Não fosse pelo aniversário do meu pai e por Francisco e Aparecida, meu outubro seria um mês esquecido e esmagado entre a intensidade do seu predecessor e as urgências e burburinhos dos últimos dois meses do ano. Parece um viajante sem destino e sem agenda, que vive na penumbra do calendário. Ele se arrasta, abandonado nos entremeios da vida, nos interstícios dos meus cronogramas. Resignado, de oitavo virou décimo e resiste, na plena aceitação de seu destino e com lição de humildade franciscana. Neste espaço transitório é que ele caminha sem ser quase notado. Guarda assim a sua beleza discreta e faz seu caminho sem alaridos e sem companhia. Meu outubro é reflexivo, um convite aos pensamentos profundos e ao autoconhecimento. Um momento de abandono ao meu ermitério íntimo. O céu, carregado com a chuva que vem ao longe, é contemplativo e memorioso, que dá ao fim da tarde uma vontade de café com pão. Essa chuva que cai é texto, que dialoga com a alma, e um rito de limpeza espiritual. Meu outubro derrama água, fresca e sonora, e possibilidades infinitas. É hora das expectativas.
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Imagem: gerada por ferramenta de IA