sexta-feira, 30 de agosto de 2024

A homenagem póstuma da ALPM a Bartolomeu Queirós

O escritor Bartolomeu Campos de Queirós, acadêmico honorário da ALPM, faleceu no dia 16 de janeiro de 2012. A nossa Academia prestou-lhe homenagem póstuma com a leitura de um texto de autoria da então acadêmica Terezinha Pereira durante o evento de lançamento do livro "O Poeta Aquário - Vida e obra de Bartolomeu Campos de Queirós", de Aparecida Simões, realizado no Teatro Municipal de Pará de Minas, no dia 14/06/2013. Este mesmo texto foi publicado no Bianuário 2012-2013 da Academia de Letras de Pará de Minas.

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HOMENAGEM DA ALPM A BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS

Terezinha Pereira 

Bartolomeu começou seu tempo de voo literário em 1974, com o livro "O peixe e o Pássaro". Desde o começo de suas escrituras, optou por levezas, por seres que se movem com desembaraço, de maneira ágil, suave, delicada e precisa. E possível que tenha aprendido com eles como laborar com palavras que encerram poesia.

Seu plano de voo literário, foi tecendo desde quando aprendeu a fantasiar, menino ainda, nesta Pará de Minas, em Papagaios e em Pitangui, lugares onde viveu a primeira parte de sua vida. Companheiros de jornada, dados cartográficos como velocidade, rota e altitude foram sendo ajustados em campos de pouso, do lado de cá e do outro lado do mar. Nas suas andanças, viu quase tudo no mundo. Esbarrou com a tristeza, com a dor, com o abandono, com a injustiça, com assombrações. Mas também, com felizes amores, definitivos amigos e com um mar de palavras.

Com tudo isso, percorreu seus caminhos no tempo que existe, no tempo vivo, no tempo que nunca viu. Meio a esses tempos, seu nome e sua obra se espalharam pelo país, chegaram às universidades e às escolas, atravessaram mares. Os inúmeros prêmios que lhe foram atribuídos neste meio tempo, atestam a grandeza de sua obra.

No seu tempo de maduro, Bartolomeu sonhou viver num país literário. Acreditava que, por sua especificidade de poder dar voz ao leitor, a literatura teria o poder de levá-lo a conquistar sua autonomia de ser humano, que lhe deu o direito de escolher o seu próprio destino. E de sonhar com outras realidades. Para realizar esse seu ideal que, aos olhos de muitos semelha utopia, juntamente a algumas organizações empenhadas com a literatura, nosso conterrâneo idealizou o "Movimento por um Brasil Literário", lançado oficialmente durante a Feira Internacional de Literatura de Paraty -FLIP-2009.

Nós, da Academia de Letras de Pará de Minas - ALPM, viemos aqui a registrar nosso agradecimento pelo presente de suas palavras expressas em mais de sessenta livros publicados. Como dizia Bartolomeu, o tempo é um saboroso presente. Ainda bem que o tempo permitiu. E, em 9 de setembro de 2010, a ALPM concedeu a Bartolomeu Campos de Queirós, nascido em Pará de Minas, filho de Geraldo Queiroz e Maria Campos de Queiroz, o título de Acadêmico Honorário, por sua brilhante obra literária de reconhecimento nacional e internacional.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Bartolomeu Campos de Queirós (1944-2012)

Geraldo Phonteboa
Cadeira n.º 14



Não conheci Bartolomeu. Encontrei-me com ele de modo informal e à distância. Isso ocorreu em um evento realizado em Pará de Minas, em 2009. Na época eu estava na função de Diretor da Faculdade de Pará de Minas e a Academia de Letras de Pará de Minas organizou um encontro com Bartolomeu em um auditório do Sindicato Rural de Pará de Minas. Nesse dia, após sua fala, Bartolomeu recebeu o diploma de Acadêmico Honorário da Academia de Letras de Pará de Minas. Lembro que foi uma solenidade muito simples, mas muito significativa. Como não o conhecia, não consegui, na época compreender o tamanho deste escritor. Não conhecia sua obra, nem mesmo quem ele era de fato.

O tempo passou e Bartolomeu ficou alí, em minha memória, como uma pessoa importante, mas da qual eu não sabia de sua importância. Veja, não me levem a mal, eu não tinha noção de quem era ele. Não havia lido nada de sua autoria. Pouco tempo depois, recebi a notícia de que Bartolomeu havia falecido[1] e pensei assim comigo: Bartolomeu, por ser um escritor, assim como dizia Guimarães Rosa, “encantou-se”. Isso porque, para mim, todos os escritores, sem distinção, “ficam encantados”, não morrem nunca. Esta criação de João Guimarães Rosa é magnífica! Seu corpo desaparece, sua presença física ausenta-se. Mas suas ideias permanecem em seus escritos e depende unicamente da iniciativa de alguém que leia suas palavras. Assim que estes escritos são lidos, o escritor se revela e sua dimensão de “encantamento” aparece

Não busquei conhecer sua história, não li suas obras por anos. E mesmo sendo membro da Academia de Letras de Pará de Minas, tinha tantos outros projetos, tantos outros envolvimentos e Bartolomeu, melhor, suas obras, não provocaram em mim mobilização. Sabia de sua existência, mas isso não provocava a minha curiosidade ou a devida atenção. Ele estava “encantado”, e eu não percebia este “encantamento”. Até que um dia, em uma de nossas reuniões da Academia, discutimos sobre o cuidado com as obras dos membros da própria Academia, ou seja, “nós não nos lemos”. Convivemos com escritores e não conhecemos os seus escritos e as suas obras. E dentro desta conversa despretensiosa, mas séria, veio a constatação de que todos os nossos acadêmicos honorários já eram falecidos e que caberia à Academia fazer uma homenagem a eles e, mais que isso, conhecer suas obras. Foi neste momento que me propus ler Bartolomeu.

Pesquisei sobre ele, busquei algumas de suas obras. Visitei bibliotecas públicas e até mesmo escolares. Juntei material sobre ele, e comecei a leitura. E agora apresento-lhes este Bartolomeu “encantado”, ou melhor este “encantamento” que este “encantado” escritor tem provocado em mim. Trata-se de uma insignificância diante da grandeza deste escritor “encantado”, mas é um começo

Não pretendo fazer uma biografia, mas apontarei pequenas passagens de seus escritos que considerei importantes para conhecê-lo. E assim ele se apresentou a mim, ao dizer que nasceu “com 57 anos”, sendo “34 vindos de seu pai, cheio de amores duvidosos e desejos escondidos, e 23 de sua mãe, marcados com traições e perdas”. E que desenvolveu, por herança, “a capacidade de associar amor ao sofrimento". E, a partir desta herança, é que pode perceber a pequena cidade em que nasceu enfeitada de rezas, procissões, novenas e pecados”, mas que também possuía o sabor de “laranja-serra-d’água”, “onde” sua “solidão já pressentida era tomada pelo vigário, professora, padrinho, beata, como exemplo de perfeição". Foi nesta “solidão pressentida”, pois também por herança, seu pai “não passeou” com ele “montado em seus ombros”, e nem sua mãe “cantou cantigas de ninar” para lhe “trazer o sono”. 

O que gostaria, no entanto, de destacar é seu jeito de ver o mundo de sua infância, costurada pela fantasia, isso porque para Bartolomeu “a infância é o lugar que jamais poderei estar a não ser pela fantasia” que para mim, revela como nós lidamos com a memória que fazemos do que vivemos. E nesse sentido, a memória é outra categoria magnífica em Bartolomeu. Para ele, a memória é um grande patrimônio que temos, pois “tanto guarda o que a gente viveu como guarda o que a gente sonha” e esta memória, na visão dele, encontra diálogo na literatura. Para Bartolomeu, com “a literatura, esse mundo sonhado consegue falar”. E assim, usando de sua literatura, fala de sua infância, costurada com a fantasia, pois, para ele “a criança está lá em realidade”, mas o que escrevemos nem sempre é esta realidade, mas é a possibilidade de uma outra realidade, uma realidade plena de outros sentidos e significados. Contudo, para estabelecer este “diálogo” com a infância através da literatura, para que ele seja apurado e profundo é preciso silêncio. Segundo o escritor, “conversar com o silêncio é uma coisa fascinante. Vivemos em uma sociedade em que o silêncio está interditado. As pessoas falam o tempo inteiro. [...] É um mundo que fala o tempo inteiro. Não conversamos com o silêncio. E quando a gente escuta o silêncio a gente tem muita resposta".

Sobre este silêncio, encontrei em “Antes do depois” passagem magníficas e aí percebi que o “silêncio” não era apenas uma categoria, mas uma prática; um meio pelo qual Bartolomeu mergulhava em sua memória de menino para dialogar com sua infância. O silêncio aparece de forma decisiva e poderosa. Era “preciso de pedacinhos de silêncio para dar fôlego às dores” (p.8), ou ainda era preciso engolir o choro, “para não invadir o silêncio do quarto meio escuro, como se tudo estivesse em eterno crepúsculo” (p.11). Ou ainda o “silêncio não tem sombra para camuflar as coisas. Silêncio desconhece fronteiras. O silêncio pode engolir até pessoas (p.12), mas ao mesmo tempo, o silêncio era um lugar onde ele “guardava o amor”. (p.23). E o mais surpreendente é que “no meio do silêncio vive todo tipo de ruído. Ninguém nunca escutou o silêncio. O que mais corta o silêncio é a palavra” e ela, a palavra, “se perde entre silêncios” (p.23).

Não sei se o leitor conseguiu observar que Bartolomeu faz um quebra-cabeças de ideias e dá outros sentidos às palavras[2]. E esta habilidade só consegue quem conhece o mistério que as palavras escondem. E, talvez por isso, o escritor consegue imaginar esses mistérios das palavras e assim alinhava uma a uma de outros jeitos. Mas isso só é possível pelo silêncio. E quando, mergulhado neste silêncio, o escritor consegue construir frases carregadas de mistérios que desafiam o nosso pensar. Hoje o Bartolomeu que aprendi de seus livros, de modo particular de “Indez”, “Por parte de Pai”, “O olho de vidro do meu avô” e de “Antes do depois” revelam a intimidade deste fabuloso escritor com as palavras, e esta intimidade chega a nos tirar o fôlego, e requer tempo e silêncios para ver além do olho. Ainda não sei se compreendo a literatura de Bartolomeu, não o conheço o suficiente. Mas é um prazer conhecer gente assim, plena de encantamentos.



[1] Bartolomeu nasceu em 25 de agosto de 1944 e encantou-se em 16 de janeiro de 2012.

[2] E aqui vale a pena ler a magnífica obra “Vida e obra de Aletrícia depois de Zoroastro” de Bartolomeu.

 

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

A palavra que machuca e ressuscita

Regina Marinho
Cadeira n.º 6


Homenagem a Bartolomeu Campos de Queirós

Eu o vi e ouvi assim, diante de mim, uma única vez, quando esteve em Pará de Minas para uma palestra. No entanto, suas palavras, e os múltiplos significados que carregam, estão por aí. Para alguns, aguardando ansiosamente que sejam colhidas, dentro de fecundos livros. Para outros, como eu, que sejam retomadas, reconhecidas e recordadas.

Do tear da memória, Bartolomeu puxou o fio da palavra que a grafite teceu, letra a letra, palavra por palavra. Uma pedia outra e outra, e se aconchegavam todas. Bartolomeu diz que, na memória, verdade e mentira entrelaçam vivido e sonhado. Ele me enredou em sua grande teia, cujo fio vem de lá pra cá e vai de cá pra lá.

O ir e vir do fio trouxe o avô que escrevia nas paredes da casa, primeiro livro que Bartolomeu menino leu, mas também juntou as pontas do passado e do futuro, o vivido e o sonhado. Falou do luto, da perda, da dor, das crenças, tradições, benzeções, do medo. E tudo isso teceu com esmero e beleza. Revelou o conflito de Antônio diante dos ovos no ninho, por ter de interromper “o que estava ainda em vias de acontecer”. Dilema era ter de deixar o indez no ninho, impedindo outro destino ao curso que a vida ditava. Antônio era Bartolomeu menino.

No seu livro-manual Para bem criar passarinho, deu a mais proveitosa das recomendações: “ignorar as grades, as prisões, as teias (...) construir uma gaiola, mais ampla que a terra, de janelas abertas para o universo com seus planetas e constelações”.

Na Escritura, revelou que, assim como a virgem fora fertilizada pela palavra, também ele dela se alimentava. Foi lá que profetizou: o eterno “não tem nós de nascimentos ou embaraços de mortes. E o pensamento é terreno demais para decifrar intenso mistério”.

No tempo de voo, botou criança e adulto em longa conversa. A curiosidade do menino provocava o adulto com “coisas impossíveis de responder”. A pergunta suspende as medições e o adulto diz: o tempo “tem mãos para acarinhar desde o agora até o sempre”. Suspeitei despedidas em cada frase, mas havia mais do vivido e do sonhado a dizer.

No vermelho amargo, tem a mãe e a madrasta. Bartolomeu diz que “todo parto decreta um pesaroso abandono”, que “tudo é maio, tudo é seco, tudo é frio” ou, ainda, que “esquecer é desexistir, é não ter havido”. Maio é quando o fio se parte, tem cor e gosto de vermelho amargo.

Dia desses, vi um pequeno vídeo em que Bartolomeu falava da beleza, sem saber que seria instada a escrever sobre ele. Ouvi seu falar manso, seu jeitinho mineiro de engolir letras e juntar palavras, sem constrangimento algum. Reparei bem as feições de seu rosto, quando ele disse: “A beleza é tudo aquilo que você não dá conta de ver sozinho (...). Eu acho que a beleza é profundamente triste quando cê está sozinho. Cê não dá conta dela, ela pesa muito! Então, cê tem que passar pra alguém, sabe?” Como ouvir algo tão terno e não desejar se aproximar da sua solidão generosa?

Bartolomeu soube que a beleza nem sempre é doce. É por vezes amarga, como o tomate que se corta em finíssimas fatias ou doída como a canção na voz da mãe que morria. “Quando a dor é muita, eu escrevo”, dizia ele. Pra mim, Bartolomeu é um descobridor e revelador de belezas.

No momento em que finalizo este texto, o sol se põe pra encerrar o dia. Eu me encanto com tamanha beleza e digo: o Bartolomeu é que devia estar aqui comigo pra ver isso! Desconfio que, de alguma forma, ele está sim, apreciando o belo que morre e renasce como o sol ou como a palavra que machuca e ressuscita.

 

domingo, 25 de agosto de 2024

Bartolomeu, 80 anos

Este mês de agosto marca os 80 anos do escritor Bartolomeu Campos de Queirós. Ele nasceu em Pará de Minas, em 25 de agosto de 1944 e faleceu em Belo Horizonte em 16 de janeiro de 2012. Em 2010  foi reconhecido como Acadêmico Honorário da Academia de Letras de Pará de Minas.

 

 

O escritor Bartolomeu Queirós no auditório do Sindicato Rural de Pará de Minas, ao receber o título de Acadêmico Honorário da ALPM (09/09/2010)

Era formado em Educação e Artes. Participou de vários projetos nacionais de incentivo à leitura. Estudou Pedagogia em Paris. Recebeu importantes prêmios literários brasileiros, comendas internacionais da Franca e de Cuba. Com o livro "Indez" foi o vencedor do Concurso Internacional de Literatura Infanto-Juvenil (Brasil, Canadá, Suécia, Dinamarca e Noruega). Teve textos adaptados para o teatro, dentre eles, "Ciganos", encenado pelo Grupo Ponto de Partida. Sua obra tem sido tema de teses acadêmicas (nas áreas de Literatura e Psicologia) em universidades brasileiras. Autor de 43 livros, com traduções para o inglês, espanhol e dinamarquês.

Sua obra explora temas como a infância, a memória e a relação com a natureza. Teve uma carreira literária marcada por uma linguagem poética e sensível, que conseguiu atrair e cativar leitores de todas as idades. Além disso, também escreveu contos, crônicas e ensaios, sempre com uma prosa rica e reflexiva. Seus escritos buscam compreender a existência humana, as relações interpessoais e os sentimentos, explorando temas como a solidão, a busca por pertencimento e a complexidade das emoções humanas.

Bartolomeu é frequentemente associado ao movimento da literatura infantil e juvenil no Brasil, e sua obra é reconhecida por sua capacidade de tocar em questões universais de forma acessível e poética. Ele também foi um defensor da leitura e da educação, contribuindo para o desenvolvimento da literatura voltada para o público jovem. Ele defendia que a leitura é fundamental para o desenvolvimento do pensamento crítico e da sensibilidade. É de sua lavra o documento "Manifesto por um Brasil literário", que publicou em 2009. Nele afirma que a leitura "promove em nós um desejo delicado de ver democratizada a razão".

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Publicações: 

O Peixe e o pássaro. Infantil. Belo Horizonte: Formato, 1971

Pedro - o menino que tinha o coração cheio de domingo. Infantil. Belo Horizonte: Miguilim, 1977

A vida e obra de Aletrícia depois de Zoroastro. Inf.. Estória em três atos. Inf. Belo Horizonte: Miguilim, 1980

Mário - ou e pedras, conchas e sementes. Infantil. Belo Horizonte: Miguilim, 1982

Onde tem bruxa tem fada. Infanto-juvenil. Belo Horizonte: Moderna, 1982

Ciganos. Infanto-juvenil. Belo Horizonte: Miguilim; 1983

Ah! Mar.. Infanto-juvenil. São Paulo: Quinteto Editorial, 1985

Cavaleiros Das Sete Luas. Infantil. Belo Horizonte: Miguilim, 1985

Faca afiada. Infanto-juvenil. São Paulo: Moderna, 1985

Coração não toma sol. Infanto-juvenil. São Paulo: FTD, 1986

Correspondência. Infanto-juvenil. Belo Horizonte: Miguilim, 1986

Indez. Infanto-juvenil. Belo Horizonte: Miguilim, 1988

Apontamentos. Infanto-juvenil. Belo Horizonte: Secr. Ed. de MG, 1989

Papo de pato. Infantil. Belo Horizonte: Formato, 1989

Diário de classe. Infantil. Poesia. Belo Horizonte: Moderna, 1990

Entretantos. Infantil. Escritura. Histórias bíblicas. São Paulo: Quinteto, 1990

Minerações. Infantil. Belo Horizonte: RHJ, 1991

Ler, escrever e fazer conta de cabeça. Conto. Belo Horizonte: Miguilim, 1991

Por parte de pai. Infanto-iuvenil. Belo Horizonte: RH.J, 1995;

As patas da vaca. Infantil. Belo Horizonte: Miguilim, 1996

De não em não. Infantil. Belo Horizonte. Miguilim, 1998

Para criar passarinho. Infanto-juvenil. Belo Horizonte: Miguilim, 2000

Flora. Infanto-juvenil. Belo Horizonte: Miguilim, 2001

Bichos são todos bichos. Infanto-juvenil. São Paulo: Brasil, 2001

Mais com mais dá menos. Infantil. Belo Horizonte: RHJ, 2002

Matinta Pereira. Infanto-juvenil. São Paulo: FTD. 2002

Até passarinho passa. Infanto-juvenil. São Paulo: Moderna, 2003

O piolho. Infantil. Belo Horizonte: RHJ, 2003

De letra em letra. Infanto-juvenil. São Paulo: Moderna, 2003

Formiga amiga. Infantil. Poesia. São Paulo: Moderna, 2004

Menino de Belém. Infanto-juvenil. São Paulo: Moderna, 2004

O guarda-chuva do guarda. Infantil - Poesia. São Paulo: Moderna, 2004

O olho de vidro do meu avô. Infanto-juvenil. São Paulo: Moderna, 2004

O pato pacato. Infanto-juvenil. São Paulo: Moderna, 2004

O Raul e o luar. Infantil. 

Os cinco sentidos. Infantil

Pata de Pato. Infantil. Pé de sapo e sapato de pato. 2004


Antes do Depois. Manati. 2006.

Pintinhos e pintinhas. Infantil.

Rosa dos ventos. Infantil.

Tempo de voo. Infanto-juvenil. São Paulo: Comboio da Corda, SM, 2009

Emoções em desalinho - (co-autor Patrus Ananias). Lit. Bras. Ciência política. 

Discurso de Posse de Bartolomeu Campos de Queirós na Academia Mineira de Letras, 3 de Setembro de 2009. Belo Horizonte: Clube de Ed. Mineiras - CEM, 2009

O livro e Ana. Infanto-juvenil. São Paulo: Global, 20o9: Vermelho amargo Prosa poética. São Paulo: Cosac Naify, 2011

O Fio da palavra; ilustrações de Salmo Dansa, 2012 (póstumo)

A filha da preguiça. Infanto-juvenil. Belo Horizonte: Autêntica, 2012 (póstumo) 

Elefante. São Paulo: Cosac Naify, 2013 (póstumo)

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Renascimento

Conceição Cruz
Cadeira n.º 4


Muito de mim está vazio...

Infindável passar

Lento das horas, cheio de

Terna saudade.

Ontem, uma rede de amigos em vívida construção.

Nascer, viver, morrer.... A

 

Cartilha que já sabemos de cor! Seres em

Um constante devir! O tudo de mim agora já é plenitude na

Nova dimensão que sentia existir e que você também

Há de descobrir!

Aqui, você e eu – o todo de nós – vive em genuína eternidade! 
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Imagem: @pngtree

domingo, 18 de agosto de 2024

Aconchego

Márcio Simeone
Cadeira n.º 8
 
 

 
Caem do céu oitocentas palavras bonitas. 
Colho algumas com as mãos em concha
e bebo. 
 
Do alto quinhentas lembranças doces.
Deixo-me banhar de braços abertos
e choro. 
 
Ao redor duzentas e tantas cores vivas
Tomo-as nos olhos molhados 
e rezo.
 
Abaixo um chão de mil imagens belas. 
Que junto com as mãos cansadas
e guardo.
 
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Imagem: @pngtree
 

sábado, 10 de agosto de 2024

O violão

Conceição Cruz
Cadeira n.º 4


Já faz um tempo,

em que o som do violão azul,

com apenas um decalque de rosas miudinhas,

 inundava a sala de estar de minha casa.

 

O seu toque sempre acompanhado

de músicas embevecidas de carinho,

enlevava os corações de todos.

 

Eu ouvia o dedilhar e

fitava maravilhada o passar ágil dos dedos

naquelas cordas de aço

que devolviam suaves melodias...

 

As pestanas!

Ah! As pestanas!

Trabalhosas, vencidas

pela vontade insistente de fazê-las...

 

Toda aquela magia do momento

era lastreada por uma longa e feliz jornada 

de vivência de sentimentos recíprocos.

 

Muitas vezes,

perdi-me na imaginação

de quanta economia  

e de tantas roupas

minha Mãe – costureira –

fez, no decorrer de mais de um ano,

e o desapego ao vender todas suas lindas flores,

para comprar o melhor violão da época...

 

Ah! A viagem demorada

de São José da Varginha

até Belo Horizonte para adquiri-lo

e a volta de ônibus com ele?

 

A surpresa do momento ao presentear

o meu Pai com aquele genuíno Giannini?

Não era um violão!
Era O VIOLÃO!

 

Para além das canções,  

lembro-me de que o violão era

abraçado tão, mas tão docemente,

como se guardasse um inestimável tesouro,

de onde brotava uma estória de amor

sem fim.

 

Há quase três décadas,

sozinho -

sem a presença física de nosso grande amigo -

o violão de madeira de bom cerne,

não cede aos cupins,

 aos modismos

e ao passar dos anos:

 

ele permanece

aqui, em local de honra,

 limpo e impecável como sempre,

a evocar memórias...

 

Minha mãe, já quase centenária, segue

cantando e ouvindo

as mesmas canções que fazem

renascer, em meu peito,

todo o encanto de minha infância feliz.

 

Eu não entendia direito

o quanto aprendíamos

por meio das músicas

e o seu legado permanente.

 

O tempo se esvai

e o que resta daqueles dias,

vale pela nossa vida inteirinha!

 

 

Agradeço pela oportunidade de render homenagens ao meu Pai - José Alexandre da Cruz - e a todos os pais que, tal como Ele, educam pelo Exemplo e registram o Amor e o Respeito em todas as suas manifestações, permanecendo vivos nos nossos corações.

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Crédito da ilustração: Imagem de storyset no Freepik

 

sábado, 3 de agosto de 2024

Desencontro

Márcio Simeone
Cadeira n.º 8

Houve um tempo em que o mundo estava cheio de perguntas. Elas foram há muito semeadas e circulavam inquietas por toda parte. Sim, porque as perguntas eram sempre muito agitadas,  estavam sempre ansiosas e muitas delas eram não só impacientes, como impertinentes, onipresentes interrogações à procura de onisciência. 

Naquele tempo as perguntas eram jovens e buscavam achar as respostas como quem busca um feliz encontro com a razão e, quem sabe, com a luz. Afinal, cada resposta encontrada, ainda que não fosse a melhor,  acendia uma lâmpada no fosso escuro da ignorância e indicava algum caminho no labirinto da mente. A prazerosa conjunção, a um só tempo fonte de gozos e de culpas, gerava exclamações e desejos infinitos. 

Contudo, o tempo envelheceu as perguntas e muitas, cansadas e infelizes, foram se divorciando de suas respostas. Abandonadas, hoje são as respostas que vagam inquietas à procura de perguntas. Se não as acham, multiplicam-se sozinhas; são sentenças que se acham livres e creem que tudo explicam. Estão em todo lugar, mas não formam parte em nenhum. Não se sabe bem como, mas foram se tornando arrogantes e tomando para si toda a razão. Inundam cada espaço com um excesso de luz, cujo brilho atrai os predadores e cega os inocentes.

Lamenta-se o triste destino de um mundo de perguntas errantes, refugiadas como seres sem pátria, que só se apoiam em si mesmas para sobreviver. Mas em algum canto se escondem aquelas indagações de sempre, as eternas, que nunca envelhecem ou esquecem, cuja existência humilde não faz caso do tempo, tampouco se importa com a presença mesquinha dos conceitos definitivos. Curiosas, alimentam-se de ideias simples e dispensam os luxos das certezas, conservando à parte os mistérios e as esperanças. Elas se mantêm confiantes na atração recíproca, na qual perguntas e respostas mutuamente se busquem sem exigir perfeição e totalidade, produzindo sentido no próprio encontro e abrindo os caminhos para a sabedoria e o entendimento. Sabem que  melhores respostas só podem existir de par com melhores perguntas e todas formando uma constelação. Tal busca não é só ciência, é arte.
 
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sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Perdão

Conceição Cruz
Cadeira n.º 4

O Rio - ativo- por vezes nasce no alto,
escorrega pelos terrenos urbanos e rurais.

O Homem experimenta o Rio
e dele não quer se separar:
surgem as grandes cidades...

O rio, em passividade,
recebe toda a sujeira humana...
E se deixa confinar em diques, barragens...

Vendo-o, assim sem pássaros, sem peixes,
todo sujo e mau cheiroso,
a Mãe Natureza resolve dar-lhe um bom banho:
despeja, vigorosamente, água limpa do céu!

As águas, antes tristes e confinadas,
saem fazendo festas e peripécias, retomando para o rio
o que desde há muito antes, já era seu.

Fluídas e corajosas
querem vivenciar a experiência humana:
assim, transpõem os muros e
passeiam pelas varandas, salas, quartos,
ruas, avenidas, praças e quintais...

Homens, mulheres e crianças
não sabem dialogar com as águas...
Alguns perdem a vida,
outros são arrastados de sua zona de conforto...

O rio brincalhão e sorrateiro
tem pena das pessoas
(que o maldizem e o culpam!)
Volta ao seu leito estreito. Confinado...

As pessoas agora vivenciam o que elas mesmas
fizeram a ele, por ação ou omissão:
tal qual as pessoas deixam suas podridões no rio,
as águas, antes de irem embora,
deixam, nas casas, o registro de terem vivenciado
uma das experiências humanas...
O rio devolveu os presentes que as pessoas lhes deram...

O rio deixou para trás
lama fétida!

O rio deixa de ser brincalhão e inconsequente,
retoma a consciência, pede perdão!
Abre seus braços em busca
do Oceano de Infinita Misericórdia,
enquanto pede também perdão para os homens:

_”Pai, perdoai-lhes porque eles, os homens, realmente,
não sabem o que fazem!” 

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quinta-feira, 1 de agosto de 2024

O que faz um texto ser poesia

Geraldo Phonteboa
Cadeira n.º 14

 

Em última análise, tudo é texto, só e tão somente só. Mas convenhamos, há textos que o escritor consegue dispor as palavras de tal jeito que os "sons" que eles emitem parecem ter vida própria. A disposição do sons das palavras, alinhada com outros sons de outras palavras vão compondo a melodia do texto. Estes "sons", às vezes, em sua maior parte é tão maravilhoso que muda o sentido das próprias palavras utilizadas em sua composição, e então, chegamos a esquecer que estamos lendo um texto.

A poesia, de modo mais específico - por suas características próprias que é o de revelar e ocultar, dizer e não dizer, indicar e indiciar, promover e revolver à curva da obscuridade - é geralmente o texto que mais deixa de ser texto. Porém não é a sua disposição em versos e estrofes, em ritmo e rima que faz o poema ser poesia. Explico.

Uma poesia ultrapassa a forma de poema. A poesia é poesia pela forma como o autor encadeou os sons de modo a dar às palavras novos significados, de forma a dizer coisas de maneira única ou até então não pensada. O poeta, consegue, na forma, no ritmo e na rima - mesmos as mais dissonantes possíveis - atingir o impossível, sair do lugar comum e propor algo completamente inusitado. E para fazer isto o poeta se especializa em utilizar a metáfora.

Eis aí o segredo: a metáfora. O que faz o poema ser poesia é o domínio da metáfora por parte do poeta - ou seria o contrário: o domínio do poeta pela metáfora... Poesia não é para qualquer um! Poesia são para os de alma livre que se deixa embeber pelas metáforas, ora simples, ora complexas e mágicas. Sim as metáforas dão alma aos poemas e os transformam em poesia. As metáforas podem ir além e ultrapassar a forma do poema e transformar uma narrativa, um conto, uma crônica em poesia.

Comece a observar como os poetas utilizam-se das metáforas e verás quanta poesia está presente nos textos que escrevemos. Mas não se assuste! Você encontrará inúmeros textos dispostos em formato de poemas que não são poesias... são apenas textos.

O poesia é o inusitado do poema. Se preferir utilizemos conceito de poesia do grande poeta Manoel de Barros...

"Poesia é voar fora da asa".

 

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