Dirceu Mendonça era uma dessas pessoas singulares e inesquecíveis. Qualquer pessoa que com ele tenha convivido sabe muito bem que a poesia tornou-se um eixo em sua vida simples. Participou de diversas iniciativas culturais, em várias delas como protagonista. Seu desaparecimento precoce deixou, assim, várias lacunas, mas. principalmente, nos corações dos seus amigos e amigas.
Em 2001 iniciamos um projeto na Academia de Letras para registrar entrevistas em vídeo com os seus membros. O primeiro a ter esse registro foi Dirceu. Gravei com ele uma longa entrevista na sua casa. As armadilhas do destino fizeram com que esse depoimento ficasse inédito até hoje. Gravada em um formato diferente dos convencionais analógicos da época, ficou um tempo sem poder ser reproduzido e copiado para edição, quando, então, sobreveio o falecimento do poeta, em 2002. Somente agora, depois de muita procura pelo serviço especializado, consegui fazer a transcrição digital do material quase esquecido, guardado entre tantos outros registros videográficos. E num momento significativo, ano em que Dirceu completaria seus setenta anos.
Duas décadas sem vir a público é indesculpável, na verdade, mas me serve de consolo a ideia de que tudo no mundo tem seu tempo. E este é um tempo de observar à distância, cheios de saudades, a vida deste poeta. Ele fala de seu processo criativo e de seu cotidiano e entrega para nós, de modo espontâneo e simples, muito de si mesmo. Na edição deste material, resolvi me ater estritamente ao que foi capturado na época, neste dia único da tomada dos depoimentos. E também ao roteiro que havia esboçado, em seções que tratam da sua biografia, das suas formas e propósitos de escrita, das suas leituras preferidas, da Academia e de seu patrono. Mas, na sequência, o que é mais importante é a sua forma de viver e de como isso se traduz nos significados que dá à saudade, à fé e a um eterno e clássico mote poético: a Lua.
A oportunidade de mostrar este mini documentário num evento próprio da Academia de Letras torna também este momento único. Uma ligação direta com um dia do passado que parece ontem mesmo e nos conecta com os primórdios da nossa Academia. Por mais que o tempo passe, Dirceu nos prova que sua poesia é eterna e vive em nós. E é como se estivéssemos tomando uma cerveja no Bar do Geraldinho ou ouvindo juntos a Banda Lira Santa Cecília.
Muito bom, Márcio! E que legal saber que poderemos ver uma entrevista tão preciosa!
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