quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Primeiro Natal em Belo Horizonte

Malluh Praxedes
Cadeira n.º 19

Em Pará de Minas, nosso Natal era uma alegria única. Família com dez filhos e uma quantidade infinda de primos e amigos, nossas festas de final de Ano eram recheadas de gratas surpresas.
Católicos que éramos, íamos à tradicional Missa do Galo - à meia-noite, na Capela do Hospital das Irmãs, e voltávamos para casa para dormirmos e acordarmos com os presentes em nossos sapatos, colocados os oito pares debaixo do presépio montado em cima da radiola. Não me lembro muito se nossa árvore era esse 'carnaval' dos dias atuais. Acho que eram pequenas e simples. Também ficava em cima da radiola.

Músicas natalinas soavam desde cedo - coisa que mamãe fazia questão era de abrilhantar o dia.
Almoço com aquelas gostosuras todas, bem ao estilo de nossa família. Nada de excessos: _Temos que pensar nos pobres!

[Intervalo]
 

Caridosa que era, mamãe organizava cestas de Natal com a vizinhança. Morávamos na Rua Direita, bem ao lado do hospital e do então Cine Vitória. Gostava de acompanhá-la e ouvia suas 'súplicas' para convencer os bem de vida a doarem um pouco para os mais necessitados. Voltava cansada e, à mesa, papai comentava: _Noêmia, nem todo mundo entende seu gesto! Mas mamãe não desistia nunca!


Assim, uma semana antes, ia eu no carro com o meu irmão Hudson entregando cestas, bem orientada por mamãe e as ajudantes desse gesto tão humano. Lembro-me de uma jovem mãe com seus três pequenos e um recém-nascido no peito. A cesta que mamãe escolheu para ela tinha leite em pó, muitas bolachas, além do arroz, feijão, farinha, fubá, macarrão e doces em barra. A alegria da jovem mãe se triplicou ao abrir um pacote de bolachas e distribuir para os pequenos. Foi uma festa que jamais me esquecerei... as crianças pulavam de euforia, e, pela única vez na vida me senti uma "enviada do menino Jesus"!


Ah! Um detalhe: lá em casa nunca existiu esse tal de Papai Noel. Era Menino Jesus e pronto. Nada do bom velhinho vestido para a campanha da Coca-Cola.

...Em Belo Horizonte

Naquele ano mamãe nos explicou que, já que havíamos nos mudado para Belo Horizonte, a partir de então, iríamos nos adaptar à vida da capital de Minas. Ok, achei meio estranho não ter aquele entra e sai de primos e amigos e também sem Missa do Galo, já que era "perigoso andar à pé até a Igreja de Fátima, no Bairro de Lourdes". _Agora faremos ceia e os presentes serão entregues junto! 

Claro, já não éramos criancinhas mais, apenas um pouco adolescentes. Foi a noite mais sem graça da vida. As luzes todas acessas, mas, mesmo assim, não apareceram nossos amigos - que naquele
ano já faziam parte de nossa turma da "Barbariede". Cada qual na sua casa com familiares e amigos.
Mal terminou a noite e mamãe avisou: - Espero nunca mais ter que passar um Natal por aqui. A partir do ano que vem iremos todos para Pará de Minas! Lá estão nossos entes queridos!

Mamãe estava certa. A partir de então, todos nós nos deslocávamos para nossa terra natal. Era uma delícia: Alfredo, o Tate, o Nal, sempre apareciam depois da ceia. As gargalhadas corriam soltas. Muita comida gostosa e ainda não existia essa "moda" de tomar vinho: era cerveja ou cuba-libre. Era assim que nos divertíamos nos anos 1970!

Um Bom Natal e um Ano Novo com muito amor, caridade e conscientização humana. Vamos precisar disso.

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