sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Eternizando momentos


Estava olhando umas fotos antigas e observando a maneira solene com que as pessoas eram fotografadas, assumiam uma postura elegante, um ar de gravidade. As mulheres, extremamente femininas, costumavam colocar a mão sob o queixo. Ficavam quase sempre de pé, enquanto os homens permaneciam assentados com ar altivo. Dava-se para perceber claramente a posição de superioridade que gozavam naquela época. Suas esposas com modo servil, ao mesmo tempo filial, descansavam o braço em seus ombros. Eles, elegantes, quase sempre de bigodes, barbas, vestidos de fraques, tendo bengalas, chapéus, charutos como acessórios. Elas com os cabelos presos, bem penteados, vestidos trabalhados em rendas e babados.

Tirar foto naquela época era um momento realmente solene e, por isso, todos os rostos adquiriam um ar compenetrado, não vemos neles nem sequer um leve sorriso. Fiquei repassando todas as fotos e não vi nem mesmo o misterioso sorriso de Monalisa. Mas, por outro lado, dava-se a impressão de serem pessoas tranquilas, serenas... Não havia nenhum sinal de agitação naqueles olhos, naqueles rostos. Seriam felizes aquelas pessoas? Talvez fossem. Afinal felicidade é um estado de espírito que independe de vários fatores. Hoje vemos pessoas totalmente liberais, sorrindo, sendo tudo que desejam ser, mas percebemos que há um vazio que nada é capaz de preencher. Vivem numa busca desesperada por prazer, mas não são felizes e aumentam cada vez mais a estatística que comprova que estamos vivendo o “século da depressão”.

Na verdade uma foto revela uma dimensão bem maior muito além do físico. O escritor memorialista Pedro Nava com toda a sua perspicácia, memória prodigiosa, descreve uma fotografia com riqueza de detalhes e, depois, comenta o que se vê além da parte física: “...E mais, o ar a um tempo enérgico, levemente irônico, autoritário e cheio da tranquila segurança da senhora dona bem instalada nas suas sedas, nas suas alfaias, no conforto do seu sobrado ...”.

Três dessas fotos que eu olhava, eram daguerreótipos do ano de 1855. Haviam sido tirados no Rio de Janeiro, na Rua do Ouvidor. Um deles era da minha tataravó, o outro, minha bisavó e, o terceiro, retratava o meu bisavô.

O daguerreótipo (imagens obtidas com um aparelho capaz de as fixar em placas de cobre cobertas com sais de prata),  foi o primeiro aparelho a fixar a imagem fotográfica, também o primeiro processo fotográfico reconhecido mundialmente, criado pelo francês Louis- Jacques Mandé Daguerre (1787-1851).

A fotografia chegou ao Brasil no dia 16/01/1840, pelas mãos do abade Louis Compte, capelão de um navio-escola francês (corveta franco-belga L’Orientale) que aportou de passagem pelo Rio de Janeiro. Ele trouxe a novidade de Paris para a cidade, introduzindo a Daguerreotipia no país.

Em 21/01/1840, D. Pedro II (aos 14 anos de idade), entusiasmado com a nova invenção apresentada por Compte, encomenda um equipamento de Daguerreotipia em Paris. Em março de 1840, adquiriu um aparelho, comprando-o diretamente de Felicio Luzaghy, por 250 mil réis, possivelmente a primeira máquina desta arte em mãos brasileiras. Tornou-se assim, o primeiro fotógrafo brasileiro com menos de 15 anos de idade! Oficialmente, ele é considerado o primeiro deguerreotipista brasileiro.

Passar algum tempo observando fotografias antigas faz com que entremos, aos poucos, na vida dessas pessoas. Quando são nossos antepassados e, principalmente, se sabemos alguma coisa sobre eles, essa sensação se torna mais forte ainda. Seguramente os laços de sangue se tornem mais evidentes ao repararmos algum traço familiar nesses rostos.

Tirar foto é eternizar um momento, uma pessoa e, por que não dizer um sentimento? Quando olho as minhas fotos sou capaz de perceber com precisão o que eu sentia naquele exato momento. Talvez até nem tivesse consciência do que se passava no meu interior no instante do flash, mas agora vejo que está congelado no tempo...

Déa Miranda
Cadeira nº11
Patrono: José Gastão Machado

2 comentários:

  1. Minha cara amiga Déa!

    Hoje as imagens foram banalizadas pela presença dos meios digitais e magnéticos. Não conseguimos mais parar diante de uma foto e ver a pureza, notar as feições, tentar imaginar o que se passava na mente daqueles que se deixaram fotografar.

    Rever as fotos antigas assemelha-se ao medo que alguns nativos tinham de que seu espírito estava aprisionado ali naquele quadro suspenso ou congelado no espaço-tempo.

    Até hoje eu me pego a perguntando se não há um pouco de verdade na afirmação acima...

    Continue brindando-nos com seus belos textos.
    Abraços.

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    1. Oi, joandre!
      Peço desculpas por ter demorado tanto a lhe responder. Passei todos esses dias sem acessar o site e, somente hoje, vi o seu comentário.
      Muito obrigada pelo incentivo!
      Déa

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