sábado, 30 de junho de 2012

Ao Márcio Meireles, com carinho.

ELEGÂNCIA IMORTAL
Elegância silenciosa, modesta, calma.
Palavras pronunciadas com respeito
e gratidão, tanto para elevar
como para opinar.
A cada presença singeleza
ao manifestar:
sem elevar a voz acima do
Tom natural atraia a atenção de todos
E com poucas palavras, palavras certas
comunicava a todos com simplicidade.
E na alvura de seus cabelos,
a paz que todos almejam,
O belo que nenhum artista
conseguiu expressar
mas que, honrosamente, construiu
dia após dia
Eternizou-se
e para nós um imortal.

Márcio Meireles, obrigado pela oportunidade de partilhar conosco sua existência.
Esteja em Paz!

sexta-feira, 29 de junho de 2012


No último dia 23 de junho, a Academia de Letras de Pará de Minas- ALPM, com muita alegria, acolheu dois novos acadêmicos: Ailton e Joandre.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Dia de Santo Antônio

Cheiro de alecrim lembra missa
em data especial,
sinos,
velas,
coroação de Santo Antônio,
dona Hilda cantando
lírios
em louvor
ao venerado
casamenteiro português.

Em Lisboa,
sua casa
de pedra
fria (morada pobre,
humilde,
onde o papa se ajoelhou
no chão
e até eu, que não sou de santos,
indefeso,
chorei)

 – no dia dele,
sua casa
é o mundo.

Lisboa se ilumina
para vê-lo passar
em procissão,
conduzido no balanço
de mãos trêmulas
pelas ruas estreitas
do bairro velho,
até a igreja setecentista,
no morro,
construída por devotos
ainda assustados
com o terrível terremoto
de 1755.

Cheiro de alecrim lembra
Dia de Santo Antônio...

E hoje,
na roça,
fim de tarde,
eu e meu filho de três anos,
no canteiro de ervas do avô,
amassamos dois raminhos com as mãos
e cheiramos.

O menino fez “Hummmm”,
e saiu correndo
para brincar.

Eu,
com minha bagagem
de idas
e vindas,
olhei para o alto
e senti
o passado
vindo
com a força
de uma enorme enxurrada.

No céu
um jato
atravessava
o
pôr
do
sol
com
sua
cauda
cor
de
rosa.

Flávio Marcus da Silva - Cadeira n.º 01

Foto: Igreja de Santo Antônio, em Lisboa

sábado, 16 de junho de 2012

Eu nasci rebelde


                      httpsaudesabervirtude.blogspot.com.br


Eu nasci rebelde a horários
e me complico toda
quando preciso de me submeter a eles.
Eu sou assim...
Não gosto de obedecer aos ponteiros,
acho que se ficar obedecendo, obedecendo...
não vai sobrar tempo para a poesia.

Mas não sou anarquista de horários!
Respeito a ordem, a disciplina,
que toda casa precisa ter.
Mas, quando me encontro sozinha,
sem ninguém para cuidar,
é o meu corpo que indica os horários.

Se ele diz: durma!
Eu durmo.
Se ele diz: você está com fome!
Eu me alimento.
Se ele diz: você está com frio!
Eu me agasalho.
Se ele diz: aproveite este momento!
Eu aproveito.
Se ele diz: contemple o entardecer!
Eu contemplo.

Eu sou assim...
Não gosto de obedecer aos ponteiros.
Afinal, sou poeta!
A inspiração não marca hora nem lugar.

Ser poeta é ser assim...
fora do tempo e do espaço.
                             
                              Déa Miranda



sábado, 9 de junho de 2012

Maria Joaquina

Maria Joaquina é planta rasteira
que se estende no mais raso do chão,
no mais rente da terra que se vê.
Suas raízes não penetram,
não perfuram,
não adentram,
apenas arranham,
traçam,
sulcam em teias a camada de superfície seca
do mais pobre de todos os chãos.
Seu verde duro de espinhos não chega à altura do chifre
de um bezouro de chifres,
ou da antena
de uma barata de jardim.

Mas Maria Joaquina,
na sua essência pequena
de adubo vivo,
resíduo a um instante do instante
de ser ela própria o solo que nutre
– no qual vermes e anelídeos rasgarão em túneis
o pedaço
do pedaço de terra que é ela,
e que de tudo que é terra no mundo
não é nada mais que quase nada,

Maria Joaquina,
– dizia eu –
tem lampejos de ser muito mais do que realmente é.
Tem ilusões de profundezas e alturas
que na sua cegueira se cravam nela como setas
de pontas certas,
erguendo-a a pódios,
tribunas,
ápices,
picos que, na verdade, não saem do rés do chão,
não se alçam um milímetro sequer acima
das penugens eriçadas
de uma taturana preta,
ou da parte média da pata
de um grilo pardo
(dos pequenos).

Se olhar ela tivesse, seria irônico,
de troça e desprezo.
Se contasse,
seriam vantagens
 – seus pronomes preferidos: eu, meu. 
Seus prazeres,
os mais distantes do que ela julgaria serem,
na sua estupidez rasteira,
diversões do vulgo,
da plebe,
mas que no rés do chão onde ela rasteja
não são nada mais que um pouco mais que nada,
um pouco menos que quase nada
talvez
do que um picolé a dois
no parque
ao som de um sertanejo qualquer

– nada mais.

E de repente,
sem avisar,
vem o arado,
que corta,
revolve,
mistura
e iguala
na terra
o que na terra vive e morre.

Maria Joaquina não é mais Maria Joaquina.
Se tivesse dado uma flor –
o que seria como uma mão estendida,
uma palavra de afeto,
um gesto de compaixão –,
teria dela algo ficado
de beleza,
de semente boa.
Mas nada disso ficou –
só um gosto amargo,
que logo será esquecido

– para sempre.

Flávio Marcus da Silva - Cadeira n.º 1

domingo, 3 de junho de 2012

PROCURA


Márcio Simeone
Cadeira n.º 8

Vagou dias e dias seguidos por muitos e muitos lugares e retornou, com as mãos e com o peito vazio. Frustrado, foi ao mestre e indagou: “por que, embora saiba bem o que eu quero, não encontro o que procuro”? Ao que o mestre respondeu: “um pescador lança sua rede e colhe com fartura, mas devolve à água todos aqueles peixes, porque não vê ali a espécie que procura. Volta para casa de mãos vazias. Quando vai ao mercado, percebe em vários lugares um tipo de peixe incomum, vendido por vários mercadores a bom preço. Examinando esta espécie, reconhece como uma das que, com frequência, colhia em sua rede e, sem maior atenção, devolvia ao mar. Sentiu-se frustrado, imaginando o que poderia ter ganho há bom tempo se tivesse trazido aqueles peixes ao mercado”. “Mas, mestre, e para quem procura amor, e não peixes”? “Ah, então há uma diferença: é bom que o pescador olhe para toda a sua colheita e nada dispense dela”.