quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Livros para reciclagem



            Quando eu era bem jovem, devia ter uns quatorze anos, assisti ao filme: “O Diário de Anne Frank”.  Curiosamente era essa a idade da protagonista. Naquela época, eu passava uns dias com os meus pais, na casa de uns parentes no Rio de Janeiro e não sabia nada sobre esse diário. Fiquei chocada com o triste fim daquelas pessoas que ficaram escondidas durante tanto tempo, cheias de esperança de que a guerra acabasse e pudessem enfim, saírem seguras dali. Aquele filme me marcou bastante por se tratar de uma história verdadeira e, por isso, sempre voltava às minhas lembranças.

            O tempo passou e, eis que um livro com este título, chegou às mãos de meu irmão e ele o leu. Gostaria de destacar a forma que esse livro chegou até ele. Enquanto aguardava pelo conserto de sua caminhonete, viu ao lado da oficina um depósito de sucata. Como estava sem ter o que fazer deu uma olhadinha nesse cômodo e, para sua surpresa, havia uma prateleira com várias pilhas de livros. Ele se aproximou e com espanto viu obras de autores famosos, bem encadernadas e em ótimo estado. Foi até ao mecânico e quis saber a razão daqueles livros estarem ali. Ele disse: “Tudo isso é para ser reciclado, mas temos o costume de separar os livros do restante por que se alguém se interessar, vendemos por oito reais o quilo”. Meu irmão não pensou duas vezes e já foi separando as preciosidades que ele havia descoberto.

            Destaco aqui uma coisa que me deixou triste. Ali no meio havia vários livros de escritores de Pará de Minas. Fiquei pensando, é tão difícil para uma pessoa publicar um livro. É um processo demorado, trabalhoso e, no final, descobrir o destino que alguns deles terão...

            Meu irmão não conseguia entender como as pessoas descartavam os livros daquela forma. Como tinham coragem de mandar para a destruição a preciosidade de um livro. Falei que achava que os donos eram pessoas que faleciam e a família se livrava das suas coisas daquele jeito. Pensando bem, era bem melhor aproveitá-los na reciclagem que queimá-los como acredito que muitos herdeiros fazem. Mas ele ainda continuava buscando respostas para tamanho despropósito e dizia: “Mas como esse falecido não conseguiu passar para os descendentes o gosto pela leitura?” Nessa hora fiquei sem resposta. Eu não consigo entender também. Será que essas pessoas não pensaram em doá-los para alguma biblioteca? Acredito que muitas aceitariam de bom grado.  

            Pois bem, meu irmão pegou o “O diário de Anne Frank” e me aconselhou a lê-lo. Falei que não queria, pois conhecia o filme, mas ele insistiu de uma maneira bem convincente. Disse que o lera e tinha certeza de que eu ia gostar muito, explicou que ficara impressionado com o talento literário de Anne, com a sua visão cheia de maturidade diante da vida, com a capacidade de percepção que ela tinha do íntimo do ser humano. 

            Segundo a crítica literária e ensaísta Francine Prose, “Anne era de fato talentosa, como se vê por sua habilidosa construção de diálogos e personagens, seu olho para os detalhes, seu domínio do ritmo da narrativa”.

            Levei o livro para casa e o li. Pude constatar tudo o que meu irmão disse. Mais uma vez ficou confirmado para mim a superioridade da palavra escrita. Em um filme não é possível mostrar toda preciosidade que um texto contém. Por isso costumamos nos decepcionar quando conhecemos uma obra e a vemos representada. Mas por outro lado, as imagens se fixam melhor nas nossas mentes. Acho que o melhor seria conhecer a obra, o filme e tirar as nossas conclusões.

Déa Miranda
Cadeira nº 11
Patrono: José Gastão Machado

2 comentários:

  1. Oi, Déa
    Um belo texto para uma bela história.
    O filme, não vi. O livro, havia lido quando foi lançado. Não me lembro mais da história.
    Acho que vou ter que ler de novo.
    Terezinha

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Terezinha!
      Obrigada pelo comentário.
      EStou sentido falta dos seus textos aqui. Agora que já terminou o seu trabalho com o livro dos escritores, você precisa voltar a publicar neste blog.
      Um abraço,
      Déa

      Excluir

Os comentários neste blogue são moderados.