quarta-feira, 7 de março de 2012


       MULHER


                                                                                    Terezinha Pereira

Ano de 1.857. Oito de março. Eram cento e vinte e nove mulheres trabalhando numa fábrica têxtil em Nova York. Queriam ganhar salário igual ao dos homens, uma vez que executavam as mesmas tarefas.  Queriam também a redução de uma jornada de trabalho que durava até dezesseis horas. Nesse dia oito de março resolveram reivindicar o que julgavam de direito. Acontece  que foram queimadas vivas dentro da fábrica. Simples. Eles tinham a força. Eles tinham o poder. Reconstruiriam a fábrica. Outras mulheres fariam o mesmo trabalho, até mesmo para ganhar um salário menor. Nada como o medo........ No primeiro Congresso Internacional das Mulheres realizado na Dinamarca no ano de 1.910 escolheram o dia oito de março para ser comemorado o Dia da Mulher. Precisaria?
Por séculos e séculos, a mulher fora treinada para viver sob as ordens do ser considerado superior.  “Lugar de mulher é dentro de casa.” “Mulher de família não sai desacompanhada.” “Mulher só dirige bem um fogão.” Mulher nasce com o direito de usar roupa cor-de-rosa e brincar de boneca. Crescendo, ganha o direito de auxiliar a mãe nas “leves” tarefas domésticas, serviço à-toa. O irmão acompanha o pai nos passeios, que ninguém é de ferro, trabalha dia inteiro com trabalho pesado de corpo ou de cabeça na firma. Trisavó, bisavó, avó, mãe e filha têm o mote gravado nas profundezas do subconsciente.  Estudar? Bem, só até o curso normal está bom. Profissão de mulher fora de casa podia ser exercida na escola, ensinando crianças a ler e a escrever.
O surgir da pílula anticoncepcional provoca alguma mudança. Além das obrigações de dona de casa, a mulher ganha o “direito” de lutar por uma  carga adicional de trabalho.  Com uma quantidade menor de filhos, pode estudar na faculdade, trabalhar em bancos, no comércio, nas escolas de segundo grau, nas faculdades, nas grandes indústrias. Isto é, há uma certa condição: a mulher “não precisa” dividir a obrigação do trabalho doméstico, é claro, porém, os frutos do trabalho feminino extracasa “ podem” ser divididos...
Ao adquirir o direito de sair de casa para trabalhar, a mulher mais uma vez, deu  de cara com a prepotência, com a força daqueles que se julgam donos de tudo. O assédio sexual, antes conhecido em áreas do trabalho doméstico e escravo, passou a ocorrer nas empresas. Um sem contar de vezes, o direito ao trabalho ou a um melhor salário fica condicionado a concessões de ordem sexual por parte da mulher.
Se, no Brasil, a mulher ganhou o direito do voto em 1934, somente em 1994, é que uma candidata a governadora de estado foi eleita  pelo povo. Em 1998, uma outra quase chega no segundo turno em São Paulo. Foi atropelada pelas pesquisas. Onde já se viu uma mulher governar o maior estado do país. Antes das eleições de 1.998, 6,4% dos congressistas eram mulheres. Um percentual que se difere pouco do resto do mundo, mesmo levando em consideração os países mais desenvolvidos. 
Apesar da prostituição feminina acontecer com a anuência de dois parceiros, somente a mulher é condenada pela lei e pela sociedade. Um cliente nem mesmo é julgado por se deitar com uma prostituta. Se a mulher mata o marido é considerada assassina, com “direito” a pena máxima. Morta pelo companheiro, o crime é passional. Num passe de mágica, surge um amante para a mulher assassinada que, sem haver tido o direito de continuar viva, não vai negar a existência do suposto. Nem vai berrar que, durante vida inteira de casada, havia andado às voltas com o desejo de se deitar ao lado de um homem apaixonado e muito carinhoso, que dividisse com ela, além da cama, frutos do trabalho, tarefas do lar e cuidados com os filhos que não fez sozinha. Fato que ocorre no mundo todo.
Modernos equipamentos da tecnologia vêm permitindo que a mulher tenha uma gravidez mais saudável. Mas, a mesma prepotência do início dos séculos, em muitos países, faz uso dessa tecnologia para impedir o nascimento de crianças do sexo feminino. Em alguns lugares roubam das mulheres até mesmo o direito de sentir prazer cortando-lhes o clitóris........!
Mulher, guerreira por séculos e séculos, sua luta continua. Sua força é sutil, mas infinita. Você tem o poder de embalar uma vida dentro de seu corpo durante o tempo estabelecido pela natureza para que ela venha ao mundo. De sua força, de sua garra, de seu carinho, de seu amor, de seu corpo é que depende o futuro da humanidade. Para que um dia do ano a lhe ser dedicado? Você é dona dos todos os dias do ano.


2 comentários:

  1. Muito oportuno o seu texto, Terezinha. Esse tema precisa ser lembrado e debatido sempre, pois as mulheres, embora tenham conquistado muitos direitos, ainda têm um bom caminho a percorrer, sobretudo em comunidades mais tradicionalistas. Muito bom!

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  2. Muito bom, muito bom, parabéns Terezinha! Que as conquistas das mulheres ao longo deste século de lutas, seja alento e força para futuras lutas. Pena que a Internacionalização do Dia da Mulher, oficializado pela ONU em 1975, está sendo apropriado indevidamente pelas empresas e pelo comércio com trocas de presentes sem um reflexão mais profunda sobre as necessidades da mulher, a discriminação, a violência, o preconceito, o assédio. Um beijo!

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