Conceição Cruz
Cadeira n.º 4
Há muitos e muitos anos, existia
uma lesminha que morava no interior de Minas. Seu nome era muito especial:
Lemexe.
Seus passos eram sempre lentos:
tinha, ao invés do famoso rei na barriga, os pés na barriga. Seu movimento era
quase imperceptível e as crianças exclamavam:
- Uai! A lesma! Ela mexe!
E assim ficou Lemexe!
Era uma época de muitas frutas,
de folhas verdes, legumes e de água!
Lemexe tinha o hábito de marcar o
lugar por onde ia, para sempre, voltar pelo mesmo caminho.
Um dia, ao acordar, qual não foi a sua surpresa: a área verde fora toda
devastada para dar lugar aos pastos!
-Cadê a hortinha verde? Meu Deus!
Cadê as frutas?
Ela subiu até a vidraça e viu no
noticiário: sua prima, que morava longe, media mais de um metro e pesava mais
de quinze quilos!
Era, orgulhosamente, exibida nas mãos do biólogo.
Em outra reportagem, vê a imagem
de outra lesma com a casa nas costas! Era chamada de caracol.
- Que interessante! Pensa.
-Opa! Como ela fez isto? Um dia,
vou deixar de ser uma sem-teto e também carregarei a minha casa nas costas!
Exclama!
A vidraça estava muito
escorregadia e Lemexe caiu dentro da caixa de papelão!
Lá dentro estava escuro.
Ela ajeitou as antenas para ver
melhor e nada viu.
Resolveu repousar.
De repente, a caixa começou a se
mover e foi colocada dentro de um avião.
Depois de horas e horas de voo, o
avião parou na França para descarregar as caixas de açaí.
Lemexe estava agora na cozinha do
restaurante, em Paris!
Ela viu os talheres de prata e os
pratos, onde seriam servidos os famosos “escargots”.
Ela viu uma enorme concha e
resolveu entrar, para saber como era dentro dela.
- Olá! Casa ocupada!
Disse Melexe, um caracol, em
irrepreensível francês!
- Perdão! Desculpe-me! Disse ela,
em bom português!
Melexe, que há tempos vivia ali,
naquele restaurante internacional, também falava português. Eles começam a
conversar.
No Brasil, as lesmas não têm teto
e, geralmente, não servem de alimento.
Na França, os caracóis têm suas
próprias casas e são servidos nos mais caros restaurantes! Pensou Lemexe.
A cozinheira, muito atarefada,
havia perdido seus óculos! Pegou a concha de Melexe.
Ele disse:
- Rápido! Esconda-se, Lemexe!
Lemexe, com a viagem, ficou muito
magrinha; ela se escondeu atrás das antenas de Melexe, mas as antenas dele e
dela ficaram de fora!
A cozinheira viu as oito antenas,
pensou que se tratava de um único e
robusto animal: separou a concha, pois parecia um exemplar totalmente
diferente! Ou seria alimento transgênico?
Com muito cuidado, colocou a
concha em uma caixa.
Na dúvida, descartou todos os
escargots para evitar contaminação no restaurante natural!
Foi uma festança!
Melexe e Lemexe tornaram-se
herois!
Casaram-se.
Lemexe agora vivia em Paris e
falava francês.
Depois de muito tempo, resolveram
aumentar a família: tiveram quase meio milhão
de filhotes, numa só temporada!
E com tanta algazarra de
filhotes, ninguém mais dormia naquela casa! Ou melhor, naquela concha!
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Como você consegue enxergar coisas tão simples, quase inúteis ao nossos olhos, em uma grande história?
ResponderExcluirQuanta sensibilidade!
Parabéns!
Amei a sua história. Parabéns!
ResponderExcluirEstória bem criada, de leitura fácil e que mexe com nossa imaginação.
ResponderExcluirParabéns
Eu viajei na imaginação...Lembre-se das minhas aulas de canto, no ensino fundamental...Dona Zelinha cantando: " lá vem o caracol, andando bem devagar, carrega a casa nas costas, menina por quê? Ele não quer se molhar..." E hoje eu aprendi que é ele parente da lesma, talvez seja por isso que a canção dizia...Andando bemmm devagar...kkk. Amei essa viagem na minha infância...
ResponderExcluirAdorei.
ResponderExcluirVocê e excelente me fez viajar no tempo.
Quanta reflexão!
ResponderExcluirHistoria para gente grande tb!
Como não pensar nos sem teto, nas diferenças culturais, na biologia, na ecologia?
Parabéns!
Muito Bom.. Parabéns Academia de letras de Para de minas pela publicação...
ResponderExcluirParabéns me fez recordar minha infância quando eu e meus irmãos perceguia lesmas e fazia corrida com elas.
ResponderExcluirSou da comunidade indígena kaxixó.Martinho Campos MG,como foi falado em umcomentário assima lembrei de quando era criança eu e meus irmãos perceguiamos os rastros das lesmas e caracol colocavamos dentro de um círculo para ver quem saía do círculo primeiro ganhava.
ResponderExcluirQue historinha divertida, Conceição! Amei!! Bjs, Regina Maria
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