terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Uma nova sede para a Biblioteca Pública de Pará de Minas



Eu tenho uma dívida impagável com a Biblioteca Pública Professor Melo Cançado, de Pará de Minas. Devo a ela o leitor que sou hoje e todo o prazer que isso me proporciona – que é imenso, intenso e maravilhoso.

Tudo começou em 1985. No início minha mãe me levava, mas logo passei a ir sozinho, quando voltava da escola, cheio de expectativa e curiosidade. A Biblioteca ficava no prédio da antiga rodoviária, um local pequeno e pouco convidativo, inadequado para abrigar todo aquele universo de sonhos e aventuras que, adormecidos, aguardavam a chegada dos leitores. Mas eu nem ligava para o lugar; o que me interessava eram os livros, os escritores e suas histórias, que eu devorava com enorme prazer.

Entre 1985 e 1990 eu li uma infinidade de livros tirados daquelas estantes, a maioria de Marcos Rey, Stella Carr, Lúcia Machado de Almeida, Marion Zimmer Bradley, Julio Verne e Agatha Christie. De Agatha Christie eu li a obra completa (uns 70 livros ou mais) em dois anos, a maioria emprestada da Melo Cançado. Ali também descobri o escritor mineiro Rubem Fonseca, que eu leria com uma avidez desesperadora entre 90 e 92, degustando cada frase, cada cena, cada personagem (o seu romance “Bufo & Spallanzani” me marcou tanto que eu o li três vezes).  

De lá para cá nunca deixei de frequentar aquele recanto paradisíaco, no prédio da antiga rodoviária e, depois, em sua atual sede, na Casa da Cultura. E tenho muito orgulho em dizer que a minha filha de oito anos já tem a sua ficha e é leitora assídua dos livros da seção infanto-juvenil. Pena que o espaço continua inadequado: pequeno, escuro e abafado.

Não só em quantidade, mas também em qualidade, a Melo Cançado surpreende. De clássicos a best-sellers – contos, romances e poesias –, tem de tudo ali, para todos os gostos. Só não dá gosto frequentar o lugar. O paraíso está nos livros, não no local que os abriga: não tem mesas e cadeiras, os corredores são sombrios e apertados, e a seção infanto-juvenil chega a dar medo nas crianças – embora continue ali, em suas estantes, grande parte dos livros que me encantaram nos anos 80 (de vez em quando eu os folheio, relembrando o passado, cheio de saudade...).

Sei que existe um excelente projeto para construir uma nova sede para a Biblioteca Professor Melo Cançado. Infelizmente ele não foi executado – não por incompetência da Secretária de Cultura, Maísa Lage (que realizou, juntamente com o Diretor de Cultura, José Roberto Pereira, e sua equipe, um trabalho memorável na área cultural em Pará de Minas), mas porque outras ações foram vistas como prioridades e, por isso, não houve tempo. Infelizmente.

Peço então ao novo Secretário de Cultura, Luciano Pereira, que dê uma atenção especial à nossa Biblioteca. Ela precisa sair da Casa da Cultura. Aquele espaço não é adequado.  Há ali todo um universo de sonhos e magia que merece um local digno da sua importância, da sua história em Pará de Minas e do que ele representa para as vidas de inúmeros leitores.

Sem querer me gabar, naquelas estantes há vários livros doados por mim, a maioria coisa boa, literatura de qualidade, em ótimo estado de conservação. Continuarei doando até morrer. Onde quer que esteja a Melo Cançado, seja qual for o prefeito ou o Secretário de Cultura, ela me terá como fiel doador. Assim vou pagando minha dívida impagável...  Só não quero morrer sem ver a nova sede. Se isso acontecer, voltarei para puxar o pé das autoridades responsáveis. Ah se voltarei...

Flávio Marcus da Silva - Cadeira nº 1 

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