Eu tenho uma dívida impagável com a Biblioteca Pública Professor Melo Cançado, de Pará de Minas. Devo a ela o leitor que sou hoje e todo o prazer que isso me proporciona – que é imenso, intenso e maravilhoso.
Tudo começou em 1985. No início
minha mãe me levava, mas logo passei a ir sozinho, quando voltava da escola,
cheio de expectativa e curiosidade. A Biblioteca ficava no prédio da antiga
rodoviária, um local pequeno e pouco convidativo, inadequado para abrigar todo aquele
universo de sonhos e aventuras que, adormecidos, aguardavam a chegada dos
leitores. Mas eu nem ligava para o lugar; o que me interessava eram os livros, os
escritores e suas histórias, que eu devorava com enorme prazer.
Entre 1985 e 1990 eu li uma
infinidade de livros tirados daquelas estantes, a maioria de Marcos Rey, Stella
Carr, Lúcia Machado de Almeida, Marion Zimmer Bradley, Julio Verne e Agatha
Christie. De Agatha Christie eu li a obra completa (uns 70 livros ou mais) em dois
anos, a maioria emprestada da Melo Cançado. Ali também descobri o escritor
mineiro Rubem Fonseca, que eu leria com uma avidez desesperadora entre 90 e 92,
degustando cada frase, cada cena, cada personagem (o seu romance “Bufo &
Spallanzani” me marcou tanto que eu o li três vezes).
De lá para cá nunca deixei de frequentar
aquele recanto paradisíaco, no prédio da antiga rodoviária e, depois, em sua
atual sede, na Casa da Cultura. E tenho muito orgulho em dizer que a minha
filha de oito anos já tem a sua ficha e é leitora assídua dos livros da seção
infanto-juvenil. Pena que o espaço continua inadequado: pequeno, escuro e
abafado.
Não só em quantidade, mas também
em qualidade, a Melo Cançado surpreende. De clássicos a best-sellers – contos,
romances e poesias –, tem de tudo ali, para todos os gostos. Só não dá gosto
frequentar o lugar. O paraíso está nos livros, não no local que os abriga: não
tem mesas e cadeiras, os corredores são sombrios e apertados, e a seção
infanto-juvenil chega a dar medo nas crianças – embora continue ali, em suas
estantes, grande parte dos livros que me encantaram nos anos 80 (de vez em
quando eu os folheio, relembrando o passado, cheio de saudade...).
Sei que existe um excelente
projeto para construir uma nova sede para a Biblioteca Professor Melo Cançado.
Infelizmente ele não foi executado – não por incompetência da Secretária de
Cultura, Maísa Lage (que realizou, juntamente com o Diretor de Cultura, José
Roberto Pereira, e sua equipe, um trabalho memorável na área cultural em Pará
de Minas), mas porque outras ações foram vistas como prioridades e, por isso,
não houve tempo. Infelizmente.
Peço então ao novo Secretário de
Cultura, Luciano Pereira, que dê uma atenção especial à nossa Biblioteca. Ela
precisa sair da Casa da Cultura. Aquele espaço não é adequado. Há ali todo um universo de sonhos e magia que
merece um local digno da sua importância, da sua história em Pará de Minas e do
que ele representa para as vidas de inúmeros leitores.
Sem querer me gabar, naquelas
estantes há vários livros doados por mim, a maioria coisa boa, literatura de
qualidade, em ótimo estado de conservação. Continuarei doando até morrer. Onde
quer que esteja a Melo Cançado, seja qual for o prefeito ou o Secretário de
Cultura, ela me terá como fiel doador. Assim vou pagando minha dívida
impagável... Só não quero morrer sem ver
a nova sede. Se isso acontecer, voltarei para puxar o pé das autoridades
responsáveis. Ah se voltarei...
Flávio Marcus da Silva - Cadeira nº 1
Flávio Marcus da Silva - Cadeira nº 1
Ótimo! hahaha Também devo muito a biblioteca.
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