MULHER
Terezinha Pereira
Ano de 1.857.
Oito de março. Eram cento e vinte e nove mulheres trabalhando numa fábrica
têxtil em Nova
York. Queriam ganhar salário igual ao dos homens, uma vez que
executavam as mesmas tarefas. Queriam
também a redução de uma jornada de trabalho que durava até dezesseis horas.
Nesse dia oito de março resolveram reivindicar o que julgavam de direito.
Acontece que foram queimadas vivas
dentro da fábrica. Simples. Eles tinham a força. Eles tinham o poder.
Reconstruiriam a fábrica. Outras mulheres fariam o mesmo trabalho, até mesmo
para ganhar um salário menor. Nada como o medo........ No primeiro Congresso
Internacional das Mulheres realizado na Dinamarca no ano de 1.910 escolheram o
dia oito de março para ser comemorado o Dia da Mulher. Precisaria?
Por séculos e
séculos, a mulher fora treinada para viver sob as ordens do ser considerado
superior. “Lugar de mulher é dentro de
casa.” “Mulher de família não sai desacompanhada.” “Mulher só dirige bem um
fogão.” Mulher nasce com o direito de usar roupa cor-de-rosa e brincar de
boneca. Crescendo, ganha o direito de auxiliar a mãe nas “leves” tarefas
domésticas, serviço à-toa. O irmão acompanha o pai nos passeios, que ninguém é
de ferro, trabalha dia inteiro com trabalho pesado de corpo ou de cabeça na
firma. Trisavó, bisavó, avó, mãe e filha têm o mote gravado nas profundezas do
subconsciente. Estudar? Bem, só até o
curso normal está bom. Profissão de mulher fora de casa podia ser exercida na
escola, ensinando crianças a ler e a escrever.
O surgir da
pílula anticoncepcional provoca alguma mudança. Além das obrigações de dona de
casa, a mulher ganha o “direito” de lutar por uma carga adicional de trabalho. Com uma quantidade menor de filhos, pode
estudar na faculdade, trabalhar em bancos, no comércio, nas escolas de segundo
grau, nas faculdades, nas grandes indústrias. Isto é, há uma certa condição: a
mulher “não precisa” dividir a obrigação do trabalho doméstico, é claro, porém,
os frutos do trabalho feminino extracasa “ podem” ser divididos...
Ao adquirir o
direito de sair de casa para trabalhar, a mulher mais uma vez, deu de cara com a prepotência, com a força
daqueles que se julgam donos de tudo. O assédio sexual, antes conhecido em
áreas do trabalho doméstico e escravo, passou a ocorrer nas empresas. Um sem
contar de vezes, o direito ao trabalho ou a um melhor salário fica condicionado
a concessões de ordem sexual por parte da mulher.
Se, no Brasil,
a mulher ganhou o direito do voto em 1934, somente em 1994, é que uma candidata
a governadora de estado foi eleita pelo
povo. Em 1998, uma outra quase chega no segundo turno em São Paulo. Foi
atropelada pelas pesquisas. Onde já se viu uma mulher governar o maior estado
do país. Antes das eleições de 1.998, 6,4% dos congressistas eram mulheres. Um
percentual que se difere pouco do resto do mundo, mesmo levando em consideração
os países mais desenvolvidos.
Apesar da
prostituição feminina acontecer com a anuência de dois parceiros, somente a
mulher é condenada pela lei e pela sociedade. Um cliente nem mesmo é julgado
por se deitar com uma prostituta. Se a mulher mata o marido é considerada
assassina, com “direito” a pena máxima. Morta pelo companheiro, o crime é
passional. Num passe de mágica, surge um amante para a mulher assassinada que,
sem haver tido o direito de continuar viva, não vai negar a existência do
suposto. Nem vai berrar que, durante vida inteira de casada, havia andado às
voltas com o desejo de se deitar ao lado de um homem apaixonado e muito
carinhoso, que dividisse com ela, além da cama, frutos do trabalho, tarefas do
lar e cuidados com os filhos que não fez sozinha. Fato que ocorre no mundo
todo.
Modernos
equipamentos da tecnologia vêm permitindo que a mulher tenha uma gravidez mais
saudável. Mas, a mesma prepotência do início dos séculos, em muitos países, faz
uso dessa tecnologia para impedir o nascimento de crianças do sexo feminino. Em
alguns lugares roubam das mulheres até mesmo o direito de sentir prazer
cortando-lhes o clitóris........!
Mulher,
guerreira por séculos e séculos, sua luta continua. Sua força é sutil, mas
infinita. Você tem o poder de embalar uma vida dentro de seu corpo durante o
tempo estabelecido pela natureza para que ela venha ao mundo. De sua força, de
sua garra, de seu carinho, de seu amor, de seu corpo é que depende o futuro da
humanidade. Para que um dia do ano a lhe ser dedicado? Você é dona dos todos os
dias do ano.