Meu setembro, o sétimo deslocado, é sulino e sutil. No ritmo lento dos retornos, é o ponto de equilíbrio entre o claro e o escuro. Atravesso por ele o limiar breve do encontro perfeito do dia com a noite, na trégua da infinita batalha travada entre as trevas e a luz. Os meios-tons da aurora são derramados sobre toda a natureza, até então desbotada, e ouve-se a intensa respiração da terra. Mas é no crepúsculo que o mundo suspira com os bons augúrios do encontro, no anúncio da noite perfeita, fresca e tranquila. É quando recebo com alegria os primeiros cheiros de terra molhada. Este equinócio é tão somente um instante a lembrar a fugacidade dos momentos de bonança, pois o calor e a luz intensa logo vão reclamar sua vitória, impondo-se sobre os viventes e chegará em breve o tempo das chuvas e das cheias. Vivo os setembros pará-minenses, das festas cívicas, com a sonoridade das fanfarras e dos sinos que dobram e celebram a Piedade. Tempo das nuvens deslizantes que parecem afagar o verde da Serra das Piteiras e dos ipês amarelos que, por breves momentos, se compõem em tons patrióticos. Mas trago também para mim o arcanjo Miguel, príncipe das milícias celestes, em desafio à arrogância do mal. Neste meu setembro ideal, a natureza não grita, mas tece, exuberante, um manifesto de paz. Assim como o arcanjo, ela se ergue, resistente, determinada e heroica.
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Imagem: gerada por ferramenta de IA
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