quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Me deixe só

Carmélia Cândida
Cadeira n.º 2


Às vezes, é preciso sentir a dor que dói, sozinho, só a gente com ela, sem tentar afugentá-la a qualquer preço. Porque ela precisa doer para depois ir embora, ou para depois se calar novamente e ficar repousando, quietinha, dentro de nós. Até que, um dia, consigamos expurgá-la de vez ou, quem sabe, ela deixe de doer por si mesma. 

Mas o mundo nos diz o contrário: é proibido ficar triste, a tristeza é insuportável. “Se estiver triste, sorria e tudo vai mudar!” Sorrir quando se está triste? Isso não lhe soa ridículo? Pra quê? Se ficar difícil demais, remédios são a solução. Pura mágica. Mentira! Pura tapeação. 

E, assim, todo e qualquer tipo de tristeza, de dor, vão sendo abafadas. Está triste porque perdeu alguém amado? Vão lhe dizer que você está doente, com depressão. Mas essa tristeza não faz parte do luto? Não. Imagina! É depressão! Perdeu o emprego? A mesma coisa.

Que a tristeza seja permitida. Que busquemos sair dela, mas não sem antes compreendê-la, e que não entremos em desespero se, por algum motivo, ela chegar. E que possamos superar ou exterminar, não o sentimento, mas aquilo que nos causa esse sentimento. Se não for possível, que saibamos a melhor forma de conviver com ele sem nos tornar pessoas amargas. 

A alegria faz parte. A tristeza também. Que possamos nos equilibrar entre essas duas senhoras. Mas que a alegria seja sempre maior! E que não queiram que a gente sorria se o sorriso não for verdadeiro. Aliás, que não precisemos fazer nada que não seja verdadeiro. 

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Imagem: Melancolia - Louis Jean-François Lagrenée - Pintor francês (1724-1808) 

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