Conceição Cruz
Cadeira n.º 4
Um dia, houve uma convocação na floresta para falarem sobre ecologia: "somos todos um!"
O pinheiro, lá do alto, olhava à sua volta e via árvores altas, baixas, cipós, trepadeiras e gramas que matizavam a floresta com cores e odores além de diferentes espécies de animais…
- Ecologia? Pensava ele.
Isto é tema para os meus amigos peixes e plantas aquáticas!
Ele olhava para o céu, sentia toda a carícia do vento passeando por suas folhas…
Nada poderia temer: era a árvore mais alta e mais respeitada da região.
Tinha fortes raízes para buscar água no subsolo - sem depender de nada - e também para se conectar à rede de raízes das demais plantas.
- Ecologia! Ah! Isto só pode ser estorinha para fazer boi dormir!
Robusto, fornecia sombra para os arbustos menores, abrigo para insetos, pássaros etc.
- "Somos todos um!" Analisava.
Desde quando uma árvore é igual a um peixe?
Nem planta é igual a outra…
Certamente, nada poderia atingi-lo!
Certa vez, soube pela "raiz net" da existência de um vulcão que soltava chamas e lama.
Começou a imaginar aquele espetáculo da natureza.
Estava pensativo quando uma ideia percorreu o seu caule, fazendo-o tremer! Fogo? Lama? Destruição?
Imagine um vulcão deste!
E se ele fosse aqui? Ou na Floresta Amazônica?
- Nem quero imaginar uma coisa desta! Tremeu-se todo!
Balança as suas folhas e diz:
- A mãe natureza é sábia! Eu confio nela! Aqui estamos seguros e salvos!
De repente…
- Fujam! Fujam! Fujam!
Grita o macaquinho José!
- O que foi? Atearam fogo de novo na floresta?
- Fujam! Fujam! Diz José a pular!
- São rios e rios…
- O rio é bom! Água pura e fresca! Responde o porco espinho.
- Ufa! Pensa o pinheiro! Água! Melhor que fogo!
- Olá, amigo José?
Como você espera que eu fuja?
Cá estou e aqui estão as minhas raízes, a minha família, os meus amigos, as minhas memórias...
José aponta para o horizonte.
O pinheiro sente-se carregado pelas ondas gigantescas de barro e de minério...
À sua volta, nada de plantas, arbustos ou animais…
Adeus casas, homens, carros, floresta e sonhos…
Vê o rio e tudo mais passar já sem vida e sem voz!
Ainda que resistisse, o solo e o subsolo ali estão contaminados! Vasto mundo estéril! A lama criou um mar… Morto!
Lembrou-se de seu bordão:
- Ecologia é coisa para peixe!
Sem chão, quer chamar a todos para uma reunião…
Mas... agora?
Ainda é tempo de falar sobre ecologia?
Ou será tarde demais?
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Imagem: Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas: https://www.al.al.leg.br/imagens/Terra.png/view
Bem oportuno, atemporal e atual reflexão: Brumadinho e a parte que nos cabe no Planeta...Texto sensacional...Deveria ser reflexão nas escolas, nos conselhos...Enquanto temos chão para estudar, para reunir...
ResponderExcluirEmocionante a simplicidade como foi escrito!!!
ExcluirSó me resta divulgar e aplaudir!!!!
Obrigada
Linguagem clara e rica em detalhes ! Abraços
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirTem muitos "pinheiros" neste vasto mundo. Individualistas e prepotentes pensam que o TODO é resto! Afonso de Castro Gonçalves, Maravilhas, MG.
ResponderExcluirMuito bom! Nos leva a refletir!
ResponderExcluirUm grande alerta. O texto nos alerta para a urgência de um cuidado com nossa natureza. Parabéns, Conceição, peli texto!
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