quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Cinco perguntas para a atriz e escritora Carmélia Cândida

 José Roberto Pereira
Cadeira n.º 12

Carmélia Cândida começou sua carreira artística como contadora de histórias. Depois foi para o teatro e o cinema, e nessas áreas artísticas desenvolve trabalhos como atriz, autora e roteirista. Publicou dois livros de forma independente: “O Azul dos olhos dela” (2021) e o infantojuvenil “A fuga da sereia” (2021), este último ilustrado por Michel Salazar. Essa artista vem conquistando seu lugar no panteão da arte pará-minense a cada trabalho lançado. Leia a entrevista realizada exclusivamente para esta coluna.

JRP – Comente esta frase: “Quase todos os brasileiros sabem escrever, mas pouquíssimos realmente escrevem”.

Carmélia - Saber escrever ou ler, no sentido de ser alfabetizado, guarda uma longa distância do escrever bem e do ler com proficiência, ou seja, interpretando, atribuindo sentidos ao que se lê. Escrever não é uma tarefa fácil, e é uma dificuldade para muitas pessoas. O Brasil não é um país de leitores, a  educação – no nosso contexto histórico –  nunca foi prioridade para os governantes, a arte e a cultura não são valorizadas.  Nesse cenário, não poderíamos esperar que a maioria das pessoas que “sabem” escrever realmente escrevam.

JRP - Como se deu sua descoberta no campo da escrita?

Carmélia - Meu gosto pelas letras e pelo artístico foi despertado já nos meus primeiros anos. E entendo que o que veio depois, na minha vida artística, tem a ver com esse início. Algumas coisas como consequências de outras. Nos tempos de colégio, vez ou outra, eu flertava com a escrita, e isso foi me acompanhando. Mas demorou até que eu passasse a escrever com mais consistência. De uns onze anos pra cá, é que comecei a me dedicar mais à escrita, da forma como me é possível. Eu entendo que tornar-se escritor – assim como ator, músico ou outro artista –  é um processo, uma construção que demanda tempo, experiências etc. Eu só sei que eu escrevo, quando o texto vem ou quando eu desejo buscá-lo. E isso não acontece sempre. De tempos em tempos, eu me sinto aberta à escrita, e escrevo muito, minha escrita flui como água jorrando de uma fonte. É maravilhoso! Mas, em outros tempos, algo em mim se fecha, e não consigo escrever nada. Então eu estou me descobrindo ainda e espero estar sempre. Enquanto eu estiver nessa construção, estarei experimentando, aprendendo, me aperfeiçoando e, o melhor,  surpreendendo a mim mesma.

JRP - “A fuga da sereia” é seu segundo livro publicado, mas é o primeiro dedicado ao público infantojuvenil. Do que se trata a história? E como seu público recebeu este trabalho?

Carmélia - A história se desenvolve em torno do sumiço de uma sereia e começa no ponto em que nasce o rumor de que ela havia fugido. E não tinha fugido sozinha! Levara com ela o Boto Rosa. O rumor vai crescendo, se espalha, e tudo e todos  – mar, praia, homens, peixes, animais da água e da areia –  sofrem com a ausência dela. Nesse cenário, a gaivota, ao voltar de viagem e ficar sabendo do ocorrido, se mostra desconfiada e coloca todos em alerta. Começam, então, a investigar melhor a história. O que será revelado eu não vou poder contar, pois eu quero que as pessoas descubram com os personagens, lendo o livro e as belas ilustrações, mas posso dizer que o leitor irá se deparar com uma narrativa marcada por amizade, perdão, redenção, amadurecimento, entre outros temas.

O livro tem sido muito bem recebido pelo público. É gratificante, pois, quando a gente faz um trabalho, só vamos saber  a dimensão dele quando ele chega às pessoas, e eu fiquei até surpresa positivamente com o interesse e carinho delas e com os retornos recebidos.

JRP  – Publicar livro no Brasil é fácil? E como você foi agrupando os profissionais necessários para dar vida a este projeto?

Carmélia - Para publicar de forma independente, ficou mais fácil em relação a anos atrás, considerando que hoje quase tudo pode ser acessado ou resolvido pela Internet. Ainda assim, é difícil, pois os custos da publicação são altos e vender livros não é tarefa simples. Publicar com contrato com editora, com os custos por conta dela, acredito que, no Brasil, é para poucos.

Por motivos diversos, passaram-se dezoito antos entre o tempo que escrevi o texto e o tempo em que decidi que faria a publicação de forma independente. Isto se deu em 2019 e, após a primeira tentativa de preparar a edição, foram mais de dois anos até o que livro saísse da gráfica. No caso, minha maior dificuldade foi encontrar um ilustrador. Passei por tentativas frustrantes e desanimadoras. Quando encontrei o Michel Salazar, tudo fluiu,  ele também fez capa, projeto gráfico/diagramação, e isso  simplificou muito o processo, pois ficou faltando somente o serviço da gráfica.

JRP  – O que podemos esperar da sua produção artística em 2022?   

Carmélia – “Mulheres santas também são inquietas” é um livro de poemas sensuais que finalizei em 2020 e será lançado provavelmente em março; devo lançar um infantil no segundo semestre e outro no fim do ano, com uma história de Natal (era para ter lançado este ano, mas não ficaria pronto a tempo).

No teatro, estou com o projeto de montagem de um espetáculo sobre violência contra a mulher que quero muito concretizar, é um texto cuja pesquisa  e escrita comecei a desenvolver no fim de 2018.

Começo a trabalhar, no momento, na construção de um roteiro, com o José Roberto Pereira, de uma série que deve ser gravada já no início do ano, sob a direção do José e do Guto Aeraphe.

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Entrevista realizada por José Roberto Pereira, publicada originalmente no Jornal Diário

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