1 de novembro de 2025

Ensaio geral

Márcio Simeone
Cadeira n.º 8
 
 

 

No meu novembro, é possível adivinhar a fúria do verão, com cheiro de mangas e jabuticabas. Começa com o ritual da memória e do respeito aos que se foram. Este ato não se encerra nas lápides frias, mas também alcança as permanências. Assim começamos, nutridos pelas nossas melhores e mais calorosas lembranças, e sentimos que é a hora de renovarmos os pactos de nossa existência, sempre tão frágil e de nos abrimos para o que ainda haverá de vir. É uma espécie de aliança entre passado e futuro, que se molda tanto nas saudades quanto nas esperanças. Portanto, este é o meu mês do devir. Logo virão as festas, o novo ano, a nova estação. Já encontro nele o fluxo mais intenso e as potencialidades do que seremos no ano que se prepara. Só um ensaio. É este o momento que trago à consciência os fins e os fechamentos dos meses sobre si mesmos e as urgências de fazer o que até então foi procrastinado - sempre mais do que gostaria. Na minha infância, a simples expectativa do término das atividades letivas já me enchia de entusiasmo. Novembro foi sempre esse logo-ali, um quase-lá, onde tudo de bom está tão perto, mais fácil de alcançar, o que serve para nos aplacar a nostalgia, curar nossa ansiedade e nos encher de novas promessas. Vamos deixando de ser, para nos prepararmos para ser mais.

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Imagem: gerada por ferramenta de IA


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