24 de dezembro de 2025

O presépio de lá de casa

Regina Marinho
Cadeira n.º 6

Uma vez, quando éramos bem pequeninos, uma história linda nos foi contada. Desde então, a cada final de ano, a mesma história se repetia, trazendo-nos sentimentos de alegria e desejo de união e paz aos corações.

Crescemos ouvindo, vendo e sentindo essa história tomar forma num canto da sala, onde mamãe criava uma cena rupestre com papel, panos e saco de linhagem. Depois, ia posicionando peças de gesso coloridas que representavam Maria, José, os pastores, as ovelhas, o boi, o burrinho, o galo, o anjo e a estrela. Cada peça era cuidadosamente colocada nesse cenário rudimentar.

Bem no topo da “montanha”, ficava uma armação de madeira como fosse um estábulo. Os magos, que a tradição religiosa chamou de reis e lhes deu os nomes Gaspar, Belchior e Baltazar, só chegariam muitos dias depois do nascimento do menino. Por esse motivo, ficavam no sopé do “monte”, para mostrar que ainda percorreriam um longo caminho. Meus irmãos e eu íamos ajudando neste processo, pra que o presépio ficasse lindo de viver!

Os demais personagens tinham lugares definidos. Maria e José ficavam dentro do pequeno estábulo, ansiosos e atentos à chegada do momento tão esperado. Junto deles, também ficavam o boi e o burrinho, pois, segundo mamãe, o bafo quente destes animais é que aqueceu o ambiente, trazendo calor para aquela noite fria, tão distante no tempo e no espaço, mas tão viva dentro da gente.

No nascimento de Jesus, cada personagem manifestou, à sua maneira, a alegria pela vinda do menino. Assim, o anjo e o galo foram os primeiros a comunicarem a boa notícia. O anjo avisou aos pastores da chegada do salvador prometido, e o galo, com seu canto vibrante e potente, fez o anúncio às demais criaturas antes mesmo do dia clarear.

Aqui e ali, outras peças iam se somando. Os pastores ficavam bem perto do estábulo, pois foram os primeiros a chegar, conforme nos diz o relato bíblico. Levavam consigo algumas ovelhas: as mais grandinhas podiam ficar um pouco distantes, pois já reconheciam seu pastor e não corriam o risco de se desgarrarem, mas as novinhas, coitadinhas! eram ainda muito ingênuas. Por isso, os pastores as levavam consigo, pra que se familiarizassem com seu cheiro, atendessem a seu chamado e aprendessem a segui-lo. Suspeito que esses venturosos pastores sabiam de algo importante muito antes de nós: que aquele que nascia e vinha, em nome do Senhor, seria um bom pastor. Ele chamaria suas ovelhas pelo nome, e elas reconheceriam sua voz e seu cheiro. Se acaso umazinha que fosse se perdesse, ele a buscaria onde quer que estivesse e haveria alegria genuína por este reencontro!

A estrela do oriente é também um símbolo importante no presépio. Apareceu no céu, de onde os magos puderam vê-la, cada qual na sua terra. Resplandecente, ela foi a mensageira celeste da boa notícia para aqueles observadores do céu e seus sinais. Mas, diferentemente dos pastores, que se reconheceram na simplicidade do recém-nascido, os magos acreditavam que a estrela lhes revelava o nascimento do rei dos judeus. Mas aquele pequenino, que depois encontraram envolto em faixas sobre uma manjedoura, local onde se coloca o alimento dos animais no estábulo, seria bem diferente das realezas terrenas. Chamaria a Deus de Pai e falaria de seu reinado, no qual ninguém seria excluído. Essa estrela foi a guia dos magos até a gruta de Belém.

Depois de montado o presépio, no primeiro domingo do advento, apenas uma peça, a mais importante, a que expressa o sentido de todo o cenário, ficava de fora: o menino na manjedoura. Quando alguém manifestava estranhamento, mamãe explicava que o menino ainda não havia nascido e só chegaria na noite do Natal. Dessa forma singela e mística, ela nos introduzia no mistério da encarnação de um Deus que, por amor, se fez tão pequenino, para carregar em si a humanidade inteira.

Feliz Natal!

___________________________________

Imagem de freepik.com 

 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários neste blogue são moderados.