A
pará-minense Fátima Peres é escritora, jornalista, professora, empresária no
ramo editorial e membro da Academia de Letras de Pará de Minas. Nesta
entrevista ela esclarece pontos interessantes sobre publicação de livro e
escrita.
JRP-Em qual atividade
você se sente mais realizada, como professora, escritora, jornalista,
empresária?
FP
- Querido José Roberto, essa foi a pergunta mais difícil que alguém já me fez. Mas
vou tentar respondê-la por etapas. Bom, sempre gostei muito de escrever. Uma
das minhas maiores incentivadoras foi minha primeira professora: Dona Luzia. E,
da qual, sinto muitas saudades. Me lembro bem de suas aulas de redação. Ela
colocava uma figura no quadro e pedia para que apenas descrevêssemos o que
víamos. Depois ela completava: “agora imaginem que vocês fazem parte deste
cenário e façam uma linda redação”. Era mágico! Depois tínhamos que ler nossas
histórias para os outros alunos. Morria de vergonha. Então sempre fui muito
acanhada em expor meus escritos. Por causa disso fui ser jornalista. Uma
profissão que amo de paixão. Nela encontrei uma maneira de contar histórias sem
precisar me expor tanto. Trabalhei na extinta Gazeta Mercantil. Lá, era
responsável por escrever e editar uma página inteira sobre Balanços Ambientais
e Sociais. Contava histórias verdadeiras de pessoas que faziam coisas
incríveis. Mas era uma linguagem muito empresarial, objetiva e “seca”. Fui uma
das últimas jornalistas a sair do jornal quando ele fechou suas portas. Trabalhei
também em outros veículos, mas sempre empresariais (revistas e jornais). Antes
de me formar em jornalismo havia feito três anos do curso de Letras na UFMG.
Mas fui complementá-lo, anos depois, na PUC-Minas e, logo depois, resolvi fazer
um Mestrado. Em 2006 acabei entrando para um grupo de pesquisa em literatura de
autoria feminina na UFMG. Organizamos/revisamos livros acadêmicos e ainda hoje edito
a revista Mulheres em Letras. Queria também ser professora, ensinar as pessoas
a arte da escrita, do jornalismo, enfim, a brincar e se encantar com o texto, com
as palavras. Assim como Dona Luzia um dia fez comigo. Dei aulas de português,
de jornalismo e de planejamento gráfico. Mas os anos foram passando e me tornar
uma empresária na área da edição foi apenas uma consequência, resultado de um longo
percurso, sempre de amor e paixão pela escrita. Como pode perceber, me realizo
com todas essas atividades, sempre.
JRP - Fale um pouco sobre
sua editora Todavoz e quem pode publicar por ela?
FP
- Brinco sempre com as pessoas que nos procuram: “é preciso nos enxergar com
uma lupa”. Somos uma microempresa. Não temos a pretensão de ser uma grande
editora, mas uma editora comprometida com pessoas que amam fazer outras pessoas
sonharem/viajarem quando contam suas histórias. São essas pessoas que podem
publicar pela Todavoz. É isso que torna o ser humano mais próximo ao divino,
seres “humanos”, de verdade.
JRP - Quais dicas você
daria para quem quer publicar o primeiro livro?
FP
- Em primeiro lugar, reúna tudo que você já escreveu. Separe aquilo que
considere mais relevante e que vai impactar alguém, seu leitor, mesmo que seja para
uma pessoa só. Isso já basta para que o livro que você irá publicar ser de
grande importância. Publiquei a biografia da minha mãe quando ela completou 80
anos, com fotos e histórias. Dei a ela de presente e uma cópia para os seus
irmãos e irmãs. Foi seu melhor presente. Claro, sem desmerecer os vários outros
presentes que ela ganhou nesse dia.
JRP -Como um autor pode
chegar até você?
FP
- Me conte sua história, me ligue, me envie um e-mail: todavozeditora@todavozeditora.com.br
JRP - Fale sobre mercado
editorial e como ele tem sobrevivido neste cenário pandêmico?
FP - Quando falamos em mercado editorial temos os três lados: do empresário, do escritor (a) e do leitor. Como empresária, acredito que não é só o mercado editorial que tem sobrevivido com restrições neste terrível cenário. Toda nossa economia tem passado por provações e buscando encontrar soluções que minimizem os impactos negativos. Ou, no máximo, tentar sobreviver. O editorial é um deles. Nossa moeda perdeu o valor totalmente e só quem ganha dinheiro nesse país é quem exporta ou mexe com mercado financeiro (bancos, por exemplo). Para o escritor (a) existem ainda algumas oportunidades, como as publicações digitais/autorais, o self-publishing. Quanto ao leitor, este está cada dia mais distante das melhores médias de leitura por indivíduo do mundo. Na Índia, que se encontra em primeiro lugar, por exemplo, são 10,7 horas gastas semanalmente com leitura. O brasileiro, no ranking de 30 países aparece na 27ª posição. Então, seja como for, estamos num momento difícil para o mercado editorial. Resta-nos esperança de dias melhores.
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Entrevista realizada por José Roberto Pereira, publicada originalmente no Jornal Diário