9 de setembro de 2025

Romualdo em busca de sua liberdade

Geraldo Phonteboa
Cadeira n.º 14

Imagine um homem negro, com 62 anos, não 62 anos quaisquer... 62 anos de cativeiro. Mesmo após publicada a Lei do Sexagenário, no ano de 1885, esperava que seu senhor lhe concedesse sua liberdade. Mas isso não acontece. Fica sabendo que seu senhor renova sua matrícula e declara que ele tinha a idade de 45 anos. 

Sentindo-se injustiçado, recorre à justiça e faz denúncia, solicitando a sua liberdade de "injusto cativeiro". E apresenta, em sua defesa, sua certidão de nascimento, passada  pelo vigário de Pitangui. Como não bastasse, teve ainda que arrolar testemunhas para comprovar, em juízo, que aquela certidão se referia de fato a ele, buscando contrapor ao documento de matrícula feita por seu senhor. 

Então, o juiz municipal da Cidade do Pará aceita o pedido deste homem que vivia em situação de escravidão.  Para garantir o mínimo de proteção a este escravizado, nomeia um Curador para representá-lo judicialmente, e um depositário, com quem ele ficaria enquanto aguardasse sua liberdade. E o processo corre.

Os documentos são juntados aos autos. Seu senhor foi notificado e audiência foi marcada. Chega o dia da audiência e o senhor não comparece e ,alegando a impossibilidade, pede ao juiz outra data. E então o juiz concede. 

Em segunda audiência, novamente o senhor não comparece. E o juiz, após ouvir as testemunhas e à revelia dos senhores, faz o julgamento. Romualdo é declarado livre, mas não plenamente. Isso porque a lei exigia que o escravo liberto após 60 anos deveria prestar serviço ao seu senhor por mais 3 anos, a título de indenização. 

Esta agência deste homem escravizado, que durou meses (janeiro a abril de 1888). Mesmo após sua vitória, teria ele que voltar para junto do seu senhor e ainda lhe prestar o serviço previsto pela lei. Felizmente isso não ocorreu, pois em seguida veio a Lei Áurea, que declarou extinta a escravidão no Brasil. 

Histórias como esta estão à sua disposição no acervo do Museu Histórico de Pará de Minas. Conheça!


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