quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Achados

Márcio Simeone
Cadeira n.º 8


Já perdi a conta de quanto tempo passamos juntos. Às vezes acho que apenas alguns meses, mas as fotos insistem numa contagem em escala diferente. Muitos anos, o suficiente para não fazer contas de imediato. Das fotos mais antigas às mais recentes, mudamos quase nada. Pelo tempo decorrido, isso parece milagre. Talvez seja isso mesmo, ou são nossos olhares, mais generosos, que não deixam ver um tanto de mudanças sutis. Ou, quem sabe, pequenas mudanças: no figurino, no corte do cabelo, um óculos de armação mais leve e discreta, isso talvez distraia a atenção quanto ao resto. É possível que não prestemos atenção à nossa disposição corporal. Sim, das primeiras às últimas fomos ficando mais pesados, mais atados ao chão. Pode ser que isso seja o que todos chamam de maturidade. Ou pode ser somente a diminuição (natural) dos encantos, uma espécie de paixão curada. Olhe só como os lugares evoluem: fomos cada vez mais longe, mas com menos aventuras. Também acho que estamos mais bem vestidos, nos instantâneos mais recentes. Só não sei se nos tomamos de mais vaidades. Acho que não. É, tem o fator financeiro, maior sucesso profissional, mais responsabilidades, muitas ocupações, tanta coisa! O mundo mudou muito à nossa volta, tanto quanto mudou em nós mesmos. Tudo cresceu. Temos tantas coisas novas! Mas nosso aspecto nas fotos não está envelhecido - e isso é mágico. Podemos fazer de conta que nos conhecemos há bem pouco tempo. Podemos ainda nos ver nas primeiras imagens, tão soltas: somos nós mesmos! Aquela foto na beira do lago, aquela na praia famosa, outra ainda na cachoeira magnífica. À procura das águas! Pois é sempre o mesmo sentimento. Parece ser a mesma busca de sempre, mas será que já não achamos?

____________________________
Crédito da imagem: Vintage vetor criado por rawpixel.com - br.freepik.com

Um comentário:

  1. Muito bom, Márcio! Legal ver que não perdemos, em nós, o que fomos. Somos a criança, o jovem... Tudo é o que somos numa integração perfeita do passado com o presente e com o vir a ser a partir do que já é. E é sempre bom nos perguntar se ainda buscamos algo que já alcançamos há muito. Regina Maria

    ResponderExcluir

Os comentários neste blogue são moderados.