domingo, 2 de setembro de 2012

À ESPERA


À ESPERA
Márcio Simeone
Cadeira nº 8

Esperança e Utopia nasceram irmãs gêmeas. Quase iguais na aparência, mas distintas nas atitudes. Esperança esperava, enquanto Utopia sonhava. De tanto pensar no vasto mundo, Utopia logo se foi. Em dia incerto, mudou-se para longe, nem se sabe bem como, para além de todos os muros. Esperança ficou a esperar. Quando todos já pareciam ter-se esquecido de Utopia, pois dela não havia mais notícias, Esperança manteve-se firme. Quase ninguém mais acreditava sequer que Esperança tivesse uma irmã (e gêmea), tão desaparecida estava que o tempo se encarregava de apagar as lembranças de sua breve presença. Só se viam os muros. Mesmo que se derrubasse um deles, ainda restariam muitos outros e a todos parecia que ir para o reino distante, além de todos os muros, onde provavelmente se encontrava Utopia, era mesmo impossível. Mas Esperança tinha certeza de que sua irmã um dia existiu, já que saídas do mesmo ventre. Mesmo que passados muitos anos depois que se apartaram, simplesmente acreditava que Utopia permanecia viva, mesmo que em lugar desconhecido. Era esta crença o que bastava para abastecer-lhe a espera e animar-lhe a existência. Ao recordar a figura da irmã, tão feliz e liberta, sonhava. Desejava os encantos dos encontros mais que tudo na vida. Os muros, afinal, nem sempre estiveram ali. Alguém os havia construído. Algo lhe dizia que não só era possível transpô-los, como também, algum dia, derrubá-los todos.  Enquanto isso não acontecia, cuidava de alimentar e encorajar os construtores de pontes, para que seguissem em sua profissão de fé nas boas promessas que estão de outros lados. A eles confiava os seus segredos de infância, quando dormia inocente junto à querida irmã e tudo lhes parecia um imenso mundo claro e sem fronteiras, onde tudo era possível.

2 comentários:

  1. Nossa, Márcio, que coisa mais bonita! Li três vezes. Muito obrigado!

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  2. Qué bonito Márcio!!!Nossa... viajar abre ainda mais o caraçao e a poesia atravessa a mente toda:) As vezes os muros nao estao ai mesmo ne?! é verdade... adorei! Beijos e Córdoba aguardarà sempre por vc!

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