quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Credo! Que delícia!

José Roberto Pereira
Cadeira n.º 12



_Alô!

_Gustavo?

_Sim. Quem é?

_Como assim? “Quem é”?

_Você pode se identificar, por favor?

_Gu! Não está reconhecendo minha voz?

_Sinceramente, não. Desculpe, vou desligar.

_Gu, sou eu! Sua noiva!

_Olha, você se confundiu. Eu não tenho noiva.

_Gustavo, você enlouqueceu? Sou eu! Janete!

_Como vai, Janete? O que deseja?

_Lunático! Eu quero saber por que você mudou o status das suas redes sociais para solteiro!

_Ah, é isso? É porque não estou mais noivo.

_E eu sou a última a saber?

_Usei as redes sociais. Quem viu primeiro ficou sabendo primeiro.

_Isso é uma brincadeira? Nosso casamento é daqui a três semanas! Você está tendo algum surto, é isso?

_Não. Mas decidi terminar nosso noivado. Agora que já sabe, “passar bem”.

_Assim? Por telefone? Por rede social?

_Hoje em dia é assim. Modernidade. Tudo muito frio e sem sentimentalismo. Aceita que dói menos.

_Eu não estou acreditando. Isso é um pesadelo. Não tem a menor graça.           

_Não é, não. Meu próximo passo é bloquear você.

_Mas por quê? O que houve, meu Deus!!?? Tem de haver uma explicação, um motivo...

_Nada. Amanheci com vontade de deletar coisas em minha vida e só!

_Só?? Eu sou coisa?

_Não.

_Que bom!

_É um vírus que invadiu minha vida e contaminou o que havia de melhor em mim, a autoconfiança. Você incorporou de tal jeito a vida virtual na minha vida real que isso me anulou. Além de se revelar intimamente num ambiente onde você achava que poderia haver anonimato.

_Não vamos fazer uma DR via Embratel...

_ (tu...tu...tu...)

_ Meu Deus! Desligou. Será que é porque curti e comentei um post do Edson Celulari de sunga em Marataízes?   

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Imagem: Capa do Livro "Credo, que delícia", de José Roberto Pereira (Editora Mosaico)