Joandre O. Melo
cadeira nº 20
cadeira nº 20
Em uma sala esquecida em um sobrado velho e decadente de dois andares ao
final de uma ruela marginal, onde nem o som da movimentada rua direita
chegava, perdido que ficava por entre os corpanzis dos arranha-céus
imponentes, protegido do sol a pino do meio dia, pelas sombras destes
monstruosos mausoléus de concreto armado, ouvia-se algo inquietante; um
TIC em seguida um TAC, esquecido em um canto desta sala abandonada,
suspenso por um prego enferrujado que penetrou a velha parede há
séculos, imponente com seu pêndulo oscilante, lá estava ele; uma pequena
caixa de madeira toda perfurada pelos cupins, fruto de intrépidos seres
alados desgarrados que chegavam até aquela sala esquecida e sobreviviam
às custas de sua madeira, estava ele lá, um decadente relógio que ainda
emitia seu TIC's e seus TAC's e balançava seu pêndulo; a cada dupla de
TIC's e TAC's uma preguiçosa e magérrima haste, em um concertado
movimento, saltava minúsculos espaços, quando completava uma volta
circular levava consigo outra haste mais robusta a dar um saltinho à
frente, era a única coisa que se movia e prestava-se a algo, assim, a
sala enchia-se de TIC's e TAC's; num momento estranho, a minúscula e
raquítica haste oscilou em desespero; um salto adiante e outro salto de
volta, ouviu-se um TIC, mas não ouviu-se mais o TAC. Tudo parou, agora o
silêncio total imperava, o TAC não vinha, nada se ouvia, ficou tudo
como se estivesse congelado; era o fim dos tempos...
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