sábado, 20 de abril de 2019

Quando uma homenagem ultrapassa os limites de homenagem


Geraldo Phonteboa
Cadeira n.º 14 


Meu pai, assim com toda pessoa, possuía algumas características que o tornava único. Dentre estas características uma era para mim marcante: o silêncio. Não um silêncio de ausência, distanciamento, não. Seu silêncio era de uma presença tão forte e marcante que nos forçavam a falar qualquer coisa... Era uma coisa absurda. O silêncio de meu pai dava importância e sabedoria à meu pai. E esta sabedoria transbordava quando abria a boca para falar alguma coisa. Nesses momentos que ficava em silêncio era a gente, só para ouvi-lo. E fala serenamente, de tom baixo e vagarosamente, como se cada palavra tivesse um sabor único que ele precisava sentir em sua boca.
Foi pensando nisso que depois que o silêncio de meu pai tornou-se eterno consegui expressar esta sua característica em forma de poema e lhe rendi esta homenagem... mas a homenagem ganhou outras dimensões, de modo particular depois que minhas irmãs e irmãos a conheceram e leram... Uma de minhas irmãs, ao terminar de ler o poema, já com lágrimas correndo sobre a face, olhou para mim e disse: Papai está aqui... pude sentir o seu silêncio... obrigado! Depois disso o poema não saiu mais de sua vista, está lá preso ao lado da geladeira por um imã.

O Silêncio de meu pai

O silêncio de meu pai
Era repleto de significados...
Estava ali do meu lado
Por um longo tempo
Sem pronunciar som algum
E como comunicava...

O silêncio de meu pai
Ocupava todos os espaços de meu ser
E provocava em mim reações descabidas
E eu insistia em falar...
E não ouvia plenamente
O silêncio de meu pai.

O silêncio de meu pai
Era uma pausa no barulho do mundo
Era uma busca de um novo sentido
De um novo momento
De um no pensamento.

O silêncio de meu pai
E, agora, eterno.
E então, percebo
Que meu pai tornou-se esterno
No próprio silêncio
Que era o silêncio de meu pai.

No silencio de meu pai
Calo-me.

Um comentário:

  1. Prezado Fonte Boa.
    Parabéns e obrigado por compartilhar conosco este "silêncio" que elucida e nos faz falar, ainda que pouco, diante da beleza nele materializado.
    Fraternal abraço.
    Prof. Arnaldo de Souza Ribeiro
    Presidente da Academia Itaunense de Letras - AILE

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