domingo, 12 de janeiro de 2020

Para quê falar sobre Ecologia?

Conceição Cruz
Cadeira n.º 4


Um dia, houve uma convocação na floresta para falarem sobre ecologia: "somos todos um!"

O pinheiro, lá do alto, olhava à sua volta e via árvores altas, baixas, cipós, trepadeiras e gramas que matizavam a floresta com cores e odores além de diferentes espécies de animais…

- Ecologia? Pensava ele. 
Isto é tema para os meus amigos peixes e plantas aquáticas!

Ele olhava para o céu, sentia toda a carícia do vento passeando por  suas  folhas…

Nada poderia temer: era a árvore mais alta e mais respeitada da região. 

Tinha fortes raízes para buscar água no subsolo - sem depender de nada - e também para se conectar à rede de raízes das demais plantas.

- Ecologia! Ah! Isto só pode ser estorinha para fazer boi dormir!

Robusto, fornecia sombra para os arbustos menores, abrigo para insetos, pássaros etc.

- "Somos todos um!" Analisava. 

Desde quando uma árvore é igual a um peixe? 
Nem planta é igual a outra…

Certamente, nada poderia atingi-lo!

Certa vez, soube pela "raiz net" da existência de um vulcão que soltava chamas e lama.

Começou a imaginar aquele espetáculo da natureza.

Estava pensativo quando uma ideia percorreu o seu caule, fazendo-o tremer! Fogo? Lama? Destruição?

Imagine um vulcão deste!

E se ele fosse aqui? Ou na Floresta Amazônica?

-  Nem quero imaginar uma coisa desta! Tremeu-se todo!

Balança as suas folhas e diz:

- A mãe natureza é sábia! Eu confio nela! Aqui estamos seguros e salvos!

De repente…

- Fujam! Fujam! Fujam!

Grita o macaquinho José!

- O que foi? Atearam fogo de novo na floresta?

- Fujam! Fujam! Diz José a pular!

- São rios e rios…

- O rio é bom! Água pura e fresca! Responde o porco espinho.

- Ufa! Pensa o pinheiro! Água! Melhor que fogo!

- Olá, amigo José? 
Como você espera que eu fuja? 
Cá estou e aqui estão as minhas raízes, a minha família, os meus amigos, as minhas memórias... 

José aponta para o horizonte.

O pinheiro sente-se carregado pelas ondas gigantescas de barro e de minério...

À sua volta, nada de plantas, arbustos ou animais… 

Adeus casas, homens, carros,  floresta e sonhos…

Vê o rio e tudo mais passar já sem vida e sem voz! 

Ainda que resistisse, o solo e o subsolo ali estão contaminados! Vasto mundo estéril! A lama criou um mar… Morto!

Lembrou-se de seu bordão:

- Ecologia é coisa para peixe!

Sem chão, quer chamar a todos para uma reunião…

Mas... agora?

Ainda é tempo de falar sobre ecologia?

Ou será tarde demais?
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Imagem: Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas: https://www.al.al.leg.br/imagens/Terra.png/view



3 comentários:

  1. Bem oportuno, atemporal e atual reflexão: Brumadinho e a parte que nos cabe no Planeta...Texto sensacional...Deveria ser reflexão nas escolas, nos conselhos...Enquanto temos chão para estudar, para reunir...

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    1. Emocionante a simplicidade como foi escrito!!!
      Só me resta divulgar e aplaudir!!!!
      Obrigada

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  2. Linguagem clara e rica em detalhes ! Abraços

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