CONFISSÃO
Márcio Simeone
Cadeira n.º 8
Se andei pelo mundo assim, desacorçoado, é porque cometi
grave falta. Submeti-me à intensa e constante clareza, sem me dar conta de que
tanta luz me paralisava e cegava. Todas as luzes estavam sempre acesas e já não
me permitiam sequer o repouso. Fui apagando uma a uma para deixar, no fim,
apenas uma pequena lanterna, suficiente para não mergulhar na mais profunda
escuridão. Para mim esse lume tímido transformou-se, logo, na mais bela das
descobertas. Tudo em volta se encheu de sombras, desenhando em minha mente os
mais belos sonhos. Daí por diante meus olhos foram se acostumando e achei, com
assombro, a beleza dos meio-tons, os prazeres dos devaneios, para ver, a média
luz, os interstícios, os entremeios, antes desconhecidos. Encontrei na aurora meu
momento e meu sentido: nem tudo, nem nada. Ali, simplesmente, onde o dia busca
ser e a noite ainda é, na plácida harmonia dos eternos devires, o que ainda sou
se mistura, sem conflitos, com o que arrisco ser. Se assim amanheço, caminho seguro
pelo dia luminoso, certo de encontrar, em mais ou menos meia jornada, o
conforto do lusco-fusco. Nem fim, nem começo. O brilho mínimo e pálido da
lanterna estará ali até que sobrevenha o cansaço, meus olhos mergulhem dentro
de mim e eu seja.
Não consigo nem comentar, Márcio. Estou aqui sentindo e vendo as suas palavras... Que beleza!
ResponderExcluir