Márcio Simeone
Cadeira n.º 8
Pulsa em mim o desejo de invadir o mundo microscópico e lá habitar. Talvez pela crença que mansamente me dominou de que a graça e a poesia só existem de fato nas minúcias.
Quando um dia aprendi que cada parte contém o todo, sonhei observar os átomos e partículas ainda menores a bailarem numa dança quântica imparável, tanto alegre como indefinível, sendo, ali, todo o universo. Nesse reino infinitesimal, pareceu-me haver uma agitação silenciosa, um caos sem ruídos.
Pus-me a pensar que os micro-organismos são vida altamente concentrada e, por que não dizer, poderosa. Seres pequeníssimos que podem tombar os grandes. Imaginei as sementes como um arquivo inteiro de memórias ancestrais preservadas pela genética, um repositório em mutação. Nelas estão inscritos todos os jardins, plantações e florestas inteiras, assim como em cada palavra idealizei um livro e uma biblioteca. No grão de areia, um viajante do tempo e do vento, adivinhei praias e dunas e no grão de pólen uma vida possível.
Tais visões me convidaram a redefinir minha escala de grandeza: do muito para o profundo. É um chamado a penetrar na riqueza de mundos inexplorados, a conhecer tudo que há e tudo que é neste domínio do ínfimo, na plena intensidade de suas vibrações. Só assim para ver num sorriso uma constelação e no brilho do olhar uma alma.
Para mergulhar nessas profundezas hei de reduzir-me, como uma gotícula que em si comporta oceanos de significados. Um ser minúsculo e metafórico, que contemplará as imensidades e seus mistérios no tudo e no todo.
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Imagem: criada com auxílio de IA generativa
"Do muito para o profundo" é o começo de um maravilhoso caminho mistagógico.
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