Márcio Simeone
Cadeira n.º 8
Em lugar improvável e em hora imprevista veio o Salvador. Em
meio de caminho a lugar qualquer, em lugar nenhum. Fora do mapa nasceu um
Menino-Deus sem chão, sem parte, sem nada de seu senão sua vida errante. Prenúncio
de futuro, eterno migrante rumo a seu destino. Logo o Deus-Menino vai aprender
a ler o que se inscreve no chão pedregoso e o que desenha o sol nas terras em
brasa. Amanhã, desperto pelo sofrimento do mundo, vai sair em viagem, amante da
estrada, em incerto destino. Pois assim estava escrito: um Homem-Deus
peregrino. Vida em trânsito lembra: tudo passa e tudo está em toda parte. Andará por terra inóspita. Percorrerá o
deserto, atravessará os rios, adentrará as cidades, criando o céu, sonhando com
o paraíso.
Tantas famílias sagradas vagam como Ele. Gente andarilha,
que tem chão de pisar mais que água de beber. Triste saga de retirantes, vida
rude de pequeninos, a quem resta crer e confiar em terra tão prometida, em céu
tão distante. Mal nasce aquele menino e já se adivinha o bem-aventurado dia em
que vai proclamar na planície e nas montanhas a Boa-Nova a este povo. Mas a
palavra ainda demora. Ele ainda dorme em paz seu sono sagrado de criança. Porém,
uma estrela fulgurante, vinda do nada, aponta uma direção, aqui, agora. Já se
inicia a marcha: somos todos peregrinos, porque o céu está no caminho...
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