sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Dando uma de sociólogo

Joandre O. Melo
cadeira nº 20

É preciso considerar as pessoas e suas histórias. Histórias que emergem enquanto outras submergem, justapõem-se ou contrapõem-se, algumas enlaçam-se outras desenlaçam-se, sobrepõem-se ou submetem-se em uma entropia atípica. Vistas “de cima”, parecem estagnadas ou seguindo uma ordem. Mais parecem um tecido homogêneo de mesma tonalidade e tessitura com tramas cingidas como que guiadas pelas mãos invisíveis de um artesão. Olhando “de cima”, não mais definimos o João do Sebastião, nem o Antônio do Petrônio, entretanto, sentimos a força que une tais histórias!
A força resultante de tantas histórias transforma-se em História. As pessoas: o fulano, sicrano ou o beltrano; diluem-se em Povo. O Povo submete sua história -- por que quer vivê-la como desejar -- ao discurso de um Contrato. O Contrato tinge o tecido com a cor que lho dão. O tecido, agora tingido, é Nação; não é a história do João muito menos a do Sebastião, mas é tudo isso e todos.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

PUBLICAÇÕES DE MINHAS PUBLICAÇÕES...

Estamos nós envolvidos com o drama da escrita. Idéias são postas no papel. E então, alguém lê e diz: Não tinha pensado nisso. Achei muito legal como você trabalhou as ideias em tão pouco espaço. Outros fazem críticas mais duras: nossa é uma pobreza de vocabulário. Seu texto não tem ritmo. É tão previsível. E assim vai... Então, você fica na dúvida - continuo com esta tentativa de alinhar ideias através das palavras? Desisto ou sigo em frente? Percebo, no entanto, que não consigo mais parar de escrever. Fico mais criterioso, cuidadoso com o alinhamento da lógica, da forma, do ritmo..., mas insisto em não perder a poesia, o prazer de escrever... Passa o tempo, as críticas continuam chegando, algumas são mais diretas, outras menos... algumas... E então surge uma proposta: Por que você não publica suas publicações em outro tipo de mídia? - Como assim? - pergunto eu. Ah! Sei lá! acho que ficaria legal se você colocasse os textos de sua coluna em um blog, ou no site do próprio jornal, afinal, nem todos compram o jornal mesmo? Fiquei pensando nisso! Então, decidi, e agora lanço minhas publicações de minhas publicações. Faz o seguinte. Acesse. Critique. Pode colocar o "dedo na ferida". Não tem problema, eu aguento. Então, vai logo, acesse. Leia. Comente, opine... não faça nada... faça o que você quiser... http://phonteboa.blogspot.com.br/

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Boa noite a todos! Meus caros companheiros da Academia e à todos que acessam este Blog. É a primeira vez que escrevo no Blog e confesso que sinto muita responsabilidade, pois, me aproximar de grandes escritores e acadêmicos para mim é uma honra! Para iniciar então uma pequena reflexão: "A Leitura é como um mel para as nossas mentes, a Escrita é o sabor incomparável deste mel que fortifica as nossas mentes para caminharmos no mundo imensurável das letras!" (Ailton) Ailton J. Ferreira - Cadeira nº 07

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Prelúdio à primavera

Joandre O. Melo
cadeira nº 20

Hoje o Céu escureceu. O sol ainda estava a pino e uma enorme nuvem negra, vinda dos lados de nossa vizinha Itaúna, cobriu a sua luminescência, trazendo as primeiras chuvas depois do inverno; prelúdio à primavera.
O inverno ainda não findou, mas já começa a enfraquecer-se e a ceder lugar ao perscrutar de mais uma primavera que nos enche de alegria e esperança.
A época das flores, da renovação da ramaria dos arvoredos, avizinha-se. Doces odores já espalham-se pelo ar quente, parece saudar a próxima estação.
Os pássaros já pressentem a aproximação da primavera; entoam seus cantos multicores. Uma sinfonia de sons: arrulhos, chilros, silvos.
Mas a nuvem negra permanece intacta, balofa, prestes a se arrebentar – encheu-se com o calor, sugando as águas do São João e outros arroios que encontrou no caminho enquanto crescia – anuncia a primeira chuvarada, o calor sufoca e faz as primeiras gotas precipitarem-se quentes, pesadas. Despencam inclinadas pelo vento que sopra forte.
Subitamente, tudo se cala ou é suplantado pelo estrondo do choque das maciças e quentes gotas que se desfazem ao chocar-se com o solo duro e ressecado. Os raios comemoram como serpentinas e iluminam o dia que parece ter virado noite. E a nuvem escura desfaz-se aos poucos, entregando-se entre lágrimas e soluços toda a sua existência. Em breve toda a negritude pavorosa se transformará em um néctar que irromperá pelos sulcos da terra até às suas entranhas quentes e escuras; e, alimentará o submundo das raízes e sementes esquecidas. Trará à superfície novamente a vida. A vida que a sequidão e o sopro gélido do inverno roubaram.
Solitário, distante de todo esse maravilhoso espetáculo, aqui estou, preso em meu escritório, completamente seco e indiferente ao que acontece lá fora. Apenas penso nas informações que se sobrepõem com a rapidez alada da nova geração de redes de computadores. Vejo apenas a tela colorida artificialmente por luzes criadas por led’s – invenções humanas – dispostos simetricamente a criar imagens às quais respondo com frenéticos cliques do meu mouse. Neste mundo plástico, artificialmente colorido, matematicamente construído, vivo a ferros. E a bela e grandiosa ópera que se apresenta lá fora, é-me completamente indiferente.
No entanto, algo me alegra. Ao olhar, por um momento, pelo vidro da janela, açoitado pelas rajadas de gotas –- como projéteis cuspidos por metralhadoras -– observo um ipê a desfolhar-se. Vejo suas flores últimas flores amarelas, arrancadas impiedosamente; mas, junto com as flores sacrificadas vejo pequeninos embrulhos, observo com maior cuidado e assevero-me que são pequeninas sementes cuidadosamente embaladas em um invólucro de celulose transparente; vestidas para brotar. Arrancadas impiedosamente pelo temporal seguem tácitas em meio à barrenta enxurrada para cumprirem o seu destino... BROTAR OU MORRER...

Para ler outros texto do autor clique: Espaço "Intuição"

domingo, 16 de setembro de 2012

DESENCANTO

Geraldo Fonte Boa

Dentro de mim se fez vácuo,

E me deparo juntando os cacos

Do que sobrou...

Não sei o quanto de ti ainda existe em mim,

Mas também não me sei...

Coisas vêm e vão, envão.

 
A razão diz não, o coração sim

Para a normalidade social  sou louco, bobo sem corte,

Mas algo em mim clama pela anormalidade.

Penso, repenso, não durmo,

Imagino, iludo-me, confio, desconfio

Não sei mais o que sinto,

Se sinto... (minto).

 
Suas marcas estão por todo lado,

Mais internas que externas, confusas

Opacas… ranhuras da alma.

O altar foi desfeito e sobrou apenas leito

Onde, duramente, amargamente… deito...

Não consigo mais invadir tua privacidade

Que me era tão íntima...

Virou estigma, adversa, distante, estranha.

 
E pasmo refiro-me

Só.

domingo, 2 de setembro de 2012

À ESPERA


À ESPERA
Márcio Simeone
Cadeira nº 8

Esperança e Utopia nasceram irmãs gêmeas. Quase iguais na aparência, mas distintas nas atitudes. Esperança esperava, enquanto Utopia sonhava. De tanto pensar no vasto mundo, Utopia logo se foi. Em dia incerto, mudou-se para longe, nem se sabe bem como, para além de todos os muros. Esperança ficou a esperar. Quando todos já pareciam ter-se esquecido de Utopia, pois dela não havia mais notícias, Esperança manteve-se firme. Quase ninguém mais acreditava sequer que Esperança tivesse uma irmã (e gêmea), tão desaparecida estava que o tempo se encarregava de apagar as lembranças de sua breve presença. Só se viam os muros. Mesmo que se derrubasse um deles, ainda restariam muitos outros e a todos parecia que ir para o reino distante, além de todos os muros, onde provavelmente se encontrava Utopia, era mesmo impossível. Mas Esperança tinha certeza de que sua irmã um dia existiu, já que saídas do mesmo ventre. Mesmo que passados muitos anos depois que se apartaram, simplesmente acreditava que Utopia permanecia viva, mesmo que em lugar desconhecido. Era esta crença o que bastava para abastecer-lhe a espera e animar-lhe a existência. Ao recordar a figura da irmã, tão feliz e liberta, sonhava. Desejava os encantos dos encontros mais que tudo na vida. Os muros, afinal, nem sempre estiveram ali. Alguém os havia construído. Algo lhe dizia que não só era possível transpô-los, como também, algum dia, derrubá-los todos.  Enquanto isso não acontecia, cuidava de alimentar e encorajar os construtores de pontes, para que seguissem em sua profissão de fé nas boas promessas que estão de outros lados. A eles confiava os seus segredos de infância, quando dormia inocente junto à querida irmã e tudo lhes parecia um imenso mundo claro e sem fronteiras, onde tudo era possível.