sábado, 26 de dezembro de 2020

Noite Misteriosa (O Natal na visão dos galos)

 Conceição Cruz
Cadeira n.º 4




- Vamos filhotes! 


Já é hora de dormirmos!


-Avô Bernardino, conte mais uma vez para gente a estória  da noite misteriosa! Fala Ray, alçando vôo para o último degrau do poleiro, perto do avô.


- Por que temos que dormir tão cedo, junto com as galinhas, vovó? Sim? Noite misteriosa? Cacareja Mou.


- Noite misteriosa? 

Diz a garnizé Ró enquanto cruza as suas asinhas.


- Noite misteriosa? Pensa a outra, Sony, piscando os olhinhos…


- Ah, sim! Noite misteriosa! Cacarejando forte a vovó Concê.


- A Bisa nos contou que nossos antepassados viviam soltos, campos e fazenda afora! 

E que aquela noite mudou a nossa estória!


- Como assim? Perguntou Zek.


- Antes, fala Jujuk, nas festividades, éramos o prato principal!


- Fale mais baixo!

- Calma, Vinik! 


O vovó já vai contar para vocês e explicar o motivo de dormirmos tão cedo! 


Por questão de lógica, quem dorme cedo, acorda mais cedo!


E todos começaram a rir!


- Muito bem!

Antes, tudo era silêncio! 

As aves foram criadas e não falavam até que…


- Como assim, vovô?


- Sabe,  Aparek: apenas os homens falavam!


- Que estranho, não é vovó?


A vovó, estendendo as asas: penso  como vocês, meus netinhos!


Como assim? 


Não dá nem para imaginar as manhãs sem a cantiga dos galos! 


E sorri!


- Mas, um dia, tudo mudou, prosseguiu o vovô Bernardino. 


Era uma noite de verão.  


Quando o sol se foi, o nosso tatatatataravô, chamado Idelfonso preparou-se, sossegadamente, para dormir. 


Agrupou todas as galinhas e filhotes perto de si. 


Como era costume, ele dormia cedo e acordava em plena noite para fazer a sua contagem de todas as estrelas do céu.


- Ele conseguiu?


- Sabe querida Veronik: no meio da contagem, como sempre, exausto, ele dormiu. Há uma infinidade delas...


Mas, ele viveu uma noite como nenhuma outra!


De repente, ele acordou com o brilho enorme de uma estrela bem pertinho da terra!


- E aí, vovô?


- A estrela sorria e apontava para um local. 


E tudo era silêncio... 


E o nosso tatatatataravô queria saber o que estava acontecendo…


Ele subiu a montanha e viu o menino Deus na manjedoura, perto de seus pais e de outros animais. 


Ele olhou para o alto e ouviu o coro dos anjos. 


Ao longe, viu os Reis Magos, chegando um a um, com presente para o Rei Menino.


Tudo era luz, muita luz! 


A noite parecia dia!


(Naquele momento, todos os garnizés acocoraram-se mais pertinho do vovõ Bernardino, pois ele estava muito emocionado).


Um dos anjos ordenou a Idelfonso:


- Vá, guardião do céu!

Todas as madrugadas, virei despertá-lo. 


Você será o arauto da Boa Nova sobre  toda a face da Terra: levará esperança e alegria!


- O que é arauto? 

Cochichou Celik ao ouvido de Gegê.


- Anunciador da Boa Nova!


O vovô acenou com a cabeça e disse:


- Imediatamente, ele começou a cantar!


Os galos da redondeza, ouviram maravilhados e começaram a pensar:


- Idelfonso? O que você disse?


- Cocoricó! Jesus nasceu!


O outro galo ouviu, Zelixandre, inundou-se de esperança e de alegria e também cantou!


Os galos distantes acordaram com tamanha claridade, pensando que já era dia!


- Uai, vovô! Mas não era noite?


- Sim, queridos netinhos! 


Um galo cantava feliz! 


A mensagem chegava ao outro, que também ficava radiante de felicidades e de esperanças… 


Para esclarecer que ainda era noite, quem ouvia a notícia e que também ficava feliz, cantava assim:


- Cocoricó! 

Noite. Feliz.

Jesus nasceu! 


Observem bem! 


Hoje em dia, para reviver aquele momento, todo galo desperto pela luz, toda manhã, tem seu ritual: ele sempre fecha os olhos ao cantar! 

Primeiro, ele sente e vê a Luz!

Inunda-se de alegria! 

De esperança!

Ouve o canto do outro!

Nasce, de novo, no seu coração, a vontade de levar a Boa Nova a todos…

E aí, ele replica o canto ouvido e que também está dentro de si, de cor:


- Noite feliz! Jesus nasceu!


- Sabem por que, filhotinhos? Pergunta a vovó.


- Talvez seja para que o homem permita que a Boa Vontade frutifique nos seus corações e em suas ações!


Replica o vovô!


- Agora, vamos dormir? 


Daqui a pouco, estará na hora de irradiarmos a alegria e a esperança de um novo dia! 


- Ou melhor, vovô ...


Era...

Noite Feliz! 

Cocoricó!

Jesus nasceu!


E assim, cantaram todos juntos, em bom "galonês", uma bela e suave sinfonia!

________________________________
Ilustração: https://www.gratispng.com/



12 comentários:

  1. Conceição, como sempre me encantando com sua doçura para escrever!!!!!

    ResponderExcluir
  2. Nossa, fiquei encantada 🥰🙏🏼😢

    ResponderExcluir
  3. É a magia de Natal! Jesus Nasceu! Aleluia!
    Elimara

    ResponderExcluir
  4. Curtimos está linda história de Natal com nossos filhos, momento único, gratidão pela mensagem tão singela,o menino Jesus sempre nos traz muita esperança 🙏

    ResponderExcluir
  5. Que a magia do natal nos traga esperança de um novo ano melhor.

    ResponderExcluir
  6. Parabéns Conçeição... Genial o texto... nos faz lenbrar a infância... lá em São José da Varginha(terra querida).

    ResponderExcluir
  7. Poxa Conceição !...
    Valeu a pena reviver esse tempo ...era isso mesmo!
    A gente....principalmente nossa família sentia que éramos o próprio Presépio!
    Quantas recordações!...
    Muito obrigada minha querida irmã!

    ResponderExcluir
  8. Parabéns, Conceição! Quem nunca ouviu este cocoricó perdeu a beleza de um amanhecer. Grande abraço

    ResponderExcluir
  9. Brilhou cunhada mais uma vez, lindo poema de Natal!

    ResponderExcluir
  10. Quando ouvir o galo cantar, vou me lembrar desta estória!

    ResponderExcluir
  11. Cada estória, um belíssimo poema! Parabéns, Ceicao Cruz.

    ResponderExcluir

Os comentários neste blogue são moderados.