Fátima Peres
Cadeira n.°15
Me lembro dos delicados enfeites e bolinhas que vovó nos dava para colocar na árvore que ia até o teto. Precisávamos ter cuidado para não deixar cair e quebrar. Nesse momento, concentrávamos firmemente na tarefa e algum silêncio, enfim, tomava conta da sala. Mas, a disputa para saber quem iria colocar a estrela, lá na pontinha da árvore, trazia de volta a euforia e, com ela, o barulho que enlouquecia o vovô. Vovó Conceição adorava essa farra. E adorava também ver vovô Pepé bravo, que saía e ia fazer a sua caminhada pela cidade.
Enquanto isso, a magia do Natal acontecia ali dentro daquela enorme casa, cheia de amor, de uma alegria descontrolada e aquela avalanche de ternura que Vovó Conceição nos encobria, especialmente, a cada um de nós.
Na noite do dia 24, a expectativa ficava por conta da chegada do Papai Noel. Isso nos deixava eletrizados. – Vocês devem dormir bem cedo, dizia vovó, senão não dará tempo do bom velhinho passar em nossa casa e deixar nos sapatinhos, os presentes tão desejados. “Ele ainda tem muito trabalho a fazer, precisa entregar os brinquedos para milhares de crianças do mundo todo”, dizia ela.
E minha mãe contava também que Papai Noel só viria à noite, se tivéssemos sido muito obedientes durante o ano. Mas como saber se ele realmente viria? Ah, Impossível! Só no dia 25, quando abríamos a janela, ao amanhecer e descobríamos se o Papai Noel havia deixado algo em nossos sapatinhos, colocados com cuidado no parapeito, na noite anterior.
Lembro que eu e meus irmãos nunca queríamos dormir para que pudéssemos pegar de surpresa o Papai Noel, no momento exato em que ele se aproximasse de nossa casa. Conhecê-lo pessoalmente e abraçá-lo era o maior desejo de nós três. No entanto, o sono sempre chegava antes e nada de surpresas antecipadas. Tudo era incrível!
Os anos se passaram e ficamos adultos. Vovó Conceição e vovô Pepé foram embora. Com eles, a alegria do encontro, das surpresas, da ansiedade da chegada dos dias mágicos do Natal. Com a tal da maturidade, perdemos o encanto. Até a chegada de Tereza, de Lorenzo e de Lucca, nossos netos. A minha e os de meu irmão Kim.
Há alguns dias Tereza me fez recordar de vovó Conceição. Juntas montamos a nossa árvore de Natal. Ela não vai até o teto, mas tem muitos enfeites que não quebram, anjos, estrelas e luzinhas que piscam de todas as cores. O olhar de Tereza trouxe de volta aquela magia, a inocência e um sentimento de que a renovação, a esperança e o amor são sentimentos que vão permanecer sempre em nós, ainda que escondidos, dentro dos corações de quem se propõe a comemorar o nascimento do Menino Jesus.
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