sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cores e Dores *


                                          
                                  Terezinha Pereira


A tela. Branca. Pura. Imaculada.
Instilar letra por letra na tela. Macular........
Dizer de quê por cima do branco?
Branco de paz, pureza, perfeição, limpeza,
simplicidade,  inocência, singeleza.

Vem o cinza quase negro. Cor da escrita.
Do lápis. Da fonte de letras.
Cinza é meio termo. Nem branco nem preto.
Mancha o branco da tela.
De branco. De preto.

O cinza revela. Desvela. Delata. Denuncia.
Declara. Divulga. Faz conhecer.
Registra. Faz história.
Narra histórias. Conta.
Romanceia. Finge. Simula.

O preto. Ausência de luz.
Gato quando preto. Azar. Obscuridade.
Junção de todas as cores.
Ausência de luz. De cores.
Luz. Não luz. Não cor. Luto.

Em agosto.
O verde das matas,
o verde dos matos fazem-se cinza.
Poeira pura. Puro pó. Fuligem.
O ar não tem cor.

O ar. Leva cor?
Poeira. Fumaça. 
Estrume de indústria. Estrume de queimada.
Cinzeiros. Grafite. Cor de pedra de lápis. Cinzento.
Cinzado. Acinzentado.  Acinzado.

O sol vem de amarelo. Laranja. Vermelho.
Energia. Força. Potência. Luz amarela. Douro.
Ouro fogo. Ouro cobiça. Ouro do triunfo. Brilho.
Amarelo ovo. Girassol. Ipê de agosto,
de meu gosto. Dá gosto, em agosto.

Cores. Cores puras. Vermelho amarelo azul.
Amarelo com azul fica verde.
Vermelho com amarelo, laranja.
Azul com vermelho violeta.
Azul. Fria cor. Do mar e do céu. Marazul.
 
Céu tintado de vermelho em agosto.
E. Na tela que esteve branca,
eu disse de cores.
De dores.
De amores.

* ou: Vestígios na tela branca, versão 2

2 comentários:

  1. Que beleza, Terezinha! Cores e sensações... Muito bom! Ontem mesmo a palavra "Douro" me veio também em um poema, sem eu ter lido o seu. Interessante.

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