Aqui estamos nós
Mais uma vez
Entre caixas, caixetas e caixões
Embalando nossas lembranças
Nossas memórias, casos e histórias
Como é fria a mudança
Fragiliza a esperança
Corrói nossas bases
Atropela nossa vida
Nos expõe à rua alheia
Até a escada nos detém
Impede a passagem do guarda-roupa
Do sofá, do fogão a gás
Perdeu-se já nossa identidade
Nosso lar, nosso cantinho
Pelas alamedas sem flores
Vão nossos móveis
Nossas plantas
Nossa cama de casal
O criado-mudo, o guarda-louça
A mudança
Quebra nossos vidros
Rasga nossos lençóis
Extravia nossas bugigangas
Nossas fotografias de viagens
Arranha nossos discos de vinil
Nossos quadros escolhidos
Nossos presentes de casamento
Minha caixa de enxoval
Pelas curvas e esquinas
Sobre os paralelepípedos e quebra-molas
Segue o caminhão
Sem cuidado, sem carinho
Sem saber que ali
Sobre as tábuas frias da carroceria
Seguem vidas rumo a um destino incerto
Porém, fiéis à suas sinas.
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