quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Alguém

Ailton José Ferreira
Cadeira n.º 7


ALGUÉM na porta bate distante, alguém se anuncia num som marcante!

ALGUÉM é uma esperança de vida, que se aproxima e nos enche de amor e,      quando distante, desperta a dor!

ALGUÉM é simplesmente a caridade quando transmitimos para outro, é a luz da verdade quando aceitamos o encontro!

ALGUÉM é o caminho que nos leva à sinceridade, e que, ao transpô-lo, nos distancia da vaidade!

ALGUÉM é penetrar em nosso íntimo e vasculhar o nosso Eu, é se instalar em nossa casa, e verificar que o irreprimível já morreu!

ALGUÉM é a margem do que vai acontecer sem retroceder, é a imagem do que vai nascer, e assim se fazer por merecer!

ALGUÉM é saber que na escuridão o homem velho vai perecer, mas ter certeza que, no brilho da vida, o homem novo vai aparecer!

ALGUÉM é sentir que o mundo é um jardim com flores que precisam ser cultivadas e amadas, é sentir ser a vitamina necessária para que estas flores sejam semeadas e frutificadas!

ALGUÉM é uma gota d’água neste deserto de rios secos, é o renascimento de cada rio em cada gota que surge como um fio!

ALGUÉM é o coração que bate acelerado por uma esperança que surge ao lado, são as veias que transportam o sangue da vida que atravessamos a nado!

ALGUÉM é uma rosa que exala o seu perfume, são as flores que nos cercam como de costume!

ALGUÉM é um espaço entre um e outro num sentimento envolto, mas fisicamente longe e solto!

ALGUÉM é percorrer sem saber para onde, é chegar e se aproximar com o coração na fonte!

ALGUÉM? ALGUÉM na porta bate e pede licença para entrar e, quando abrimos esta porta, permitimos que o amor e a vida encha o lugar, penetra em nosso interior e não quer mais voltar, mas sim se instalar!

ALGUÉM? Este ALGUÉM é JESUS, que vem para ficar, não quer se calar e quer muito AMAR!

QUE DEUS ABENÇOE A TODOS! 


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Me deixe só

Carmélia Cândida
Cadeira n.º 2


Às vezes, é preciso sentir a dor que dói, sozinho, só a gente com ela, sem tentar afugentá-la a qualquer preço. Porque ela precisa doer para depois ir embora, ou para depois se calar novamente e ficar repousando, quietinha, dentro de nós. Até que, um dia, consigamos expurgá-la de vez ou, quem sabe, ela deixe de doer por si mesma. 

Mas o mundo nos diz o contrário: é proibido ficar triste, a tristeza é insuportável. “Se estiver triste, sorria e tudo vai mudar!” Sorrir quando se está triste? Isso não lhe soa ridículo? Pra quê? Se ficar difícil demais, remédios são a solução. Pura mágica. Mentira! Pura tapeação. 

E, assim, todo e qualquer tipo de tristeza, de dor, vão sendo abafadas. Está triste porque perdeu alguém amado? Vão lhe dizer que você está doente, com depressão. Mas essa tristeza não faz parte do luto? Não. Imagina! É depressão! Perdeu o emprego? A mesma coisa.

Que a tristeza seja permitida. Que busquemos sair dela, mas não sem antes compreendê-la, e que não entremos em desespero se, por algum motivo, ela chegar. E que possamos superar ou exterminar, não o sentimento, mas aquilo que nos causa esse sentimento. Se não for possível, que saibamos a melhor forma de conviver com ele sem nos tornar pessoas amargas. 

A alegria faz parte. A tristeza também. Que possamos nos equilibrar entre essas duas senhoras. Mas que a alegria seja sempre maior! E que não queiram que a gente sorria se o sorriso não for verdadeiro. Aliás, que não precisemos fazer nada que não seja verdadeiro. 

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Imagem: Melancolia - Louis Jean-François Lagrenée - Pintor francês (1724-1808) 

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segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Escrever...

 


O escritor Márcio Simeone ocupa a cadeira n.º 8 da Academia de Letras de Pará de Minas

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Uma publicação do projeto "Em dia com a poesia", de Carmélia Cândida e José Roberto Pereira, membros da ALPM.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Reencontro


Regina Marinho
Cadeira n.º 6


Num dia triste e feliz,

de inteira presença no agora,

encontrei a criança que fui.

E encontrei-a assim,

espantada e agradecida,

por entender naquela hora

que nada além dela eu buscava.

Mas foi longa a estrada,

levou tempo e descaminho,

pois, quando adolesci,

achava que o sentido era pra fora e longe,

que teria de seguir percurso de ida sem volta,

bem distante do lugar em que me achava.

E não é que o próprio caminho

encontrou jeito de mostrar 

que a ida era também volta,

retorno ao ponto de partida?

Que estranho trajeto! Que intensa procura!

Fui eu que retornei pra encontrar a menina

ou foi ela quem veio me buscar?

Que importa?!

Com ela aprendo um jeito novo de ser,

feito de desaprender formatos e padrões.

Dou-lhe colo, afeto e escuta,

canto-lhe suave canção.

Desde então, seguimos de mãos dadas.

Perdemos o tempo marcado

no sabor do tempo oportuno. 

No exato ponto em que me encontro,

já vislumbro a anciã que chega.

Que ela venha sem pressa e…

sem medo de ser feliz!

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Imagem: https://www.pngegg.com/pt/png-xwrwz/download




terça-feira, 13 de outubro de 2020

Amarelinha

Carmélia Cândida
Cadeira n.º 2 





Também chamada de maré

Precisa saber pular 

Na ponta do pé!


Risca o diagrama no chão

1 – 2 e 3 – 4 – 5 e 6 – 7 – 8 e 9 

Céu

Joga a pedrinha

Nas casas numeradas

Percorra o caminho

Sem pisar no quadro marcado


É proibido pisar a linha!

Não pode tocar as mãos no chão!

Quem errou, começa de onde parou


Mas não importa perder ou ganhar

O importante é poder brincar!


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Este poema foi escrito especialmente para o espetáculo “Quarto de criança”, do Grupo de Teatro ReVerso, do qual Carmélia Cândida faz parte.

Para acompanhar as produções literárias de Carmélia Cândida, você pode segui-la em seu Instragam (https://www.instagram.com/carmeliacandida/)  

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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Bornata e sua boneca de papel

Conceição Cruz
Cadeira n.º4



        Há muitos e muitos anos, no século passado, entre a primeira e a segunda grande guerra, num povoado próximo ao arraial do Patafufo, vivia uma linda menina: ela era loira, magra e criativa. Seus cabelos eram lisos, até a altura dos ombros. Seu nome era Geralda e seu apelido era Bornata (antigamente, as pessoas tomavam remédio por conta própria. Havia muita mortalidade e poucos médicos!).

            Geralda, ao se sentir doente, logo pedia para a mãe o famoso bicarbonato: daí o apelido.

        A vida, naquele local, era árdua. Todos comiam com o suor do próprio rosto. Era preciso, a exemplo de seus pais, trabalhar a terra para fazê-la produzir.

        Conforme todo o mundo sabe, as casas das roças eram, extremamente, simples: chão de terra batida, telhado com telhas curvas, janelas de madeira e um quintalão varridinho, varridinho...

         Naquela época, não havia computador, nem videogame, nem televisão, nem carro, nem médicos... Nada do que temos hoje... Nem luz elétrica!

            Somente nas cidades havia carros.

            Rádio? Só à válvula!

            Na hora de brincar, Bornata reunia suas amigas: Rita, Lúcia, Lucinha e Alice.

            Brinquedos? Pedrinhas, retalhos, restos de cuia, cabaça, cacos de telha... Fabricavam, com as palhas de milho, suas próprias petecas e bonecas; as panelinhas, eram objetos feitos de barro trazidos da beira do riacho, que a imaginação traduzia por panela; dobravam as folhas das piteiras para construírem suas casas: brincavam de comadre e, as ricas, ficavam no andar de cima e, as outras, no térreo. Bornata, naquela esbelteza, era sempre convidada a ficar no andar de cima; assim, elas passavam horas e horas brincando...

            Um dia, seu Pai trouxe da cidade grande uma boneca para Bornata. Era uma boneca de verdade! Todas as suas amigas se encantaram: até parecia gente! Ela era feita de papelão. Batizaram-na de Mariana. Brincaram! Brincaram! Brincaram! Os dias foram passando... Como era de se esperar, Mariana ficou sujinha, sujinha, sujinha... Todas as meninas queriam vê-la “tinindo em folha”! Tiveram a brilhante ideia de encher uma bacia bem grande de água e mergulhar Mariana, para lhe dar um bom banho! Para surpresa delas... A boneca se desmanchou na água! Que tristeza! E agora? Bornata chorou! Chorou! Chorou! Rita, Lúcia, Lucinha e Alice também!

A mãe de Bornata achou muito engraçado, pois onde já se viu lavar boneca de papel? Não fiquem tristes! Pouca coisa é eterna! Vamos fazer bonecas de pano?

Bornata e suas amigas, ainda chorosas, pegam agulha, tesoura, linha, retalhos de tecido e sonham... Sonham com a boneca Mariana... Ponto a ponto... Vão juntando os restos de retalhos. Pintam daqui. Bordam dali. Costuram acolá... A boca bordada de vermelho, os olhinhos de preto. O cabelo? Era o próprio “cabelo do milho”. Aos poucos, aquele emaranhado de coisas vai ganhando forma.

De repente... Surgiu uma nova bonequinha! Foi uma grande alegria! Mariana, agora, está guardada na lembrança... Ganhou vida eterna! Será sempre a bonequinha de papel.

Assim, brincando, Bornata nem imaginava que ela e suas amigas se tornariam, em um futuro não muito distante, costureiras “de mão cheia! ”: sobreviveriam à outra guerra, à fome, ao século!

E transpondo o tempo...

Na simplicidade, no anonimato de ser Mãe-Mulher, Dona-de-Casa, fazem-nos refletir: o mais importante não é o que se tem ou que nos falta, ou se o Mundo está ou não em conflito, mas o que se sente, a maneira como se sente, o que se pensa, a forma como se pensa e, a partir daí, o que se constrói...

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(Em outubro, quando a verdadeira Bornata completa 90 anos!)

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DEDICATÓRIA: à Mariana Lopes, que um dia, saiu da cidade grande, chegou em Pará de Minas com sua alegria, suas músicas com letras trocadas, sua risada marota, suas invencionices! Sentia-se criança com a gente... E num outro dia qualquer, tal qual a bonequinha de papel de minha Mamãe, ela se foi para muito além! Diluiu-se no tempo! Restou-nos a doce lembrança, impregnada de amor e saudades!

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Imagem: livro elaborado em projeto pedagógico das professoras Carla Cristina de Oliveira Damasceno, Gisele Maria de Sousa e Roberta Silva, do Centro Municipal de Educação Infantil Lúcia Lima de Carvalho, de Itaúna/MG









domingo, 11 de outubro de 2020

Infancionices...

Renata Teixeira da Silva
Cadeira n.º 3 


A felicidade passou por aqui
deixou dedinhos carimbados no espelho,
pela casa, o colorido dos brinquedos...
E o eco inconfundível das gargalhadas infantis...
Colocou um bichinho de pelúcia no lugar mais inusitado,
deixou o cachorrinho de coração acelerado
- tamanho o número de brincadeiras que fez.
Virou cambalhotas no tapete,
jogou cada almofada numa direção diferente,
pediu para ser balançada na rede...
Fez, depois, um desenho pequetito numa das paredes
(se reparar bem, dá pra perceber)...
Cantarolou músicas que há tempos não se ouvia,
pediu para dar um passeio,
andou de mãos dadas com a tia!
Brincou de roda, bancou a bailarina...
Fez um desenho colorido no papel.
Revisitou, à sua maneira,
alguns versos e contou estorinhas...
e até o jornal quis transformar em chapéu!
Sempre que essa visita chega,
há que se ter muita delicadeza,
para não a desmerecer.
Mostrar aos olhinhos curiosos toda beleza...
Dar às mãozinhas ávidas pelo desconhecido
algo bom para aprender...
Quando a felicidade vem em forma de criança,
deve-se fazer uma pausa no trabalho, entrar na dança...
É preciso sensibilidade para entender...
Quando se aproximar com os passinhos tão seus,
dar-lhe o devido direcionamento...
E será preciso, ainda, rejuvenescer,
para ter acesso a um mundo novo
que só peritos em  infancionices terão permissão para ver...





segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Dá licença, sou mulher!

Carmélia Cândida

Cadeira n.º 2



Este é primeiro poema de uma série chamada: O GRITO DAS MULHERES.

Sim. Precisamos gritar. E não é levantando a voz. Gritar contra todas as injustiças que sofremos ao longo da história, contra tudo que nos oprime. Precisamos ser ouvidas. Mas precisamos, principalmente, que o nosso grito ecoe. E só conseguiremos isso se nos unirmos. Unidas, podemos! Unidas, somos mais fortes!


Se você quer juntar-se a esse grito, grite também! Curtindo, comentando. Compartilhando esta postagem com seus contatos. E, no Instagram, curta o post, comente, salve, compartilhe, pois dessa forma ele chegará a mais pessoas. Faça essa voz ecoar!

Este é um projeto da escritora Carmélia Cândida, que é membro da Academia de Letras de Pará de Minas, feito com a colaboração de 20 mulheres de diversos estados do Brasil. 


Projeto e texto: Carmélia Cândida Edição: Lua Marinho Mayara Santarem


Música: QJ Beats