sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Peça baseada em obra de escritora da ALPM recebe prêmios em Festival

A peça “Impermanência”, baseada no livro “Laranjas doces, laranjas amargas, a vida é um estado de impermanência”, de autoria da escritora Conceição Cruz, da Academia de Letras de Pará de Minas, representada pelo 16barra2 Grupo de Teatro, de Belo Horizonte, recebeu os prêmios de melhor ator coadjuvante, melhor atriz coadjuvante, melhor maquiagem e indicação para melhor figurino no no VI FestPon  - Festival de Teatro de Ponte Nova, realizado de 11 a 22 de setembro naquela cidade da Zona da Mata Mineira. O espetáculo, que utiliza a linguagem das máscaras, conta a história de 2 jovens que perderam seu grande amor e, por acaso ou destino, acabam se conhecendo. O Coletivo de Teatro 16barra2 nasceu em 2017, formado por estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais.

Clique aqui e veja o vídeo teaser da peça.

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Cartas Acadêmicas - Número 1

Hernani Almeida
Cadeira n.º 16

Em algum lugar do universo nasceu um sopro de ideias, de forma sutil penetrou em meu âmago e fez-me ouvi-lo. Em sua essência ruminei aquele sopro universal e transformei-o em doces palavras de equilíbrio que denominei Amor!

Alguns o denominam de poesia, talvez pela forma ou pela ideologia, mas, creio que todos sintam o amor que tenho incrustado naquelas palavras de anseio, às vezes de choque de pensamentos e desejos.

Mas, realmente só desejo um objetivo, talvez utópico, mas real em minha angustiada certeza de que deste sopro de ideias, surgirá um novo sonho que possivelmente será lapidado e finalmente tornar-se-á real aos olhos de todo trabalhador das letras. Sopro de ideias, poesia, não importa o adjetivo empregado. O que tem real importância é que nós poetas passamos para o papel sentimentos, emoções das mais diversas espécies, buscando sempre levar o homem ao ato de pensar e assim tornar-se cada dia melhor para si e para o semelhante.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Restart, Fresno e o senhor

José Roberto Pereira
Cadeira n.º 12


_ Bom dia!

_ Aperte o 15, por favor.

_ Este elevador já me deixou preso duas vezes este mês.

_ Nem me fale isso, meu senhor!

_ É sério!

_Você é do...

_ 18.º andar.

_Já tenho pavor de só entrar no elevador. Imagine se ele estraga?

_ Não vai acontecer.

_Como o senhor sabe?

_ Me chame de “você”. Não sei. Mas hoje não vai acontecer.

_ Eu já fiz uma reclamação ao síndico para que se faça uma manutenção.

_Todo o mundo já fez. O problema é que os técnicos estão de greve.

_ Está brincando. Isso é verdade?

_ É, sim.

_Meu Deus! Não acredito. O senhor, quer dizer, você disse que hoje o elevador não estragaria.

_Me enganei.

_Ah, meu Pai! Como o senhor, quer dizer, como você se engana assim?

_Fique tranquila. Em pouco tempo, alguém nos descobre aqui e chama o síndico.

_Quanto tempo?

_Não sei. Dá última vez, fiquei uma hora e dez minutos.

_Tudo isso? E, além do mais o senhor, quer dizer, você me disse que os técnicos estão de greve.

_ Talvez fiquemos um pouco mais.

_O quê? Um dia, uma semana, um mês? Ah, meu Deus! Está balançando ou descendo?

_Não sei.

_ Não sabe o quê? Quanto tempo vamos ficar ou se o elevador está descendo?

_Se ele está descendo.

_Eu tenho claustrofobia. Socorro! Socorro!

_ Não grite. É pior.

_ Ele está descendo. Descendo.

_Não, estamos parados. Ele está apenas se mexendo.

_ Eu nunca ouvir dizer que elevador se mexe, meu senhor. Ah, “meu senhor”, desse jeito, empregado assim na frase, como uma maneira de falar, pode ser dito?

_Não sei. Não entendo português. Prefiro que não.

_Ah, vá a merda! Estou entrando em pânico!

_Não grite! É pior.

_Meu celular, preciso ouvir Restart. Isso me tranquiliza. O senhor, quer dizer, você se importa se eu ouvir Restart?

_Nós podemos esperar o elevador despencar primeiro?

_ O que o senhoooor tem contra o Restart?

_Nada. Somente contra o “senhor”.

_Senhor de Senhor ou o senhor pronome de tratamento?

_ O senhor pronome de tratamento.

_ Ah, graças a Deus! Voltou a funcionar. Nono, décimo, décimo primeiro. Ahhhh, décimo quinto andar. Graças a Deus! A porta abriu. Deixe-me sair rapidamente. Estamos salvos.

_ Do Restart, acredito eu.

_Escuta aqui. O que o senhoooor não gosta de música?

_ Fresno.

_Eu amo.

_ Você tem no celular?

_ Tenho, sim. Bem, acho que posso voltar para dentro do levador. Será que ele vai estragar novamente?

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Achados

Márcio Simeone
Cadeira n.º 8


Já perdi a conta de quanto tempo passamos juntos. Às vezes acho que apenas alguns meses, mas as fotos insistem numa contagem em escala diferente. Muitos anos, o suficiente para não fazer contas de imediato. Das fotos mais antigas às mais recentes, mudamos quase nada. Pelo tempo decorrido, isso parece milagre. Talvez seja isso mesmo, ou são nossos olhares, mais generosos, que não deixam ver um tanto de mudanças sutis. Ou, quem sabe, pequenas mudanças: no figurino, no corte do cabelo, um óculos de armação mais leve e discreta, isso talvez distraia a atenção quanto ao resto. É possível que não prestemos atenção à nossa disposição corporal. Sim, das primeiras às últimas fomos ficando mais pesados, mais atados ao chão. Pode ser que isso seja o que todos chamam de maturidade. Ou pode ser somente a diminuição (natural) dos encantos, uma espécie de paixão curada. Olhe só como os lugares evoluem: fomos cada vez mais longe, mas com menos aventuras. Também acho que estamos mais bem vestidos, nos instantâneos mais recentes. Só não sei se nos tomamos de mais vaidades. Acho que não. É, tem o fator financeiro, maior sucesso profissional, mais responsabilidades, muitas ocupações, tanta coisa! O mundo mudou muito à nossa volta, tanto quanto mudou em nós mesmos. Tudo cresceu. Temos tantas coisas novas! Mas nosso aspecto nas fotos não está envelhecido - e isso é mágico. Podemos fazer de conta que nos conhecemos há bem pouco tempo. Podemos ainda nos ver nas primeiras imagens, tão soltas: somos nós mesmos! Aquela foto na beira do lago, aquela na praia famosa, outra ainda na cachoeira magnífica. À procura das águas! Pois é sempre o mesmo sentimento. Parece ser a mesma busca de sempre, mas será que já não achamos?

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Crédito da imagem: Vintage vetor criado por rawpixel.com - br.freepik.com

sábado, 7 de setembro de 2019

A redescoberta

Regina Marinho
Cadeira n.º 6




As caixas foram todas dispostas no chão da sala do diretor. Chegaram à penitenciária  endereçadas a ele, presidiário em Shawshank, juntamente com um bilhete. Eram a resposta tardia à sua solicitação de verba para reforma e ampliação da biblioteca do presídio. O bilhete lhe informava que o Estado do Maine destinara uma verba para o projeto da biblioteca, cuja ordem de pagamento, no valor de duzentos dólares, seguia anexada. As caixas continham livros, discos e outros objetos usados doados pela Biblioteca Nacional.
Surpreso, Andy ouve e responde afirmativamente à ordem do capitão, de levar, imediatamente, todas as caixas para a biblioteca. Assim que o capitão se retira, o guarda Wiley, que não conseguira esconder sua satisfação, parabeniza-o. Tomado de alegria, Andy ironiza: "foram só seis anos!! Agora vou escrever duas cartas por semana em vez de uma!" Wiley não duvida, diz que vai ao banheiro e que, na volta, não quer ver mais nada ali.
Quando se vê sozinho, Andy não tem pressa. Ele se dá o tempo de estar ali para contemplar o que não veio de graça, por boa intenção do doador. Tudo aquilo viera para por fim ao incômodo que ele, remetente teimoso, inconveniente e sem cansaço, havia causado com suas 288 cartas, aproximadamente, enviadas à assembleia do Estado.
Diante da caixa de discos, Andy passa os primeiros álbuns até que um lhe chama imediatamente a atenção. Ele o põe na vitrola pra tocar. Uma belíssima melodia preenche o recinto. É a Canzonetta sull'aria das Bodas de Fígaro, de Mozart, um belíssimo dueto de vozes femininas. O guarda Wiley, sentado no vaso sanitário, se assusta quando ouve a música e pergunta a Andy o que está havendo. Ele não responde, pois uma ideia iluminada já lhe ocorrera. Estava tudo ali, à sua mão. Mais que depressa, tranca a porta do banheiro pelo lado de fora e também a porta da sala onde está. Depois disso, liga a saída de som para o alto-falante do pátio externo e  também das outras instalações da cadeia, de forma que o som retumbe pelos ares e alcance os ouvidos de cada detento que está tomando sol, dos que estão nos outros recintos do presídio ou nas camas da enfermaria. Presos, guardas, enfermeiros e demais funcionários levam o olhar numa mesma direção, ouvidos atentos e invadidos pela surpreendente música, coisa jamais ouvida ali. A cena é linda com a música a lhe dar alma!!! Numa tomada que parte de baixo para cima, a câmera vai em direção à fonte do som, no topo de um poste, focalizando os homens no pátio, todos paralisados, em êxtase. Nesse momento, ouve-se a fala do narrador da história, Red, também prisioneiro. “Até hoje não sei o que aquelas mulheres italianas estavam cantando… Na verdade, nem quero saber. Certas coisas é melhor que não sejam ditas. Imagino que cantassem uma coisa tão bonita que não podia ser expressa em palavras e faz seu coração doer por causa disso. Só sei que aquelas vozes voaram mais alto e mais longe do que alguém ali poderia sonhar. Foi como se um lindo pássaro invadisse nossas jaulas e fizesse ruir todas aquelas paredes. E por um momento muito breve todos os presos de Shawshank se sentiram livres”.
Quando o diretor do presídio chega, furioso, o intento de Andy já se cumpria. Com os pés sobre a mesa, o rosto sereno, braços dobrados para trás e mãos entrelaçadas sob a nuca, parecia que sua sorte já era outra, que a esperança já lhe tivesse trazido a liberdade. O diretor ordena que Andy desligue imediatamente o som. Ele sente o peso da ordem, sai de sua posição, mas reacende a coragem. Em vez de desligar o som, olha nos olhos do mandatário e aumenta o volume. Depois disso, Andy fica preso na solitária por duas semanas. Quando sai, os colegas perguntam-lhe se o que fizera tinha valido a pena. “Mozart me fez companhia”, ele disse. “Deixaram você levar o toca-discos?”, alguém pergunta. “Ele está aqui (aponta para a cabeça) e aqui (aponta para o coração). Essa é a beleza da música: Ninguém tira isso de você. Nunca sentiram isso?”.
A cena acima, narrada por mim de forma muito pessoal, é parte do filme Um sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption), baseado na novela Rita Hayworth and Shawshank Redemption, de Stephen King. No filme, dois personagens de peso se destacam: Andy (Tim Robbins), possivelmente o único prisioneiro inocente a cumprir pena em Shawshank, e Red (Morgan Freeman), o narrador do filme.
Creio que a inteligência de Andy seja seu atributo mais evidente, pois é seu passaporte para a liberdade. No entanto, esta cena, especialmente, revela atributos de um homem que não se priva da beleza e da emoção, que não se deixa embrutecer pela dura rotina de agressões ou pelos vinte injustos anos de reclusão. Andy é um homem que mantém viva sua esperança e que deseja, ardentemente, a liberdade, mas, enquanto está ali, sabe se fazer igual, ser companheiro, ser solidário, partilhar conhecimentos e buscar melhores condições de vida para todos. Ele provoca as mais significativas transformações no presídio, enquanto instiga, nos companheiros, as transformações internas. Red, o narrador, observador atento e igualmente sensível, é capaz de perceber a delicadeza, a generosidade e a inteligência de Andy. Torna-se seu amigo mais próximo e fiel confidente. E será essa amizade capaz de reacender em Red a chama quase apagada da esperança.
Fico pensando que este filme, e particularmente esta cena, tem muito a nos ensinar sobre solidariedade, empatia, coragem, sem esquecer a beleza, a ternura, a delicadeza e a amizade. Tudo isso nos falta nos tempos atuais, em que deixamos de ser solidários, ternos, gentis e empáticos, simplesmente por intolerância ao pensamento divergente, numa época de extremadas opiniões políticas.
Creio que somos todos mais prisioneiros que os detentos de Shawshank. A fictícia penitenciária é muito real aqui do lado de fora, onde seguimos presos a nossos preconceitos, opiniões, verdades e certezas absolutas. Certezas que reduzem nossa capacidade de amar e não deixam espaço para acolhimento e aprendizado. Quem tudo sabe, nada aprende. Há esperança para nós?
O filme mostra que a esperança, coisa perigosa, no dizer de Red, é também poderosa, no agir de Andy. A esperança nos revela o que já temos, embora não saibamos: “há algo dentro de nós que ninguém pode tocar”. Reencontrar este espaço, escondido e acessível, cujo estreito acesso impede que levemos qualquer excesso, nos fará deixar nossos pesados fardos, aos quais vivemos apegados por tanto tempo: nossas certezas irrefutáveis, nosso ponto de vista indiscutível, nosso saber incomparável. Redescobriremos que a leveza do ser não carece de nada que a sustente, que liberdade não é algo que se tenha ou não, como bem que se conquista. A liberdade existe, como condição essencial em nós, desde sempre. E sua finalidade não é outra senão amar.
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Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption) - EUA - 1994
Direção: Frank Darabont
Elenco: Tim Robbins, Morgan Freeman, Bob Gunton e outros
Duração: 142 minutos
Produção: Columbia Pictures/Castle Rock

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Setembro: ALPM faz 22 anos


Neste mês de setembro, a Academia de Letras de Pará de Minas completará 22 anos. Tendo por finalidade a cultura da Língua e da Literatura nacionais, a Academia foi fundada em 20 de setembro de 1997, em assembleia realizada na Escola Estadual Manoel Batista. 

Foram 13 os primeiros membros fundadores que, no ato de fundação, sortearam as suas cadeiras e apresentaram os patronos por eles escolhidos. O primeiro presidente eleito foi o acadêmico Hernani José de Almeida. A instalação aconteceu em 15 de novembro do mesmo ano, em sessão solene realizada no Centro Literário Pedro Nestor.

Os membros da ALPM em 1998:

Da esquerda para a direita:
Em pé: Roberto Eustáquio Neves, Júlio Maria Saldanha Teixeira, Dirceu Mendonça Álvares da Silva, Paulo Roberto dos Santos, Hernani José de Almeida, Márcio Mendonça Meireles, Valmir José Costa Diniz, Márcio Simeone Henriques e Pedro Luiz Gonzaga.
Sentados: Terezinha Pereira, Maria Adélia Chellini Salles, Ana Cláudia de Souza Saldanha,  Sílvio Lage Pinto, Hila Flávia Marinho Teodoro e Lígia Augusta Muniz.
(Nesta foto estavam presentes os 13 fundadores, já com o acréscimo de Maria Adélia Chellini Salles e Márcio Mendonça Meireles, eleitos em 1998).