Joandre O. Melo
Cadeira nº 20
A Morte em três atos:
1º ato: A Morte, à surdina, caminha ao meu lado e não sei quando ela vai me beijar. Durante o caminho algumas vezes posso senti-la a murmurar suavemente, mas eu não sei quando ela virá.
2º ato: A Morte caminha ao meu lado e na próxima esquina beijar-me-á, não estarei pronto ao teu beijo, mas não posso recusá-lo. Certamente ela estará com sua mais bela roupa (cetim), então, beijar-me-á com tenebrosa lascívia . Sentirei o gosto da tua amargura, a dor lancinante da tua profunda melancolia. Não há outro caminho a não ser render-me àquele hálito frio, cadaveroso, pusilânime, pois, nunca foi nada senão o fim, a degeneração de tudo...
3º ato: Morte! Afavelmente entrego-me ao teu beijo, escuto e obedeço o teu chamado. Entrego-me a ti, à putrefação, ao ventre da terra para onde conduzir-me-ás; a alimentar teus servos fiéis: os vermes. No afã da coroação desta ignóbil existência entrego-me aos teus servos (os vermes da terra) para que se deliciem com este manjar (meu corpo), agora inerte consumida sua energia vital, não sofro mais; Todavia, que teus servos, Morte, ao devorar meu coração saibam que nunca existiu um pedaço de carne que sofreu tanto em uma só existência.
Conseguiu ser tenebroso o bastante. Vixe!
ResponderExcluirO único convite realmente irrecusável. Pode?
Abraço,
Terezinha