GRAVIDADE
Vi você saindo de sua órbita, planeta aventureiro. Na
verdade estendia sua trajetória, talvez para mover-se aos confins do universo –
caso fosse possível contemplar os seus limites. Os astrofísicos explicariam
pela atração gravitacional irresistível de uma estrela brilhante, meio
distante, mas sabe lá que outras misteriosas forças regem essa trajetória, que
se alarga até essa estrela incomum, para retornar à órbita de outra estrela,
tão mais conhecida. Aqui, onde estamos, tudo é reconhecível, tudo segue seu
destino cósmico, rodeando a estrela-mãe que, no entanto, não emite as
frequências que mais lhe agradariam. Pena que em torno dela haja tantos
planetas inóspitos e desabitados, satélites hostis (ou incompreendidos) e
outros astros que, embora próximos, não lhe parecem atraentes ou seguros. Há
cometas, visitantes esporádicos que nos alegram com sua passagem sempre
luminosa e espetacular. Haveria muito a explorar, mesmo neste pequeno mundo
aparente. Compreende-se, no entanto, a sua angústia de dividir espaços com
alguns planetas quase vazios e sem cores, de não poder enxergar de uma certa
distância, porque você está dentro e tudo está em suas programadas órbitas. Agora
você mudou seu movimento, indo mais além e voltando - uma volta de penas,
dividida, que não faz par com as alegrias e expectativas luminosas de uma ida
feliz, vigiada por inumeráveis constelações distantes, habitantes polimorfas do
negrume do cosmos. Há riscos de colisão com os asteróides, de ter pela frente a
atração mortal de um buraco negro, mas nada disso importa, diante das forças
livres do universo. Lá em algum lugar, a visão de uma estrela cadente lhe
inspira desejos, como a lembrar do acaso, da imprevisibilidade e da finitude. E
você segue, em suas revoluções. Um pouco mais além, de novo nossas órbitas se
cruzarão, como agora acontece em intervalos maiores. A energia trocada neste
espaço comum alterará nossas condições climáticas. Essa influência recíproca
ficará guardada numa memória universal, mas cada um seguirá por aí, orbitando e
sonhando. Saudade...
Maravilha o novo blog, Parabéns!!!!
ResponderExcluirDo texto, se macro ou microcosmo...se extraterreno ou urbano...registro ou metáfora, tudo fica possível ao leitor...fico com a metáfora e a órbitas possíveis. Adorei e aguardo outros! Rita
Muuuiiiito Bom este conto, Márcio. Inovou geral!
ResponderExcluirParabéns.
Abraço,
Terezinha