite!
Quando se tem doze horas,
pode ser que seja
meio-dia,
se estiver claro! Ou, se escuro, meia-noite!
Os ponteiros rodam, rodam, sem cessar! Através deles, 
vemos as horas trabalharem na construção dos dias...

Por vezes, fico encabulada:
quantas horas já vivi e quantas mais viverei?
Vou aproveitar o balanço dos ponteiros para realizar o meu sonho a cada hora!
Assim, minuto a minuto, trabalharei para construir a Paz
até que, na mente do homem, 
e em cada canto do mundo, ela, naturalmente, aconteça!
Serei tal qual o relógio (que só pensa e trabalha 
na construção das horas para construir os dias).

Ele, o relógio, com seu exemplo, não descansa, a imitar a rotação da Terra! 

Aqui e agora, já somos três: 
a Terra, o relógio e eu! 

Qual é marca que você, 
na Terra, 
deixará? E 
o seu relógio?


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Imagem: https://www.gratispng.com/png-tcz9c2/


domingo, 7 de junho de 2020

Enquanto houver sol

Carmélia Cândida
Cadeira n.º 2


O Rubem Alves me disse, uma vez, que “amiga é aquela pessoa em cuja companhia não é preciso falar”. Ele explica que um amigo é alguém cuja presença procuramos não por causa do que iremos fazer juntos e que, quando a pessoa não é amiga, se não há programa ou conversa, o silêncio fica insuportável. Mas que é diferente com o amigo. Não é preciso falar, pois basta a alegria de estarem juntos. “Amigo é alguém cuja simples presença traz alegria independentemente do que se faça ou diga.”
Outro dia, ao ler o poema “Arte do chá”, do Leminski, lembrei do Rubem e dessa fala dele:
ainda ontem
convidei um amigo
para ficar em silêncio
comigo

ele veio
meio a esmo
praticamente não disse nada
e ficou por isso mesmo

O poema do Leminski conversa muito bem com a fala do Rubem. Não é bem interessante isso do silêncio na presença de um amigo? Não costumamos nos incomodar com o silêncio quanto estamos diante de outra pessoa?
Voltando ao Rubem, ele nos aponta um teste para saber quantos amigos temos. E diz que, se o silêncio entre nós causa ansiedade, se quando o assunto foge e a gente se põe a procurar palavras para encher o vazio e manter a conversa animada, então a pessoa com quem você está não é amiga...
A gente se acostumou a falar e falar quando está com outra pessoa. Sente necessidade disso. O silêncio deixa um vácuo. Incomoda. Ficamos sem graça. Sendo essa pessoa amiga ou não. Mas não precisa ser assim.
Na época em que li o texto do Rubem, fiquei pensando no que ele falou. A primeira vez que experimentei o silêncio com outra pessoa foi com meu pai. Estávamos em Itaúna, cidade vizinha à nossa, e ele tinha acabado de sair de uma consulta médica. Indo para o estacionamento, passamos diante da igreja central, e ele quis entrar. Sentamo-nos, ele fez as orações dele, depois ficamos ali por um bom tempo, em silêncio, um ao lado do outro, eu com o braço sobre o ombro dele. Eu não queria dizer nada. Ele também ficou em silêncio. E vi que não precisávamos conversar, experimentando apenas a alegria de estarmos juntos.
Outra coisa que o Rubem me disse e nunca esqueço (são tantas!) é que a alegria mora no momento, no agora. “Ela está lá, modesta e fiel, no espaço da casa, no espaço da rua.” Ele diz, com isso, para enxergarmos o que existe bem diante de nós, no presente, e nos alegrarmos com isso.
Neste período nebuloso, quando, vez ou outra, chegamos a ser tomados por desespero diante de tantas mortes e de tantas barbaridades a que assistimos todos os dias vindas de quem deveria mostrar respeito, seriedade e empatia com o sofrimento do povo de seu país – de quem, ao invés de estar tentando diminuir o caos, só faz para atiçá-lo ainda mais e, como se não bastasse, é cultuado por uma legião cega, violenta e como que hipnotizada – está difícil encontrar a alegria no momento.
Ainda assim, a gente precisa tentar. A gente precisa acreditar que virão dias melhores. Por mais difícil que esteja, a gente precisa buscar motivos pelos quais agradecer. E a gente tem. Basta olhar à nossa volta. Agradecer deve ser um exercício diário. Eu sei que está difícil, mas a gente não pode perder a esperança. Digo isso mais para mim do que para você.
Se não fizermos assim, nossa mente ficará doente. Isso, se já não estiver.

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Foto: Alaércio Delfino

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Eu tenho um sonho

Renata Teixeira da Silva
Cadeira n.º 3

Racismo velado,
Vozes atrozes...
Eufemismo irônico,
Ironia de algozes.
 
Tempos modernos...
com classificação pela cor.
Um passado dolorido;
E, no presente, menos dor?
 
Racismo esquisito,
Carinho escarninho
O negro deixa de ser negro
Para ser chamado “moreninho”.
 
Não sou preconceituoso, minha avó era negra!”
Você é até bonito pra alguém de sua raça!”
Olha lá, que nêgo escovadinho...”
Alisa logo o cabelo, que tá uma desgraça!”
 
Abolição da Escravatura?
Sim, teoricamente...
Ações separatistas?
Claro, constantemente...
 
Mais um paradoxo
Presente em nossas vidas:
Negros, claramente, sendo subjugados
Brancos no topo, com a visão enegrecida...
 
Não tente adivinhar o pesar
que tantos corações invade;
se você não é negro,
simplesmente: não sabe!
 
Porque, de saber uma dor,
só é capaz quem a tem!
Impedindo que surjam outras,
você já fará enorme bem!