19 de setembro de 2025

Livrai-nos do mal, amém!

Francisco Vilas Boas
Cadeira n.º 20
 

Tempos atrás, li numa pichação de muro do Rio de Janeiro que dizia: “você olha da direita
pra esquerda e o Estado te esmaga de cima pra baixo”. A lembrança veio diante de um
episódio curioso: em tempos de polarização, quando o nós contra eles parecia insuperável,
deputados federais de esquerda e de direita, que se atacam semanalmente no Congresso,
uniram forças para aprovar, com urgência, a PEC da Blindagem.


Urgência de quê? Urgência para quem?
 

A PEC da Blindagem não discute o aumento da faixa de isenção do imposto de
renda, a revisão da escala 6x1, nem novos investimentos em saúde ou educação. Nada disso.
A pressa foi para aprovar regras que dificultam que parlamentares federais respondam por
crimes, condicionando a atuação da Justiça à autorização da própria Casa Legislativa.
 

Como disse o Prof. Mario Spangenberg, decano da Faculdad de Derecho y Artes
Liberales do Uruguay, “se você tem um direito e os demais não, então você não tem um
direito, mas um privilégio”.
 

Parece que alguns dos nossos “representantes” trabalham intensamente, não para
o interesse dos seus representados – mas para os seus fins particulares. Foucault, no conjunto
de textos "Um diálogo sobre o poder e outras conversas", já advertia que o poder é exercido às
custas do povo e que quem o exerce sempre encontra brechas para violar as regras que ele
mesmo cria. A PEC da Blindagem é um exemplo dessa lógica.


Como professor, sigo acreditando na educação como instrumento de transformação.
E não tenho dúvidas de que, quando estimula o pensamento crítico, ela nos impulsiona a
buscar soluções para reduzir privilégios e ampliar direitos, pois, como na frase atribuída a
Paulo Freire, “o sistema não teme o pobre que passa fome, teme o pobre que sabe pensar”.
 

É justamente o pensamento crítico que deve orientar nossas escolhas. Quem se
indigna com as desigualdades sociais, com o racismo, com as múltiplas formas de
discriminação e com o excesso de privilégios dos privilegiados, nas próximas eleições,
precisará refletir sobre quem deve ocupar o papel de representante.


Acredito que é nosso dever fazer da sociedade um lugar mais justo para se viver e
conviver. E penso que a educação é o caminho. Recorrendo mais uma vez a Paulo Freire, dou
eco à máxima de que “A educação não transforma o mundo. A educação muda as pessoas.
E as pessoas transformam o mundo”.

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