A bela professora
universitária entrou na sala de aula como se estivesse na passarela de um
desfile de modas em Paris ou Milão. Embora já estivesse com o atestado médico
em mãos, assinado por uma prima ginecologista, ela resolvera, de última hora,
abandonar o marido e os amigos no refinado restaurante francês Le Bistrot
e ir direto para a universidade. Fez isso pelos alunos, que queriam muito a sua
presença durante a realização da atividade que ela havia preparado para aquela
noite, e que seria aplicada por uma estagiária.
Quando ela entrou na
sala, irradiando beleza e simpatia, havia em seus intestinos meia garrafa de um
vinho francês da Borgonha e uma porção bem fornida de um maravilhoso Cassoulet,
feito especialmente para o grupo com gansos importados da França: um verdadeiro
banquete para as bactérias que viviam ali. Elas se fartaram da mistura, liberando,
no processo, gases como o metano, o sulfeto de hidrogênio e o dióxido de
carbono. Se os ingredientes vinham da França, da Alemanha ou do quintal de um
pequeno roceiro do interior de Minas Gerais não interessava à fauna voraz que
produzia tais gases. Assim que fossem expelidos, federiam, e quanto mais
enxofre houvesse na mistura, mais fedidos seriam.
Enquanto a professora
dizia algumas frases decoradas em francês para impressionar os alunos, tentando
imitar os sons ouvidos no filme Piaf ou em Coco avant Chanel,
uma pequena bolha de gás, contendo uma quantidade considerável de sulfeto de
hidrogênio (rico em enxofre), aumentava de tamanho entre as paredes do seu
intestino grosso. Ela circulava em torno de um bolo fecal de aspecto uniforme e
cor marrom parda, que se movimentava lentamente em direção ao ânus da mulher.
A bolha aumentava de
tamanho a cada segundo. Às vezes a professora até sentia o seu movimento, que
se não fosse o constante toc toc de seus saltos sobre o piso da sala, poderia
ser ouvido até pelo aluno que estivesse mais próximo. E aos poucos outras
bolhas foram se juntando à bolha maior, pois no restaurante a professora conversou
muito (a maior parte do tempo criticando colegas de trabalho que ela
considerava inferiores), e enquanto ria e falava, uma enorme quantidade de ar
entrava pela sua boca. O ar não absorvido pelo organismo ou eliminado pelos
arrotos discretíssimos que ela soltava foi então acompanhando a refeição
intestino adentro.
Enquanto isso, alguns
ácaros iniciavam uma pequena reação alérgica nas mucosas nasais da mulher. Um
leve corrimento teve início, o que fez com que ela tirasse do bolso um lenço
bordado a mão por artesãos indianos, comprado na última viagem que ela havia
feito com o marido à Ásia. Levou o lenço ao nariz e, discretamente, limpou um
excesso de mucosidade nasal que se acumulava na narina esquerda e que estava
prestes a pingar. Uma leve irritação nos olhos e uma coceira em ambas as
narinas começavam a incomodá-la.
De repente, uma bolha
de ar que se movimentava na parte média do intestino grosso se juntou a uma pequena
bolha de dióxido de carbono e sulfeto de hidrogênio (que acompanhava um bolo fecal
atrasado), fazendo surgir uma bolha muito maior. Essa bolha forçou a parede do
intestino, que pressionava de um lado, enquanto o bolo fecal pressionava do
outro, o que fez com que ela se deslocasse rapidamente em direção à outra
bolha, a maior e mais fedida de todas, que já se aproximava do ânus da
professora. Ao se encontrarem, as duas bolhas formaram uma bolha só, de
proporções devastadoras.
Um espirro.
Em pânico, a
professora respirou fundo o ar ao seu redor, com medo de que alguma coisa
tivesse escapado. Nada. Nenhum cheiro desagradável. Ela tinha que sair dali o
mais rápido possível.
Outro espirro, e mais
um, e mais outro. A bolha estava quase lá, a mulher podia sentir, e enquanto
caminhava lentamente em direção à porta, percebeu uma pressão nas paredes do
seu ânus – como um inchaço interno –, que só podia significar uma coisa: uma
enorme quantidade de gases já tinha chegado ali e estava pronta para explodir.
Imediatamente a mulher
parou. Qualquer movimento podia ser fatal. Um novo espirro seria a tragédia
completa. E ali ela ficou, entre duas fileiras de alunos, quase no meio da
sala, à espera de um milagre, de uma intervenção divina que fizesse desaparecer
todo aquele gás acumulado bem na saída, que ela trancava com todas as forças
que sua bem trabalhada musculatura glútea e anal permitia.
Enquanto isso, os
ácaros não davam trégua e provocavam mais coceira no nariz da desesperada
professora, que já não falava mais, apenas aguardava, em pânico, o que o
destino lhe reservava.
Foi quando veio o
espirro, o mais forte de todos, que vibrou a abertura anal com a rapidez de um
raio: um único segundo, o tempo de uma pequena piscadela do esfíncter, mas que
foi suficiente para que uma parte dos gases acumulados sob pressão escapasse
com um enorme estrondo, tão alto, que a tentativa da professora de abafá-lo com
o som do espirro foi em vão.
Tragédia.
Todos os alunos
escutaram o som e perceberam de imediato de onde ele tinha vindo e do que se
tratava. E os que estavam mais próximos da professora sentiram um cheiro tão
fedido, que alguns fizeram vômito, e outros chegaram a vomitar no chão, próximo
aos pés da desesperada mulher, que não sabia onde enfiar a cara. E antes que
ela raciocinasse sobre o que fazer naquela situação, um novo espirro, e um novo
estrondo, ainda mais alto e fedido que o primeiro.
O cheiro estava por
toda a sala. Alguns alunos pediram licença e se retiraram. Outros foram para a
janela. E a professora ficou lá, parada que nem uma estátua, com o pensamento
em branco, sentindo o cheiro dos gases produzidos pelas bactérias dos seus
intestinos: um cheiro de corpo, de carne, de vida e morte: um cheiro de
existir, de ser e estar no mundo, vivendo, comendo e morrendo, como eu, como
você... Como qualquer um.
Flávio Marcus da Silva - Cadeira nº 1
Pobre professora! kkkkk
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