domingo, 25 de fevereiro de 2024

Carvão

Geraldo Phonteboa
Cadeira n.º 14

 

Andei por bosques e grotas de mata fechada
Hoje é só campo, 
centenárias habitantes deste chão
não mais existem... 
Tudo queimou, virou carvão
Aqueceu ganâncias, produziu riqueza vã.

E no lugar ficou só solo nu.
Gramíneas e capim duro
Insistem em acalmar o calor do sol
sobre este chão, em vão.

Ainda ouço o silencioso grito de dor das árvores
quando as motosserras em suas entranhas
abriram fendas, sangrando seivas
destruindo histórias:
mutilação.

Mergulho nesses gritos silenciosos
que só alma conecta consegue ouvir
e minha teimosia me faz lançar 
neste duro chão sementes 
de ancestrais gigantes
na esperança de fazer brotar
nesses campos, antigos bosques
antigas grotas.

E com gravetos em carvão
espalhados por este chão,
escrevo esses versos 
em forma de oração.
Só assim creio na 
Ressurreição.

 

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