Geraldo
Phonteboa
Cadeira n.º 14
Meu pai, assim com toda
pessoa, possuía algumas características que o tornava único. Dentre estas
características uma era para mim marcante: o silêncio. Não um silêncio de
ausência, distanciamento, não. Seu silêncio era de uma presença tão forte e
marcante que nos forçavam a falar qualquer coisa... Era uma coisa absurda. O
silêncio de meu pai dava importância e sabedoria à meu pai. E esta sabedoria
transbordava quando abria a boca para falar alguma coisa. Nesses momentos que
ficava em silêncio era a gente, só para ouvi-lo. E fala serenamente, de tom
baixo e vagarosamente, como se cada palavra tivesse um sabor único que ele
precisava sentir em sua boca.
Foi pensando nisso que depois
que o silêncio de meu pai tornou-se eterno consegui expressar esta sua característica
em forma de poema e lhe rendi esta homenagem... mas a homenagem ganhou outras
dimensões, de modo particular depois que minhas irmãs e irmãos a conheceram e
leram... Uma de minhas irmãs, ao terminar de ler o poema, já com lágrimas
correndo sobre a face, olhou para mim e disse: Papai está aqui... pude sentir o
seu silêncio... obrigado! Depois disso o poema não saiu mais de sua vista, está
lá preso ao lado da geladeira por um imã.
O Silêncio de meu pai
O silêncio de meu pai
Era repleto de significados...
Estava ali do meu lado
Por um longo tempo
Sem pronunciar som algum
E como comunicava...
O silêncio de meu pai
Ocupava todos os espaços de
meu ser
E provocava em mim reações
descabidas
E eu insistia em falar...
E não ouvia plenamente
O silêncio de meu pai.
O silêncio de meu pai
Era uma pausa no barulho do
mundo
Era uma busca de um novo
sentido
De um novo momento
De um no pensamento.
O silêncio de meu pai
E, agora, eterno.
E então, percebo
Que meu pai tornou-se esterno
No próprio silêncio
Que era o silêncio de meu
pai.
No silencio de meu pai
Prezado Fonte Boa.
ResponderExcluirParabéns e obrigado por compartilhar conosco este "silêncio" que elucida e nos faz falar, ainda que pouco, diante da beleza nele materializado.
Fraternal abraço.
Prof. Arnaldo de Souza Ribeiro
Presidente da Academia Itaunense de Letras - AILE