Márcio Simeone
Cadeira n.º 8
Sobre aquela noite pesava um estranho e confuso silêncio. Algo
acontecia, pressentia-se, só podia ser um anúncio. Subitamente houve medo.
Houve dor, aquela de estar fora dos tempos, de não saber, de não poder explicar,
de não poder gritar. Os que primeiro compreenderam o fenômeno foram aqueles dos
quais nunca se ouvia a voz, aqueles a quem nunca se dava ouvidos. Afinal, estes
já conheciam o profundo silêncio, faziam-se íntimos dele e de seus desígnios. Tão
logo compreenderam, deles se afastou todo o medo e foram, assim, os primeiros a
falar. Que bendito fosse este pobre e sagrado silêncio sem pressupostos, irmão
de todos os mistérios! Aqueles bem-aventurados, com alegria e entusiasmo, esquecidos
e desprovidos, conversavam primeiro com as plantas, com os animais, com a água,
com as pedras, com o céu, faziam declarações ao universo, pronunciando-se de
modo sereno, buscando as melhores palavras que encontravam em seus vocabulários,
as mais bonitas e as mais justas; paravam para ouvir com atenção as respostas, mesmo
que só murmuradas, ainda que em outras linguagens desconhecidas, mas que
desejavam aprender. Logo a seguir já conversavam entre si, vivamente conectados,
redescobrindo e partilhando pouco a pouco os significados. Ao longe, um choro
de criança. Um coro de vozes inocentes cantava uma música suave. Por um pouco
tempo, isso foi tudo; nada mais precisava. Ali nascera um diálogo.
(Natal de 2019)
(Natal de 2019)
Fui levada, por suas palavras, para este "lugar", fora do tempo e do espaço, em que é bendito um "pobre e sagrado silêncio sem pressupostos, irmão de todos os mistérios!" Obrigada! Regina Maria
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