domingo, 24 de novembro de 2019

Sentimento e Paz

Valmir José
Cadeira nº 10


Existe um estreito, ninho de amor, brando por si
Manso, pacífico, sereno e profundo,
Unânime desejo, estrela ascendente,
Que soube aproveitar o tempo... E cresceu.

Existe, existirá, um amor, marcado pelo diálogo
Derramado por todos os continentes
Sem fronteiras, sem limites, quase raridade,
Entesourado por todas as cidades.

Brando amor! Amadureceu...
Não fala alto, não julga, não condiciona.
Acontece, em qualquer idade, dialogando;
Conquista, crença que se torna consistência.

Amor imenso acontece; cuidado se excedente,
Pode virar paixão, e quando arde, às vezes, encolhe.
Brando, todavia, brilha, reluzente se eterniza,
Valoroso diamante, cintilante, reflexo de paz.

Brandos, enamorados, almejam...  sonham.
Verdadeiro, afável, cortês, nobre aspiração!
Onde mora, sorrisos, não há extremos,
Sentimentos se equilibram.
Existindo, evapora da alma, se concretiza
Em mito de Amor Eterno.

Brando amor, sossego d’alma, límpido solfejo,
Hálito primaveril de perfumes florais,
Sorriso aberto, encontros almejados,
Olhares profundos no sentido da vida,
Igualmente do amor e das palavras.
Amantes concisos afastam dores e carências,
Recusando o conflito como estilo de amar.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A magia do amor, no encanto de uma flor

Ailton José Ferreira
Cadeira n.º 7



Será que nós já reparamos, com bastante atenção, a perfeição e a beleza de uma flor? Seja ela qual for? Pois bem, quando os problemas e os sofrimentos se apresentam como gigantes, nos mostrando às vezes como difíceis de solução, achamos que Deus está distante. E nos enganamos redondamente, pois, se nestes momentos percebermos a perfeição de uma flor, o quanto ela irradia beleza, encanto e perfume que nos contagia, e esquecermos o que está em volta nos martirizando, vamos perceber que Deus está presente. Esta é a magia do Amor de Deus que nos envolve e que nos transforma, bastando para isso que deixemos este Amor penetrar através de nossos olhos, nariz e ouvidos.

Nós seres humanos temos um defeito de procurarmos as coisas de Deus distante de nossos caminhos. E não percebemos que Ele está presente em tudo, numa semente, no ar que respiramos e tudo mais. Principalmente nós, cristãos, somos mestres em vasculhar os milagres e as graças pelo mundo, e esquecemos que estes milagres e graças acontecem a cada milésimo de segundo em nossas vidas, a cada dia que Deus nos permite amanhecermos acordados e vivermos. Por isso o Amor é o maior de todos os sentimentos, e a maior arma contra o mal. Isto porque simplesmente a misericórdia de Deus sai exatamente do Amor que Ele tem por nós. Quando criou o mundo já nos amava, mesmo antes da nossa criação, e fez tudo para nós. Nenhum ser humano ama como o Criador nos ama. Todos os outros bons sentimentos derivam do Amor, e até mesmo os maus sentimentos surgiram por ciúmes do Amor.

Por que será então que o Amor verdadeiro não impera no relacionamento humano? Por que temos que inventar, conscientemente ou não, desculpas para que o Amor não dê as respostas necessárias para a solução dos nossos problemas? Simplesmente porque somos egoístas, e mostramos frequentemente uma fraqueza para os conflitos que nos impede de fazer o que é correto. Ora, problemas existem e sempre existirão, fruto de nossos próprios erros, e não podemos jamais culpar a Deus por isso. O Amor é um sentimento mágico, penetrante e que hipnotiza a quem quer que seja, e não existe aquele ser humano que nunca foi tocado por uma gota do Amor. Mesmo aqueles que foram gerados, criados e que cresceram na violência, em algum momento de suas vidas deixaram brotar o Amor, porque ele está permanentemente em nosso interior, esperando a semente germinar e brotar para o mundo real. E o Amor é isso e muito mais, pois fomos criados para Amar e não para odiar.

Pois bem, se passarmos diariamente a prestar atenção, mesmo que por alguns segundos, numa pequena flor, veremos que Deus ali está presente. Ele simplesmente deseja que sintamos em nosso coração o Seu Amor, para então transmiti-lo aos nossos irmãos.

            QUE DEUS ABENÇOE A TODOS!

domingo, 17 de novembro de 2019

Marina

Regina Marinho
Cadeira n.º 6


Marina tem sal,
Marina tem mar
Marina é lugar de chegada ou de partida,
sempre um ir e vir
O cais, o porto, um pedaço, espaço ou nada disso
Uma sede imensa que água tanta não sacia
Se o cais é seguro, o mar evoca, chama
e uma terceira margem acontece.
E aí, nada segura!
O mar é uma ponta, só uma ponta do oceano. Eu sei!
Mas quem leva o mar no nome, tem o mar por dentro.
Tem tudo junto e misturado: desejo e fastio, tormenta e calmaria,
fé e descrença, alegria e sofrer.
E eu sei também que, se pudesse,
usaria o mar de água e sal que verteu dos olhos
pra lavar a lama de Mariana e Bento.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Antônia Luzia

Carmélia Cândida
Cadeira n.º 2





Era Antônia Luzia
Lavava, passava
Cozinhava, limpava
Acordava antes de todos
Para preparar o café
O dia todo
Corria pra lá e pra cá
Os filhos estudavam
Não podiam “ajudar”
O marido era daqueles
“Serviço de casa,
Coisa de mulher”
Tudo ela aceitava
Só para ver
A família em harmonia
Depois das refeições
Todos em seus quartos
Para descansar
E Antônia Luzia
Se acabando na cozinha
Tinha que correr à padaria
Na hora de pegar pão quente
Comida fresca todo dia
Se ia se ausentar
Precisava preparar
Tudo de que iam precisar
Mas ela dava conta
E até orgulhava-se de si
Os filhos em primeiro lugar
E já estavam na faculdade!
Foi, aos poucos, se esquecendo
Quem tinha sido um dia
Há muito já não luzia
Foi ficando só Antônia
A cada dia mais cansada
Mais estressada, mais apagada
Mas iria assim até o fim
Era boa mãe, boa esposa
E a vida seu rumo seguia
Antônia, em vida, jazia
E ninguém percebia

sábado, 9 de novembro de 2019

Geraldo Phonteboa
Cadeira n.º 14




Café e amor
Só se for quente
Deixam minha alma
Leve e calma
E me fazem
Querer sempre mais.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Alfa-BETIZAÇÃO

Conceição Cruz

Cadeira n.º 4

Na semana das crianças, ouvir esta melodia fez-me recordar: eu tinha entre cinco e sete anos e não estava ainda na escola!
Eu cantava esta canção o dia inteirinho, todo dia!
Mamãe costurava e,  para a minha cantoria não atrapalhar a sua concentração na hora de cortar as costuras, ela colocava o pano sobre a mesa, por cima dele, a medida, fazia o nome do Pai e me dizia:
- Minha filha, está muito bonito! Agora, preciso me concentrar! Vá cantar no quintal para alegrar os passarinhos!
E eu ia toda contente cantar para eles!
Ficava maravilhada com o cheiro e o formato das pequenas flores brancas e com a algazarra deles brincando nas árvores!
Antes que os minúsculos frutos sucedessem à floração, o vento brincalhão tecia um tapete floral, muito branco, no chão.
Eu tinha pena da árvore e conversava com o vento para não agitar tanto os galhos...
Eu pegava aquelas flores caídas e ficava sentindo a textura delas em minha pele.
Era mágico ver aquele projeto verde de fruta surgindo no meio das pequeninas pétalas alvas...
E o cheiro! Ah! Que cheiro! Meu Deus!
Nosso quintal parecia uma fábrica de perfumes, de cores  de músicas e de alegria...
E assim, quanto mais os pássaros cantavam, mais eu soltava a minha voz!
Até então, com o coro deles, meu sonho era ser cantora! Eu era uma criança com alma de passarinho!
E eu cantava, cantava e cantava… Diante daquele cenário, a emoção não cabia em meu peito:  ficava imaginando como Deus era um grande artista!
Ficava horas e horas absorta em meus pensamentos:
_ Que magia era aquela que transformava a semente em árvore, a árvore em flores, as flores em frutos, os frutos em semente?
E que atraía não somente os pássaros?
Por vezes, as abelhas extasiadas com tanto néctar, cismavam de brincar de esconde-esconde nos cachos dos meus cabelos…
No outro dia, lá estávamos nós!
O céu era límpido, de um azul brilhante e de nuvens desenhistas…
Por vezes, minha mente se ocupava também em imaginar para onde iriam todas aquelas nuvens…
E assim, as horas passavam como num piscar de olhos!
Cantava ainda para as visitas que iam lá em casa e para todo mundo!
Até que, um dia, apareceu uma visitante a qual me disse que eu não servia para ser cantora porque tinha a boca pequena…
Fiquei um bom tempo pensando sobre o que ela me disse e, desde então, a minha alegria passou a ser a escola, melhor, as letras!
Aprendi a ler tudo!  Mergulhei no mundo da leitura e da escrita.
As horas de cantoria foram substituídas por manhãs e tardes em sala de aulas, estudos, deveres…
Meus amigos pássaros?
Não sei se morreram todos ou se foram cantar em outra freguesia.. 
Por onde andarão?
As laranjeiras?
Nossas árvores perfumadas cederam lugar ao concreto: mais filhos, maior a cozinha…
As horas? Deram cartaz aos anos!
Hoje, lendo aqui, na rede da varanda de minha casa, ao ouvir esta antiga canção, ela fez meus olhos mirarem a minha infância guarnecida de flores, de pássaros, de melodia,  de pureza e de harmonia!
O tempo passou! E como passou!
A criança-pássaro daquela época virou pessoa adulta: foi alfaBETIZADA!