Conceição Cruz
Cadeira n.º 4
Imagine
você – ali – no instante do Nascimento do Menino Deus, quando a Divindade tocou
a Humanidade, naquela Noite Feliz!
O Burro
lá estava...
Ele
permaneceu, naquele local, onde brilhava a Luz do Mundo...
Na
paz daquela noite, ouviu o coro dos Anjos...
Também
o Magnificat...
Ele
teve a oportunidade de reconhecer o Divino, de vê-lo, de senti-lo - de ofertar-lhe
o hálito quente e de aquecer o Recém-Nascido...
Ele
viu, ouviu e sentiu...
Ele
viu a Estrela do Oriente seguida pelos Magos...
Quando
os Gentílicos chegaram, ele, cognominado de “burro”, pôde experimentar aquele
momento, de forma profunda, deleitando-se com o cheiro exalado pelo incenso...
com a adoração do Deus Menino...
Em
outras palavras, perfume significa per fumus, ou seja, pela fumaça...
Dessa
forma, a fumaça sobe aos céus, elevando nossos pensamentos, mentes, corações, o
nosso entendimento, enfim, o nosso Ser...
Ele
vivenciou tudo isso junto com os Magos e outros seres viventes e, a exemplo dos
urubus, elevando-se, pôde fazer a transmutação...
E
assim, passou a meditar sobre o seu papel no mundo, a sua importância para o
Universo, bem como refletia sobre o seu nome - Burro - e de seus parentes...
Enquanto
pastava e comia os brotos de capim macio, deparou-se com um riacho de águas
límpidas e mirou a sua imagem; depois, observou os campos e contemplou os
céus...
Sentiu
a brisa do vento...
Começou a pensar...
Por
que somos chamados de “burros”?
Para
muitos, o nome é sinônimo de ignorante...
Para
outros, o nome vem do Latim e significa encarnado...
Coincidência? Participar do Nascimento do Verbo
Encarnado...
Coincidência?
Um
brilho de alegria incendiou o seu olhar e a sua forma de interpretar a vida, os
fatos...
Será
que viemos de uma mesma essência?
Burro
encarnado e o Verbo Encarnado?
Ambas
as trajetórias - do Burro e do Menino Deus - são marcadas pela Humildade,
também por carregar cargas, pela resiliência, pelas adversidades, pelo trabalho
incansável, tornando o mundo melhor com seus singulares exemplos...
Somos
mesmos ignorantes?
Pensava...
No
silêncio daquela Noite...
Um inesquecível
instante em que lhe foi revelada a Grande Sabedoria, por meio da análise de sua
existência e de sua relação com a trajetória do Deus Menino...
Na
verdade, as Histórias se entrelaçam, misturam-se, dialogam-se e se cruzam ao
longo de suas vidas...
Com
memórias significativas e inspiradoras...
O
Burro daquele Presépio, em Belém, teve a dupla felicidade de dar utilidade à
sua vida e de servir - ao transportar a Luz do Mundo - enquanto ela estava
ainda no ventre de sua Mãe, gravidez revelada por um Anjo...
Mesmo
carregando Mãe e Filho, tudo era leve, tão leve, muito leve... Já que não era
uma “carga”, para ele...
Seus
trotes eram quase uma levitação...
No
percurso, sentiu quão grande era Aquele Ser...
Uma
Energia Magnífica capaz de tirar-lhe das trevas... E tudo lhe foi mostrado em
sonhos, a exemplo da História de José, contada no Grande Livro do Conhecimento
da Era Cristã.
Na
verdade, as histórias dos asininos e dos muares estão, intimamente, ligadas à
Encarnação, à Luz do Mundo...
Foi-lhe
contado, ainda, quase de forma premonitória, que mais tarde, um de seus
parentes entraria, triunfalmente, em Jerusalém, carregando em seu lombo, o Rei
de um Reino que não tem fim, para aqueles que O Reconheceram...
O maior dos homens, nascidos de mulher, é o menor neste novo Reino e, no entanto, não é digno de desatar-Lhe as sandálias dos pés...
Quem
somos nós?
Somos
mesmos os “burros” do Planeta Terra?
Refletia...
Burros,
ou privilegiados...
Já
que os Burros levaram a Boa Nova aos Homens de Boa Vontade, em diferentes
momentos de suas vidas: do Nascimento às trilhas da transfiguração.... da
Ressurreição!
É
visível, esse Caminho seguido...Quem tem olhos que veja!
Percebe-se,
até hoje, nos lares e nas catedrais, a presença deles nos presépios...
Alguns
dizem que são ignorantes, símbolo dos homens pagãos...
Será?
Assim,
analisa...
Somos,
de fato, seres privilegiados ao carregarmos, literalmente, nas nossas costas, a
Mãe e o Mestre dos Mestres...
Não
obstante, isso não nos faz maiores, na verdade, só aumenta a nossa
responsabilidade, por conhecermos e reconhecermos a Luz e - também - por
portá-la e transportá-la por entre os mais áridos desertos até que o Verdadeiro
Amor faça razão na Mente, no coração e, por consequência, na Vida dos homens e
de todas as demais criaturas, para que consigam, quem sabe um dia, em coro,
entoarem o autêntico Magnificat!